São Paulo, Brasil"A CBF é hoje uma grande empresa brasileira, com gestão e resultados na proporção do seu porte. "Chegamos a mais de meio bilhão de reais investido no futebol nacional apenas em 2019. "Se considerarmos os últimos três anos, os valores aportados superam R$ 1,37 bilhão." O discurso inflamado do presidente da CBF, Rogério Caboclo, aconteceu no dia 17 de março, há duas semanas, quando a entidade que controla o futebol neste país divulgou seu balanço. E com receitas de R$ 957 milhões. Fazia seis dias que a Organização Mundial de Saúde havia decretado a pandemia do coronavírus. Caboclo não percebeu as consequências econômicas que teria para o futebol brasileiro. Ele se esqueceu o quanto é frágil a infraestrutura do esporte E lógico que os R$ 957 milhões da CBF seriam vistos como tábua de salvação para o desespero geral, com as partidas suspensa, sem prazo para retorno. Os árbitros foram os primeiros a se mobilizar. E mostrar a absurda situação que vivem. A ex-presidente Dilma Rousseff aprovou decreto que regulariza a 'profissão'. Mas com vetos fundamentais. Como direito a piso, férias e, principalmente, vínculo empregatício com a CBF e Federações. Na prática, são meros prestadores de serviço. Taxa de arbitragem é sinônimo de cachê. Como só recebem quando há jogos, sem exceção, eles estão desesperados. E procuraram a Associação Nacional dos Árbitros, exigindo ajuda financeira da CBF. Isso há cerca de dez dias, quando ficou evidente que os campeonatos não seriam retomados a curto prazo. A imprensa serviu não só para informar, mas para cobrar a milionária CBF. A entidade relutou, mas finalmente cedeu. E ontem, o presidente da Comissão de Arbitragem, Leonardo Gaciba, finalmente quebrou seu silêncio. Confirmou que 479 árbitros terão o adiamento de uma cota máxima. Ou seja, de apenas um jogo. Por exemplo, Anderson Daronco, um dos principais árbitros deste país. Ele é do quadro da Fifa. E ganha em partidas importantes, como final de Copa do Brasil, R$ 5.000,00. Daronco acumulava antes da pandemia, cerca de R$ 50 mil mensais. Muitas vezes até mais. Mas vale reproduzir as taxas de arbitragem do Brasileiro de 2019. Árbitro (Fifa e ex-Fifa), R$ 4.140,00 por partida; arbitro (CBF): R$ 3 mil; assistente (Fifa e ex-Fifa) R$ 2.484,00; Assistente (CBF), R$ 1,8 mil. A CBF adiantará cerca de R$ 1 milhão para 486 árbitros. Sim, adiantará, porque esse dinheiro será descontado dos juízes, quando a pandemia passar. "Um grupo de árbitros trouxe essa ideia do adiantamento da taxa, e essa ideia foi levada ao presidente que estudou e ontem (31) fez o anúncio que será adiantado ao árbitro que faz parte do quadro nacional a melhor taxa recebida o ano passado; 486 profissionais terão esse tipo de aporte. Vai fazer uma diferença muito enorme para a vida deles",disse Gaciba, ao Esporte Interativo. Tanto não é assim, que a CBF disponibilizará psicólogos para terapia individual ou em grupo, para os árbitros, nesse período sem trabalho. "Entre 40 a 50 pessoas serão atendidas por dia", destaca a CBF, no seu site oficial. Mais aulas on line. Além de treinamentos para serem feitos em casa. No futebol brasileiro há a velha hipocrisia. A arbitragem seria a 'segunda' profissão dos juízes de futebol. Mas para a elite, os que trabalham nas principais partidas nunca foi. Daí, a terrível crise que seguem vivendo, apesar do adiantamento. Equipes da Série A e da B, baixam o salário dos seus elencos. Já os jogadores da Série C e da Série D assumem o desespero. Pedem publicamente dinheiro à CBF para os seus clubes, neste período sem futebol. "Nos apresentamos diante da CBF com a intenção de solicitar doação de recursos para os clubes, com destinação exclusiva para manter em dia o pagamento dos salários dos salários e imagens dos seus atletas, a fim de auxiliar, ou ao menos amenizar, os impactos financeiros", diz o abaixo-assinado dos capitães da Terceria Divisão do país. Mas a cúpula da CBF segue calada. O adiantamento aos árbitros é o único movimento aos seus cofres. Jogadores e clubes que se virem. E os árbitros não se esqueçam. O dinheiro não é uma ajuda. Mero adiantamento...