Bastidores da saída de Cássio do Corinthians. A mágoa foi incontornável. Cruzeiro contrata seu melhor goleiro na história
Com todo apoio da família, dos companheiros de time, do técnico António Oliveira, Cássio disse não à insistência da direção, que não queria sua saída. Mas foi firme. Aceitou zerar a dívida que o clube tinha com ele. E vai para ser o maior goleiro já contratado pelo Cruzeiro
O Corinthians fará amanhã uma grande encenação.
Ela terá horário para começar.
Ao meio-dia.
Com direito à discurso de despedida, agradecimentos.
Palmas de membros da direção.
De chefes das organizadas.
Abraços.
Talvez uma placa, uma imagem, uma pequena estátua.
A promessa de um busto.
A postura teatral será do clube.
Cássio será sincero, como sempre.
As lágrimas do adeus, depois de 12 anos, virão, com toda a certeza.
Estamparão páginas iniciais de portais, estarão nas telas de tevê.
Serão descritas, com emoção, pelas rádios.
Mas a verdade é que há muita mágoa nesta saída de Cássio.
O jogador não suportou mais a falta de apoio da atual direção.
Honrar sua postura de capitão, dando entrevistas após as derrotas mais constrangedoras.
Depois dos três anos de fracassos na administração Duílio Monteiro Alves, sem um título, a de Augusto Melo começa assustadora.
Com o clube não se classificando na fase de grupos do Paulista.
A pressão se acumulando e o clube já não tinha Renato Augusto, Gil, Giuliano e Fábio Santos.
Cássio era o último dos líderes.
A derrota para o Argentino Juniors, na Argentina, foi a gota d’água.
O goleiro desabafou e confirmou que estava indo para psicólogos, tentando escapar da depressão, da cobrança que se impunha, pelos fracos resultados do time.
Assumir a responsabilidade, se colocar à frente do elenco, como um capitão de caráter faz, custou caro demais.
Ameaças anônimas a ele e à sua família se acumulavam.
A diretoria sabia e nada, de efetivo, fez para blindá-lo.
Seguiu exposto de maneira constrangedora.
Os comentários de que o goleiro seria o responsável pelos fracassos não eram respondidos pelos dirigentes.
Pelo contrário, eles sentiam ter um enorme escudo.
A pressão da mídia também pesou para o presidente Augusto Melo, que mostra a cada dia sua imaturidade no comando do clube.
A postura de imediatistas exigindo Carlos Miguel, que impressiona mais por seus dois metros e quatro centímetros do que por suas defesas, atingiu em cheio Melo.
E mesmo o treinador António Oliveira, que decidiu, em vez de dar apoio, deu ‘descanso’ a Cássio.
Ou seja, colocá-lo na reserva.
Na conversa com o treinador, o maior goleiro da história corintiana só concordou.
E deixou claro que não iria protestar, apoiou, de maneira leal, Carlos Miguel.
Só que, até com a ajuda de ex-companheiros do Corinthians, entendeu sua situação.
Virou o bode expiatório.
Tudo que estava acontecendo de errado no clube era sua culpa.
E, por isso, se transformou em mero reserva.
O banco era o seu lugar ‘para descansar’, de acordo com António Oliveira.
Para crescer ainda mais a mágoa, a indignação de Cássio, o clube devia dinheiro para ele.
Cerca de R$ 5 milhões em salários e direito de imagem.
Foi quando o executivo Alexandre Mattos viu a oportunidade.
Muito próximo do empresário do jogador, Carlos Leite, ele queria saber se o goleiro queria ir para o Cruzeiro.
Ofereceu um contrato com salário maior que os R$ 800 mil que recebe no Parque São Jorge.
E três anos de compromisso.
Cássio aceitou.
Augusto Melo, que já havia oferecido a Carlos Leite, a renovação por um ano, tentou negociar.
Oferecia dois anos de compromisso.
O goleiro não quis nem discutir.
Já estava acertado com o Cruzeiro, havia dado sua palavra que iria embora.
Mesmo tendo contrato com o jogador até dezembro, sete meses mais, Melo não conseguiu argumento para segurar o goleiro.
Ele aproveitou para combinar que a dívida de R$ 5 milhões estava perdoada.
O Corinthians deve mais de R$ 10 milhões a Carlos Leite.
E houve uma negociação entre o empresário e o presidente.
O valor do novo perdão não foi revelado.
Mas tudo foi fechado.
Cássio não desabou emocionalmente, como havia pensado.
Tudo que aconteceu com ele foi absolutamente decepcionante.
Os 12 anos, os nove títulos, as 712 partidas foram deixadas de lado.
Assim como a responsabilidade pela conquista inédita da Libertadores.
E do bicampeonato mundial.
Os dois Brasileiros.
Quatro Paulistas.
A Recopa Sul-Americana.
Cássio foi tratado como um jogador qualquer.
Daí a sua firmeza no vídeo que gravou, ‘de despedida’.
O Corinthians perde um ídolo de maneira inacreditável.
Seu líder.
Por falta de apoio, de visão dos dirigentes.
Sorte do Cruzeiro.
Terá um goleiro de altíssimo nível, a baixo custo.
Porque tudo o que ele deseja na vida é paz.
E ela não existia há muito tempo no Parque São Jorge.
Pelo contrário.
Cássio não passava de um bode expiatório...
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