Dia 10: a reação épica da Alemanha e a vistosa classificação da Bélgica
A quinze segundos do final do seu duelo com a Suécia, a "Mannschaft" sobrevive. E o belga-congolês Lukaku vira artilheiro ao lado do CR7.
Silvio Lancellotti|Do R7
Pode-se dizer que a história da Copa do Mundo se divide em duas partes. Uma, ainda incipiente, que nem a FIFA soube organizar convenientemente, do Uruguai/30 até a Suíça/54, as edições sem um conceito e sem formatação. Daí, a partir da Suécia/58, a outra, um início de grupos e um desfecho ao estilo mata-mata. Pois bem, nessa etapa, em quatro ocasiões o campeão anterior, aquele detentor do troféu, empacou nos grupos: o Brasil na Inglaterra/66, a França na Ásia/2002, a Itália na África do Sul/2010, e a Espanha no Brasil 2014. Mas, desde a Suíça, jamais uma esquadra da Alemanha deixou de seguir na disputa. A sua pior colocação foi a sétima no Chile/62 e na França/98.
Na rodada deste sábado, 23 de Junho, a superpoderosa “Die Mannschaft”, ou “A Equipe” tedesca, corria o risco seríssimo de se despedir da competição da Rússia/2018 antes mesmo de os grupos se encerrarem. Bastaria que desabasse sob o peso da vigorosa Suécia (proveniente de um sucesso sobre a Coréia do Sul). E que, bem provável, simultaneamente, o México, já vencedor da Alemanha, repetisse a dose contra a fraca representante do Oriente. Ausência de tensão apenas se esperava da terceira pugna do programa, a favoritíssima Bélgica, que havia detonado o Panamá pelo Grupo G, pegaria a retranqueira Tunísia, que conseguira segurar um resultado de 0 X 0, contra a Inglaterra, até os 90’ de jogo. Favoritíssima, mesmo.
Orientados por Roberto Martinez, um espanhol de 44 de idade, carreira medíocre de meio-campista, basicamente na Inglaterra e no País de Gales, daí um treinador muito mais destacado na Grã-Bretanha, os “Diabos Rubros” se caracterizam pelo estilo aberto e ofensivo e, de fato, aos 16’ do seu prélio já suplantavam as “Águias de Cartago” por 2 X 0, Hazard de pênalti e Romelu Lukako, o tanque descendente de congoleses num arremate de canhota.
A súbita folga relaxou os rapazes de Martínez, aliás, de amarelo e preto ao invés do seu vermelho tradicional. E a Tunísia diminuiu logo aos 18’, levantamento de Khazri e testada de Bronn. Distração da retaguarda da Bélgica, que demorou quase meia-hora até se recuperar, ao menos no placar. Aos 45’ e acréscimos, Meunier lançou Lukaku e o avante provou que dispõe de categoria além de potência. Esperou a saída de Bem Mustapha e encobriu o arqueiro com um toque elegante. Bélgica sossegada, 3 X 1.
Desenvolveu-se protocolarmente a etapa derradeira e os “Diabos” chegaram a perpetrar 5 X 1, aos 51’, graças ao capitão Hazard e ao reserva Batshuayi, aos 90’, ele que, aos 68’, havia substituído exatamente o capitão. Como, nesta Copa, todos os apitadores agem rigorosissimamente no controle do cronômetro, ainda houve algum tempinho para a Tunísia anotar o seu segundo gol, graças ao seu bom meio-campista Whabi Khazri.
Ironia: o primeiro placar de 5 X 2 na longa história da competição ocorreu na Uruguai/30, a Alemanha sobre a Bélgica. Que desta vez já está nas oitavas, e com Lukaku, na artilharia, patamar dos 4 tentos, ao lado de Cristiano Ronaldo. A Tunísia apenas preservará alguma chance caso, neste domingo, 24, o fraquinho Panamá se enfezem enraiveça, destrua o seu próprio Canal e ainda derrube a Rainha Elizabeth II e a monarquia da Grâ-Bretanha.
No Grupo G, apesar de um padecimento inesperadamente intenso, o México de Juan Carlos Osório, ex-São Paulo, favoritérrimo, confirmou a sua razoável superioridade técnica e despachou a Coréia do Sul por 2 X 1. O time de Shin Taeyong que. na sua partida de estreia, em Nizhny Novgorod, não havia desferido um único tiro à meta da Suécia, apareceu reformulado, na escalação e na vontade, no seu segundo e fatal cotejo, agora na Arena de Rostov.
Apelidados de “Os Guerreiros de Taeguk”, os pupilos de Shin deram trabalho aos aztecas, acuaram os rapazes de Osório, até que, aos 26’, o ala Hyunsoo Jang cometesse um pênalti ginasiano, toque de mão depois de aplicar um carrinho inútil na linha de fundo. O arqueiro Jo Hyeonwoo catimbou. De todo modo, assim que conseguiu, Vella cobrou com frieza, México 1 X 0.
Não se alterou o panorama tático da porfia, a Coréia do Sul na pressão estéril e o México a torcer pela contra-ofensiva. Que funcionou impecavelmente aos 63’, numa descida de velocidade, em que os “Aztecas” reprisaram a mesma avançada que havia redundado no seu triunfo sobre a Alemanha. Numa triangulação com Lozano, Chiharito Hernández definiu a classificação. De nada serviu o petardo de Son Heungmin nos acréscimos. Para se qualificar, a Coréia do Sul necessitaria de duas vitórias. Uma, da Alemanha sobre a Suécia, em seguida. E outra, sua, contra a Alemanha, no futuro dia 27.
A porfia fundamental se desdobrou no Olímpico de Fisht, o mesmo estádio em que a “Mannschaft” fulgurou em três jogos da Copa das Confederações de 2017, inclusive a semi na qual devastou o México, 4 X 1. Talvez animada pela paisagem familiar a Alemanha literalmente ignorou as “Ter Kronen”, as “Três Coroas” de Janne Andersson, o treinador da Suécia. Até que, aos 12’, num contra-ataque fulminante, o primeiro no prélio, Marcus Berg invadiu a grande área de Manuel Neuer e recebeu um empurrão de Boateng, claríssimo, ostensivo, que o mediador Szymon Marciniac, da Polônia, e o pessoal do VAR, liderado por Clement Turpin, da França, grotescamente não viram.
Aos 32’, no entanto, Ola Tavoinen, filho de um imigrante finlandês, investiu fogosamente em outro contra-ataque, sobrou sozinho à frente de Neuer e encobriu o arqueiro com um chapeuzinho delicioso, Suécia 1 X 0. Silêncio entre os torcedores da Alemanha, cabisbaixo o treinador Joachim Loew, que apenas se reanimou no intervalo e trocou o desaparecido Julian Draxler por Mario Gomez, bastante exigido pela mídia tedesca. Deu certo, ao menos simbolicamente. Aos 48’, Timo Werner desceu pela esquerda e cruzou, Mario Gomez atrapalhou a zaga, Marco Reus se aproveitou e tocou, de chapa, quase de tornozelo, no cantinho da meta do perplexo Robin Olsen.
No Pugilismo, tal tipo de gol equivaleria a um soco no fígado. Nem sempre nocauteia mas tira o fôlego, solapa, mina a resistência. A Suécia refluiu, a Alemanha cresceu volumosamente. Com Mario Gomez no meio dos beques, Marco Reus pôde recuar e assumir as tarefas de um real armador. Então, aos 82', depois de um carrinho cavalar em Berg, o imprudente Boateng recebeu o seugundo cartão amarelo e acabou expulso. Perigosamente, nocivamente, a Suécia passou a crer que o empate lhe bastaria. Sim, bastaria, mas apenas depois dos 90’ e dos acréscimos eventuais Até o apito final do árbitro precisaria lutar com mais eficiência, resgatar a frieza típica dos nórdicos.
Nada de gelo, todavia. Os derradeiros momentos do combate foram fervilhantes, infernais. Numa testada de Mario Gomez, uma intervenção monumental de Robin Olsen. Um petardo de Brandt no poste. Então, na lateral da área da Suécia, o recém entrado Durmaz cometeu uma infração absolutamente idiota. Kroos rolou a Reus que, de curva, encobriu toda a Escandinávia e colocou no ângulo oposto de Olsen. Desalento das "Três Coroas". A épica "Mannschaft" de volta à contenda. O dia 27 decidirá.
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