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Silvio Lancellotti Copa 2018
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Dia 2: o fulgor de Cristiano Ronaldo e o Irã na liderança do Grupo B

Uma partida sensacional entre Portugal e a Espanha. Com gols em situações de drama, vitórias de "Celeste" e "Iranmilli" sobre Egito e sobre Marrocos.

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti


O CR7: mais que do seu prélio, o homem de todo o Dia 2
O CR7: mais que do seu prélio, o homem de todo o Dia 2

O cardápio do segundo dia da Copa da Rússia ofereceu, nesta sexta-feira, 15 de Junho de 2018, uma interessante sucessão de iguarias na exata ordem que um gastrônomo organizaria. De início, às 9h00 cá no Brasil, uma entrada prometidamente de fácil digestão, o azarão Egito contra o favoritíssimo Uruguai. Daí, às 12h00, uma receita talvez complicada no conceito mas sem uma ameaça de futuras decorrências, o desafio muçulmano entre o Marrocos e o Irã. E enfim, às 15h00, uma sobremesa que, sem dúvida, sozinha, valeria por uma refeição, o duelo da Península Ibérica entre a Espanha e Portugal.

Cúper (hoje no Egito), de costas para Ronaldo (então na Inter)
Cúper (hoje no Egito), de costas para Ronaldo (então na Inter)

Foi primeiro desafio entre os “Faraós” e a “Celeste” na história da competição. E um desafio, curiosamente, com treinadores sul-americanos, respectivamente o argentino Hector Cúper, 61, e o decano cisplatino Oscar Tabárez, 71. Cúper se celebrizou pelas suas brigas com o Ronaldo Fenômeno em seus idos de Inter de Milão, de 2001 até 2003. E por que o favoritíssimo de Tabárez? O Egito não participava da Copa desde a Itália/90, quando caiu num grupo terrível, com Inglaterra, Irlanda e Holanda. Além disso, era dúvida o seu astro Mohamed Salah, do Liverpool, lesionado na decisão da Champions.

Tabárez, num carrinho elétrico e de muletas
Tabárez, num carrinho elétrico e de muletas

Valeu a estrela de Tabárez, cujos problemas de coluna o compelem ao uso permanente de muletas, Uruguai 1 X 0 nos chamados estertores do tempo regulamentar, os 89’. O campeão de 30, em Montevidéu, e de 50, no Rio, não triunfava na sua estreia numa Copa desde os 2 X 0 sobre Israel, México/70, sete edições seguidas da competição, inclusive a derrota humilhante para a Costa Rica, 1 X 3 em Fortaleza, aqui no Brasil. Na Arena de Ekaterinburg, apenas ocupados apenas 27 015 dos seus 33.061 lugares, penou até quebrar o tabu. Cúper poupou Salah e Tabárez usou um onze mais ofensivo, o meia Rodrigo Betancourt, da Juventus da Itália, na função de líbero à frente da sua zaga. De fato a “Celeste” dominou as ações. No entanto, em três ocasiões de gol, o craque Luís Suárez, do Barcelona, desperdiçou de maneira bisonha.

Em 2014, Suárez, o mordedor, e Chiellini, o mordido
Em 2014, Suárez, o mordedor, e Chiellini, o mordido

Suárez ganhou fama por morder os seus marcadores. E em 2014, inclusive, recebeu uma justa suspensão de nove partidas por desferir uma dentada vampiresca no ombro esquerdo de Giorgio Chiellini, da “Azzurra”. Enquanto o Egito especulava através de contra-ataques eventuais, o Uruguai tentava se distribuir, de flanco a flanco, mas não conseguia penetrar entre as três pirâmides da sólida zaga dos “Faraós”. Sem dizer que, até os 89’, brilhava na meta o ótimo arqueiro Elshenawy. Então, quase da bandeirinha de escanteio, Sánchez cobrou uma infração e Giménez, 1m85, testou. Como a Rússia, o Uruguai subiu a 3 pontos no Grupo A, mas saldo inferior aos 5 da anfitriã.

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Gimenez, Uruguai 1 X 0
Gimenez, Uruguai 1 X 0

No combate intermediário do menu, se digladiaram “Os Leões do Atlas” e o “Iranmilli", o Time do Povo”, também num prélio inédito até aqui. No mesmo grupo de Espanha e Portugal, claro, um prélio praticamente fatal ao perdedor eventual. O francês Hervé Renard, 49, no Marrocos desde 2016, já capaz de montar uma defesa muito resistente, apenas um gol sofrido em oito pugnas das eliminatórias da África, se estruturou no tradicional 4-3-3, destinado a explorar mais eficientemente a dificuldade de transição do rival. Pois de fato os “Leões” controlaram a pelota em aproximadamente 2/3 dos 90’.

Em 2011, Queiroz no Irã
Em 2011, Queiroz no Irã

Um treinador globetrotter, recordista, Copa de 2002 com a África do Sul, de 2010 com Portugal, o moçambicano Carlos Queiroz, no comando do Irã desde 2011, apostou nas contraofensivas para livrar o seu time de um estigma: completar a desdita de cinco eliminações na primeira fase da competição e uma única vitória em doze pugnas, 2 X 1 sobre os EUA na França/98. Com a lotação de 64.468 lugares, o espetacular estádio de São Peterburgo atraiu um público quase integral, 62.548. Ótimo, pois se trata, com certeza de um dos palcos magnetizantes do planeta, construído do zero sobre a demolição do Kirov, datado de cem anos antes, na ilha Krestovsky. Estádio de teto retrátil e um piso que se move de acordo com o deslocamento do sol.

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Em 2016, Renard no Marrocos
Em 2016, Renard no Marrocos

Consequência de uma inesperada distração da retaguarda dos “Leões”, o arqueiro Monir El Kajoui se obrigou a um par quase simultâneo de intervenções aos 43’, disparos de Sardar Azmoun e de Ali Reza Jahanbakhsh. No intervalo, o assustado Renard necessitou redespertar o seu elenco. E efetivamente o Marrocos voltou mais agressivo ao tempo derradeiro. Agressivo porém desconjuntado, num excesso de viradas de jogo, lado a lado, sem que isso redundasse em perigo para a meta de Ali Beiranvand. Prevaleceu daí a mediocridade mútua, até eclodir, pela segunda vez no segundo dia, um outro gol de estertores, dramático, 5’ de acréscimos, uma falta cobrada por Karim Ansafard que o azarado Bouhaddouz testou, estilo de artilheiro, rumo à própria meta. Duas décadas depois um sucesso do Irã.

O incrível auto-gol de Bouhaddouz
O incrível auto-gol de Bouhaddouz

Escancarou-se, então, no Fisht Stadium de Sochi, 43.866 pagantes, a arca do tesouro da jornada de número dois da Copa, a “Fúria” diante das “Cinco Quinas”. Um tesouro que subitamente se ultravalorizou por causa de uma crise louca nos bastidores da seleção da Espanha. A meras 48 horas da partida, Luís Rubiales, o presidente da sua federação, demitiu o treinador Joan Lopategui, 51, no timão desde 2016. E com razão. Lopategui havia acertado um novo contrato até 2020 mas, paralelamente, assinara um outro, quase clandestinamente, com o Real Madrid, para o lugar de Zinedine Zidane. Ocorreu um vazamento, Rubiales se enfureceu e imediatamente convocou Fernando Hierro, um excelente ex-craque dos “Merengues”, zagueiro e volante da seleção, diretor esportivo da “Fúria” atual. Como reagiriam os atletas? Estariam desconcertados os eleitos por Lopetegui e sob nova orientação?

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Hierro e Lopetegui, antes da confusão
Hierro e Lopetegui, antes da confusão

Numa única porfia anterior, na Copa do Brasil/2014, na fase das oitavas, a Espanha sobrepujou Portugal, 1 X 0. E também levava uma vantagem generosa na antologia do clássico: em 35 pelejas, 16 vitórias a 6. Havia abiscoitado o título de 2010, na África do Sul. Claro, todavia, xará de Hierro, o lusitano Fernando Santos, 63, treinador do time das “Quinas” desde 2014, planejou se locupletar. Assim como Cristiano Ronaldo, um conhecedor o suficiente das manhas dos espanhóis. Logo no seu primeiro ataque, o CR7 invadiu a área inimiga, pelo lado esquerdo, e se lançou contra Nacho, colega de Real Madrid. Nacho bem que tentou evitar a falta. Não conseguiu. Pênalti apontado por Gianluca Rocchi, da Itália. Aos 4' o R7 bateu alto, no ângulo canhoto, enquanto DeGea, na adivinhação, buscava o canto oposto.

Bola num canto, De Gea no outro, o CR7 1 X 0
Bola num canto, De Gea no outro, o CR7 1 X 0

Ao invés de detonar o ânimo dos recém pupilos de Hierro o gol funcionou como um antídoto. E a “Fúria” resolveu justificar o apelido. Um maestro cada vez mais soberbo aos 33 de idade, Andrés Iniesta conduziu os seus músicos à unidade e à reação. E, aos 24’, Diego Costa, um ibérico nascido em Sergipe, se emaranhou no zagueiro Pepe, um lusitano nascido em Alagoas, e marcou um lindo tento da entrada da área. Havia justiça absoluta no placar. Então, DeGea, arqueiro razoável do Manchester United, pior do que Reina, do Napoli, seu reserva na seleção, aceitou um tiro trivial do CR7 no primeiro peru da Copa.

De Gea, o primeiro peru da Copa da Rússia
De Gea, o primeiro peru da Copa da Rússia

Acontece que graças à competência do Real Madrid, do Barcelona e do Atlético de Madrid, clubes muito bem organizados, a seleção da Espanha dispõe de um farto repertório de lances ensaiados. Aos 55’, na cobrança de uma infração, Iniesta achou o cocuruto de Busquets que encontrou Diego Costa no miolo da área pequena, 2 X 2. Melhor, aos 58’, depois de um bate-rebate diante da meta de Rui Patrício, o atento Nacho se compensou do pênalti cometido e desfrutou uma sobra, das imediações da meia-lua, com um foguete implacável de peito de pé, a Espanha merecidamente, nos 3 X 2.

O momento da ignição do foguete de Nacho
O momento da ignição do foguete de Nacho

Só que na esquadra das “Quinas” existe um craque além de múltiplo, incomum, superlativo, e capaz de enriquecer sem qualquer ajuda, ele, apenas ele, a narrativa todinha de um jogo de Futebol. Aos 88’, Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, 33 de idade, foi chargeado por Piquè, falta, a dois metros da linha da área da Espanha. Claro, o CR7 bateu. Aliás, não apenas bateu, mas encaixou a bola perfeitamente na confluência do travessão com o poste esquerdo do arco de De Gea. Talvez a sua seleção não tenha se demonstrado equivalente à da Espanha. O CR7, porém, foi melhor do que um sonho, uma fantasia, num prélio sensacional, coroado pela sua presença perfeita.

O momento da cobrança perfeita do CR7
O momento da cobrança perfeita do CR7

PS: Parece maluco. O Irã, porém, é o líder do Grupo B.

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