Alcoolismo, depressão, síndrome de pânico. O inferno de Centurión, ex-São Paulo. 'Cansei de viver'
Aos 29 anos, uma das grandes revelações do futebol argentino está em depressão. Afastado do Vélez, por alcoolismo, não sabe o que fazer. No São Paulo ele já era problemático
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Cansei de viver.
"Principalmente dessa maneira.
"Foi por esse motivo que decidi sair do trabalho que me deu tanta felicidade.
"Nem eu mesmo me aguentava."
Depressivo, dominado pelo álcool, Centurión chocou a muitos, com seu relato corajoso e sincero em Buenos Aires, nesta semana.
Mas, infelizmente, não no São Paulo.
Funcionários do clube lembram bem quanto foi problemática a passagem do atacante entre 2015 e 2017.
O jogador foi um "presente" do milionário Vinicius Pinotti. Ele pagou R$ 20 milhões ao Racing. O atacante chegou com a fama de driblador, velocista, artilheiro. Foi uma grande decepção.
Além de ele não conseguir se firmar em campo, seu comportamento chamava muita atenção.
Egocêntrico, fechado, irritadiço e sempre disposto a aproveitar as noites brasileiras. Dançando e bebendo.
Não admitia cobranças, era problemático.
Viajava em excesso para a Argentina. Não fazia questão de se adaptar, se enturmar.
Seu desempenho em campo foi decepcionante.
E, em vez de lutar para recuperar a posição de titular, se mostrava disperso nos treinamentos. Deixava claro que não queria ficar no São Paulo, que estava arrependido de ter vindo para o futebol brasileiro.
Seu grande desafogo era a avó, que o criou, e a namorada Melissa.
Logo se tornou um grande problema. Passou a deixar o ambiente no clube pesado, falando com cada vez menos pessoas.
A direção do São Paulo decidiu se livrar dele.
E o emprestou para o Boca Juniors, que havia acabado de perder Carlitos Tévez.
"A camisa 10 caiu muito bem no Centurión. Tenho certeza de que ele ainda dará muitas alegrias para o torcedor do Boca, caso ele siga no clube", palavras de Diego Maradona, quando o clube argentino trouxe o jogador do São Paulo.
Outra vez a decepção foi sua companhia. Além de não jogar bem, foi acusado de agredir Melissa Tosi.
"Ele me bateu. Perdi três dentes. Estava embriagado. O álcool ainda vai acabar com sua carreira", desabafou a ex-namorada Melisa.
O caso foi muito explorado pela imprensa argentina. Centurión escapou da prisão.
Mas seu problema com o alcoolismo foi revelado.
O Boca não quis seguir com ele e o São Paulo o vendeu, com prejuízo, para o Genoa. A dívida foi paga a Pinotti em prestações.
Na Itália, também foi um fiasco. Ficava fazendo lives durante a madrugada, regado, segundo ele, a mate, para ficar acordado. Situação bizarra.
Foi emprestado para o Racing. Na Argentina voltou a jogar bem, dizendo que havia retomado a paixão pela carreira. Foi um dos 35 jogadores pré-convocados por Jorge Sampaoli para a Copa de 2018. Mas não esteve no Mundial da Rússia.
Enquanto isso, engatava um namoro com a modelo Melody Pasini.
Mas, em 2020, o grande choque. Primeiro morreu sua avó, que considerava mãe. E, dias depois, morreu Melody. Ela teve um infarto fulminante, dirigindo um carro. Faleceu aos 25 anos.
"Os golpes foram muito rápidos e, se eu não me levantasse depois de dois dias, acho que terminaria com a minha vida. Mas não era o meu momento", confessou o jogador. Há dois anos já falava em suicídio.
A sua situação atual é aflitiva.
Aos 29 anos ele pertence ao Vélez, que não o deseja junto ao elenco.
Estava emprestado ao San Lorenzo. Foi devolvido, com a imprensa argentina garantindo que o problema foi sua volta ao alcoolismo.
Para deixar tudo pior, mais dramático, Centurión revelou ter crises de síndrome do pânico.
"Aguentei muitas coisas, precisava me afastar, me sentia esgotado, tinha ataques de pânico, precisava sair de tudo, por isso decidi assim", disse à rádio La Red, da Argentina.
O jogador está sem treinar, recebendo. Mas sem perspectivas.
"Pensei que o amor da minha filha me faria esquecer um montão de feridas abertas. O amor de um filho é diferente a outro amor e outras perdas. Mas não posso suportar. Me custa olhar nos olhos da minha filha, que está crescendo.
Desesperado, ele pede um mês para se livrar do alcoolismo, da depressão. E voltar a jogar.
"Hoje, ninguém (nenhum clube) me liga. Claro, um ou dois jornalistas. As pessoas que conheci não me chamam. Você se sente sozinho.
"Se tenho uma oportunidade e começo a treinar, solto tudo de verdade, o vício. É um antes e depois. Não é que não posso deixar o que fiz. Eu posso. Em um mês, estou bem."
O alerta para a situação de Centurión, no Brasil, foi de Tales Torraga, especialista em futebol argentino.
Embora lamentem, funcionários e conselheiros do São Paulo não estranharam.
Sabiam do desequilíbrio emocional do jogador.
Alcoolismo, depressão, síndrome do pânico.
O futebol precisa realmente levar a sério a psicologia.
Quem conviveu com Centurión diz que os sintomas eram claros.
Por que ninguém agiu de verdade?
Porque a preocupação dos dirigentes está no rendimento em campo.
Enxergam o jogador como produto.
Não como ser humano...
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