Adriano, no Corinthians. Vendo tudo o que jogou fora
Aos 36 anos, Adriano foi ao Itaquerão ontem. Diante da ansiedade da imprensa e de torcedores, os dirigentes garantiram. Ele não volta
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

O futebol e a vida são cruéis.
Não costumam dar segundas chances.
Mas ontem nas tribunas do Itaquerão estava um personagem que teve dezenas de chances de recomeço.
Barbado, magro, careca.
De blazer, calça, camiseta e sapato pretos.
No pescoço, uma larga corrente de ouro.
O porte de 1m90 continua impressionante.
Mas os músculos do peito, do braço, do pescoço, não estão mais inchados, quando adorava mostrá-los, sem camisa.
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Despertava suspiros nos torcedores e alvoroço nos jornalistas.
O Corinthians busca no mercado um atacante vivido, artilheiro.
Sondou se havia a possibilidade de trazer Jõ, de volta do Japão.
Ouviu um sonoro 'não'.
Andrés Sanchez, desgastado pelo desmanche e pelo buraco financeiro que provocou com o Itaquerão, fez questão de ter essa figura que foi estrela mundial, ao seu lado.
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Aos 36 anos, Adriano sentiu pela milésima vez tudo o que jogou fora.
Primeiro, a idolatria.
Torcedores imploravam por um autógrafo, uma selfie, um abraço, um aceno.
Jornalistas queriam a entrevista negada.
Depois, o Imperador percebeu quanto prazer jogou fora, desde o dia 4 de agosto de 2004, nove dias depois de ganhar notoriedade ao salvar o Brasil da derrota na final da Copa América do Peru. No último minuto da prorrogação marcou contra a Argentina. Depois, veio a vitória nos pênaltis.

Almir Leite Ribeiro faleceu de enfarte, aos 45 anos. Melhor amigo, conselheiro, parceiro. Seu pai era absolutamente fundamental na vida de Adriano. O filho se esqueceu da bala que Almir carregava alojada na cabeça, que veio, perdida, em uma festa na sua amada Vila Cruzeiro, favela do Rio de Janeiro, onde cresceu e fez seus melhores amigos.
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O milagre de Almir não ter morrido com o tiro se transformou em terríveis dores de cabeça. Acompanhadas pela hipertensão que acabou provocando o infarte fulminante.
Almir era office boy e carregava o sonho de ver o filho jogador de futebol. O máximo que desejava era vê-lo no amado Flamengo. O dinheiro do pai se juntava ao da mãe Rosilda, operária em uma fábrica de roupas. Ela aumentava a renda familiar fazendo faxinas. Sua avó materna, Vanda, saía pelas ruas da favela vendendo doces e churrasquinhos.
O esforço da família era para pagar as passagens de ônibus e lanches para que Adriano pudesse seguir treinando na escolinha do Flamengo. Quando tudo estava dando certo de verdade, já jogando na Itália e se tornando ídolo da Seleção Brasileira, seu pai morreu.
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O mundo desmoronou.
Ele caiu na mais profunda depressão.
Sua força física incrível o fez suportar anos jogando futebol de alto nível. Enquanto era chamado de Imperador pelos torcedores da Inter de Milão, virava noites e noites em farras interminávels. Bebendo até desmaiar.
Em entrevista exclusiva a este blog, que teve repercussão em todo o mundo, distribuída até pelo site da Fifa, Adriano confessou que inúmeras vezes chegava bêbado aos treinos da Inter de Milão e dormia pela manhã. Enquanto os dirigentes diziam que ele estava fazendo 'reforço muscular' aos jornalistas.

Por que a Inter se submetia a isso?
A resposta é do argentino Zanetti, um dos mais representativos capitães que a Inter já teve.
“Quando o Adriano recebeu o telefonema sobre a morte do seu pai, nós estávamos no quarto. Ele bateu o telefone e começou a gritar de um jeito que ninguém poderia imaginar. Isso me arrepia ainda hoje.
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“A partir daquele dia, Massimo Moratti (ex-presidente da Inter) e eu tratamos ele como um irmão mais novo. Ele continuou a jogar futebol, fazer gols e dedicá-los a seu pai apontando para o céu. Mas depois daquele telefonema, nada foi como era antes.
“Uma noite, Ivan Córdoba (zagueiro colombiano da Inter) dividiu quarto com Adriano e lhe disse que ele era uma mistura de Ronaldo e Zlatan Ibrahimovic e perguntou se ele estava consciente de que se tornaria o melhor do mundo. Nós não fomos capazes de tirá-lo do túnel da depressão.
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"Essa foi minha maior derrota no futebol."
Quem conviveu com Adriano entende a frustração de Zanetti. Ele é conhecido por sua generosidade, amizade. Treinadores, dirigentes e companheiros de clubes, o adoram até hoje.
Desde a morte do pai, a depressão o levou ao álcool. As festas intermináveis com mulheres e parceiros de noitadas.
A decadência foi inevitável. Depois de quatro anos, a Inter desistiu de salvar sua carreira. O emprestou ao São Paulo. "Fizemos pelo Adriano, tudo. Ele é uma ótima pessoa, só que não conseguiu reagir", me disse Muricy Ramalho. No adorado Flamengo teve duas passagens.
Veio o fiasco da Roma, com apenas oito partidas e um gol. Atlético Paranaense e seus quatro jogos e um gol. E a ida para o Miami United, dois jogos, um gol e o afastamento do futebol, em 2014.
Só que entre 2011 e 2012, levado por Ronaldo Fenômeno, houve o Corinthians. Para trabalhar com o hoje treinador da Seleção, Tite. Assim como aconteceu com Alexandre Pato, o técnico não havia pedido Adriano. E sua cobrança foi forte, profissional. Exigiu que parasse de beber, farrear e emagrecesse. O jogador não conseguiu.

A gota d'água no péssimo relacionamento foi quando Adriano se negou a se pesar. O que confirmava que não havia conseguido largar as cervejas. A dispensa foi imediata. Tite deixou claro à diretoria. Era ele ou o jogador. O técnico carregava o trauma de ter sido obrigado a suportar Ronaldo Fenômeno gordo em campo. Ele rendia patrocinadores ao Corinthians. Jurou que não passaria mais por aquilo.
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E Adriano foi embora, depois de oito partidas e apenas dois gols.
Seis anos depois, Adriano estava de volta.
Percebeu ontem, no Itaquerão, tudo que jogou fora.
A adoração da torcida, o assédio da imprensa mais forte do país.
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Nos últimos quatro anos, sua esperança de voltar a jogar morre no primeiro sumiço, na primeira festa, na sua adorada Vila Cruzeiro. No primeiro passeio só de bermuda, sem camisa, na garupa de motos de amigos.
"Não, ele não vai jogar no Corinthians. Veio assistir ao jogo contra a Chapecoense, como nosso amigo. Só isso. Não tem nada de volta, não", cortava, de maneira firme, André Sanchez.

Adriano se calava.
Sabia que teve mais este clube nas mãos.
E virou as costas.
Fez o que restava.
Aplaudiu o gol de Romero, que deu a vitória contra a Chapecoense.
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Viu o Itaquerão tremer de felicidade.
Bateu palmas para o esforçado paraguaio.
Situação surreal para quem conheceu seu imenso potencial.
A vida é cruel...
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