244 milhões de seguidores. Omissão. Morte de Floyd para Neymar
Enquanto ídolos do esporte mundial, como Lewis Hamilton, se posicionam pelo covarde assassinato de Floyd, Neymar posta seu terno cor de rosa
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Eu vejo aqueles de vocês que ficam calados."
"Alguns de vocês são as maiores estrelas."
"E ainda assim ficam calados no meio da injustiça."
"Não há sinal de ninguém na minha indústria."
"Que, é claro,... "
"É o esporte dominado por brancos."
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Hexacampeão mundial de Fórmula 1, Lewis Hamilton, poderia se calar. Se preocupar com a própria fortuna. Se divertir na quarentena.
Mas fez outra opção.
Se expôs.
E cobrou seus companheiros milionários da Fórmula 1.
Mas a cobrança também se encaixa a outros ídolos com tanto poder, mas que preferem a alienação, a omissão.
Dá menos trabalho.
Lewis teve coragem e se posicionou diante da covarde morte de George Floyd, no dia 25 de maio, em Minneapolis, Estados Unidos.
O segurança de um restaurante de 46 anos, desempregado por conta da pandemia, negro, foi acusado de comprar um maço de cigarros com uma nota falsa de 20 dólares, em uma loja de conveniência.
A polícia foi chamada. Na versão dos policiais, Floyd resistiu à prisão. Mas foi algemado. E teria alegado ser claustrofóbico e não queria entrar no camburão.
Foi quando acabou jogado ao chão, aos pés da viatura.
Para imobilizá-lo, o policial branco Derek Chauvin, 44 anos e 19 anos de experiência, fez questão de colocar o seu joelho direito e todo seu peso sobre o pescoço de Floyd.
"Não consigo respirar", dizia.
Por torturantes oito minutos e 46 segundos, ele foi asfixiado.
Três outros policiais que estavam com Chauvin acompanharam o assassinato, impassíveis.
Depois de seis minutos, já estava inconsciente.
Mesmo assim, Derek seguiu com o joelho no seu pescoço.
Por mais dois minutos e 46 segundos.
O matou diante de várias testemunhas.
Em plena luz do dia.
Sem piedade, impassível.
A sangue frio.
Tudo foi filmado por populares.
A polícia norte-americana branca tem histórico de violência contra negros.
A cruel morte chocou o mundo.
E provocou uma terrível onda de manifestações por todo os Estados Unidos. Milhares de pessoas foram às ruas.
Brancos, negros, orientais, latinos.
Um movimento só comparável aos conflitos raciais da década de 60, lutando pelo fim da segregação contra os negros nos Estados Unidos.
Vândalos depredaram viaturas de polícia, saquearam lojas. Destruíram fachadas de bancos.
Policiais foram feridos.
Eles responderam com bombas de efeito moral, tiros de bala de borracha.
E muitos confrontos físicos.
Manifestantes cercaram a Casa Branca. E Donald Trump teve de ser levado para um bunker, uma sala superprotegida, com paredes especiais, para ser usada quando a vida do presidente corre risco. Como em um ataque nuclear.
Pelo menos cinco pessoas foram mortas desde o início dos protestos.
Hamilton logo se posicionou.
Colocou no seu Instagram uma foto de policiais brancos correndo atrás de um negro. E escreveu.
"Vocês são uma desgraça."
Lewis Hamilton tem pai negro e mãe branca.
Michael Jordan, Serena Williams, Jerome Boateng, LeBron James, Rio Ferdinand e vários outros protestaram nas suas redes sociais.
O atacante do Mönchengladbach, Marcus Thuram, filho do ex-jogador francês Lilian Thuram, se ajoelhou no gramado para celebrar um gol, no final de semana. Protesto para lembrar George Floyd.
Hoje, Hamilton colocou no seu Instagram fotos de negros que teriam sido vítimas da polícia branca norte-americana.
Mas e Neymar?
Filho de negro, o maior ídolo do futebol brasileiro opta, até agora, seis dias depois, opta pelo silêncio.
Não se envolve em questões sociais.
Mesmo tendo uma equipe de 30 pessoas para cuidar de sua imagem, é sempre assim.
Diante de algo que mereça a sua voz, seguida por centenas de milhões de seguidores.
São 138 milhões no Instagram.
47 milhões no Twitter.
59 milhões no Facebook.
São 244 milhões de seguidores.
A Hopper HQ publicou que Neymar é o brasileiro que cobra mais caro pela publicação de um post 'patrocinado' nas suas redes sociais.
São 722 mil dólares, cerca de R$ 3,8 milhões.
Tamanho é o seu alcance.
Mas não há nenhuma palavra sobre o assassinato de George Floyd.
Outra vez a omissão.
Quem acessar seu Instagram hoje, dia 1 de junho, vai encontrar uma foto imensa do jogador com um terno cor de rosa.
Imagem que já saiu na revista Vogue, que foi capa.
E a profunda legenda: "Pink".
Mesmo aos 28 anos, demostra seguir fiel ao que pensava aos 18.
Quando foi indagado pelo Estadão.
"Já foi vítima de racismo?"
"Nunca. Nem dentro e nem fora de campo."
"Até porque eu não sou preto, né?"
Esse é o maior ídolo do Brasil.
Um filho de negro.
Neste país de 54% de negros e pardos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Mas Neymar tem mais o que pensar.
Em qual live vai cantar.
Ou a cor de terno que vestirá.
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