Ciúme e quatro demissões do Fla. Razões do ataque de Luxa a Jesus
Luxemburgo fez questão de dizer que Jorge Jesus 'largou' o Flamengo. Justo ele, especialista em largar clubes. Foi puro ciúme do sucesso do português
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"O treinador cismou de ir embora no meio do caminho."
"Largou."
"É um treinador estrangeiro, mas, se fosse brasileiro que tivesse feito isso aí, a porrada hoje seria tamanha."
"Seria porrada a todo momento."
A declaração de Vanderlei Luxemburgo, técnico do Palmeiras, sobre a saída de Jorge Jesus do Flamengo, é pura frustração.
Mirrado, magro demais, ele começou sua carreira como jogador no Botafogo.
Seus documentos falsos diminuíam a idade em três anos.
Ou seja, ele tinha 16, mas jogava com os meninos de 13.
Depois, conseguiu ir para o seu time de coração, o Flamengo.
Chegou com 19 anos, mas como era 'gato', conseguiu jogar com juvenis de 16 anos.
Chegou até a defender a seleção brasileira de base, com documentos falsos, que só seriam descobertos em 2000, na CPI da Nike, quando já tinha 48 anos. Reais.
Foi bicampeão de Cannes, com a seleção de novos, em 1973 e 1974.
Luxemburgo disse que foi seu pai quem falsificou sua documentação.
Mas o que importa é o seu amor ao Flamengo.
Jogou na Gávea oito anos. A maioria deles como reserva. Foi para o Internacional e depois encerrou onde começou, no Botafogo.
Foi um lateral esquerdo medíocre.
E sempre com três anos a menos na carteira de identidade.
Negociava carros, quando se aventurou de novo no futebol, desta vez como auxiliar técnico. Se descobriu um ótimo treinador.
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E partiu para o seu sonho.
Dirigir não a seleção brasileira.
Mas o Flamengo.
Abandonou seu primeiro trabalho relevante, campeão paulista de 1989 com o Bragantino.
Se considerava pronto para o Flamengo, em 1991.
Não durou um ano, demitido sem piedade, depois de um trabalho fraco.
Inexperiente, foi engolido pela pressão de um clube que estava se reestruturando.
Largou, verbo que gosta de usar, o Palmeiras da Parmalat, no auge, para assumir o 'seu' Rubro-Negro de coração.
O ano era 1995.
Desta vez, mais rodado, cinco anos mais velho.
A expectativa se transformou em fracasso.
Encontrou pela frente Romário e o jogador não se dobrou às suas ordens. A relação caótica foi vencida pelo atacante. Técnico foi forçado a se demitir.
Luxemburgo retornaria 15 anos depois, apenas. Em 2010. Fechou contrato de dois anos. Seu projeto era conquistar a Libertadores, torneio que jamais conseguiu na sua longuíssima carreira.
Seu projeto naufragou.
Em vez de Romário, encontrou Ronaldinho Gaúcho. Mesmo com o maior talento do time se esbaldando em noitadas, o time foi campeão carioca em 2011. Mas os problemas se acumulavam, principalmente financeiros.
Luxemburgo entrou em rota de colisão com Ronaldinho, que se recusava a entrar em campo sem receber. O vice de finanças, Michel Levy, também não admitia as cobranças públicas do treinador e virou enorme inimigo.
O treinador jamais conseguiu fazer o time jogar o futebol ofensivo, vibrante, que prometia. O Flamengo caiu nas oitavas-de-final da Libertadores.
Novo fracasso, nova demissão.
Luxemburgo voltou em 2014, quando o time estava mal, ameaçado de rebaixamento. O técnico conseguiu fazer a equipe escapar da segunda divisão, mas não do fraco futebol.
Perdeu o Carioca e logo na terceira rodada do Brasileiro, com o clube conseguindo um ponto só, foi despachado. Ou largado.
Uma, duas, três, quatro demissões.
Luxemburgo sabe.
A imprensa carioca e a torcida do Flamengo não dão 10% de reconhecimento a ele em relação a Jorge Jesus.
Não deixou a menor saudade.
De nada adianta o propagado amor do técnico do Palmeiras ao clube da Gávea, a ponto de dizer querer ser seu presidente.
Não é porque Jorge Jesus é português que a imprensa brasileira não está 'descendo a porrada' no treinador.
É porque a relação é profissional.
Luxemburgo deveria saber.
Ele já 'largou' o Bragantino para assumir o Flamengo.
A Ponte Preta para comendar o Palmeiras.
O Palmeiras para voltar ao Flamengo.
O Paraná para retornar ao Palmeiras.
O Palmeiras, o encaminhando para o rebaixamento, para assumir o Cruzeiro.
O Santos para assumir o Real Madrid.
E o Vasco para assumir o Palmeiras.
Quem é o especialista em largar clubes na mão?
A frustração e o ciúme do Flamengo falaram mais alto.
Luxemburgo não conseguiu superar.
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