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Silvio Lancellotti Copa 2018

A cada convocação, uma nova confusão no elenco da Argentina

Desde Menotti, o campeão pioneiro de 1978, até Sampaoli, o treinador de agora, o enredo das crises e das brigas que só prejudicam a "Albiceleste"

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Menotti, em 1978
Menotti, em 1978

Desde que César Menotti, apelidado “El Flaco”, liderou a seleção da Argentina ganhadora da sua Copa do Mundo, dentro de casa, em 1978, outros onze personagens orientaram a equipe “Albiceleste” até o atual Jorge “El Caminador” Sampaoli. Só mais um elenco platino, porém, levantaria a Taça FIFA, o de Carlos “El Narigón” Bilardo no evento do México/1986.

Bilardo com Maradona, em 1986
Bilardo com Maradona, em 1986

Outros dois grupos de craques amargaram a vice-colocação: o do mesmo Bilardo na Itália/90 e o de Alejandro “Pachorra” Sabella no Brasil, em 2014. No entanto, todos, sim, absolutamente todos, se digladiaram com crises diversas, brigas com os atletas, e brigas entre os atletas, e brigas com os cartolas, e brigas entre os atletas e os cartolas, e brigas entre os atletas e os jornalistas, e brigas entre os cartolas e os jornalistas... Patético, não?

Sabella, em 2014
Sabella, em 2014

Vários eletrodomésticos podem se comparar à seleção da Argentina. Um liquidificador que dispara. Um aparelho de TV que fica sem imagem mas preserva o seu som. Um aspirador que sopra ao invés de sugar. Uma enceradeira que perde um dos discos de flanela e endoidece. Em duas edições da competição eu testemunhei bem de bem perto as peripécias do elenco platino. Juro que corresponderam a essas metáforas.

Uma das Ferraris de Maradona, em 90
Uma das Ferraris de Maradona, em 90

Na Itália/90, por exemplo, desapareceu uma das Ferraris, com placa NA de Napoli, que Maradona tinha guardado em Trigória, pertinho de Roma, onde a Argentina se concentrava. O “Pibe” responsabilizou os porteiros do lugar e quase espancou os coitados. Até que carabinieri interceptassem a máquina num posto de gasolina das imediações, dirigida por Hugo, um irmão de Diego.


A caminho do anti-doping, em 94
A caminho do anti-doping, em 94

Depois, nos EUA/94, assim que se confirmou o resultado positivo do exame anti-doping do craque, ecoaram pelos corredores do Babson College de Boston os berros tanto de Diego como de Cláudia Villafane, a sua então esposa, rompantes de ira contra as ingratidões do universo mas, principalmente, contra Júlio Grondona, o presidente da AFA, a entidade que comanda o Futebol na Argentina, e contra sua mulher, Nélida, que adorava chamar o “Pibe”, nada simpaticamente, de “aquele índio filho da p...”.

Nélida e Júlio Grondona
Nélida e Júlio Grondona

Evidentemente, duas amostras bizarras. Provenientes, no entanto, de um período em que a seleção “Albiceleste” viveu o começo da sua decadência depois dos sucessos de 78 e de 86. Já no México, aliás, havia se iniciado um cisma no grupo de convocados, a batalha de vaidades entre os zagueiros Daniel Passarella e Oscar Ruggeri. O “Pibe” apoiou Ruggeri. Passarella, o “Mocho”, perdeu a posição por causa de diarréias incontroláveis. Por trás dos panos se suspeitou de uma água batizada pelo “Pibe”. E quando Passarella substituiu Álfio “Coco” Basile após a Copa dos EUA, Maradona, embora suspenso pelo seu caso de doping, fez o que pôde para estragar a gestão.


Redondo e os cabelos proibidos por Passarella
Redondo e os cabelos proibidos por Passarella

O “Mocho”, convenhamos, ajudou bastante. Conseguiu se indispor com Fernando Redondo, um cavalheiro, só porque o volante se recusava a cortar bem curtos os seus cabelos esvoaçantes. Logo na sua primeira chamada, o sucessor, Marcelo “El Loco” Bielsa, provocativamente resgatou Caniggia, um desafeto de Passarella. A seleção, contudo, fracassou pateticamente na Copa de 2002, no Japão e na Coréia do Sul. No cotejo em que a Argentina acabou eliminada, ainda na primeira fase, ao se igualar à Suécia, Caniggia realizou a façanha de receber um vermelho enquanto ainda estava no banco.

Caniggia, expulso no banco de reservas, em 2002
Caniggia, expulso no banco de reservas, em 2002

José “Patriarca” Pekerman, assim apelidado pelos três títulos do planeta no comando de juvenis, fracassou na Alemanha/2006 ao se indispor com a Mídia e com os torcedores que exigiam Aimar, Messi e Tevez entre os onze titulares. Enfim o treinador para a África do Sul, em 2010, mesmo realinhado a Grondona e à cartolagem, Maradona peitou o presidente que detestava Ruggeri e impôs o ex-zagueiro na sua Comissão Técnica.


Maradona e a camuflagem da barba, em 2010
Maradona e a camuflagem da barba, em 2010

Sob a sua orientação a Argentina sofreu duas sapecadas humilhantes na fase de classificação, Bolívia 6 X 1 em La Paz e Brasil 3 X 1 em Rosário. Perguntado sobre a razão da barba espessa que envergava, o “Pibe fez charminho até se descobrir que fora mordido na face por sua própria cadelinha. De todo modo, foi à Copa – e claudicou. Nas quartas, desabou diante da Alemanha, 4 X 0.

Batista, o eterno interino
Batista, o eterno interino

Antes do atual “Caminador” Sampaoli o pós-Maradona exibiu quatro senhores. Sérgio “El Jefe” Batista, quase um tampão. Alejandro “Pachorra” Sabella, que atingiu a decisão no Brasil/2014 e segurou a Alemanha até os 22’ da prorrogação mas foi atraiçoado pelo frágil ataque e pela ausência de Tevez, desprezado em exatamente todas as convocações. O despercebido Gerardo “Tata” Martino. E enfim Edgardo “El Patón” Bauza, alcunhado de “técnico do improviso”. Poderá o “Caminador” ser acelerador?

Bauza, o técnico do improviso
Bauza, o técnico do improviso

Pois a “Albiceleste” padeceu bastante para se qualificar à competição da Rússia. Sampaoli apenas assumiu o cargo na 15ª rodada de um global de 18, quando nem a família de Bauza desejava a sua manutenção. E o “Caminador” não salvou a pátria, conforme se esperava e conforme ele havia prometido ao trocar a placidez do Sevilla, Espanha, pela turbulência de Buenos Aires. Só acumulou 6 pontos em 12 disponíveis e meramente abiscoitou a vaga porque rivais como o Chile, o Paraguai e o Peru soçobraram.

Sampaoli, o caminhador
Sampaoli, o caminhador

Eternamente agitada e agressiva, a imprensa da Argentina o acusa de se submeter aos ditames do capitão Messi, que não admitiria qualquer possibilidade de ofuscamento do seu brilho suposto. Por isso, meramente teria incluído, na sua relação, um talento como o de Paulo Dybala, depois de o fulgor do rapaz transbordar no Calcio da Bota. Mas, do outro lado, descartou Mauro Icardi, 29 dos 66 tentos da Internazionale de Milão, o absurdo de 44%, artilheiro do certame da Bota. Na “Albiceleste” o artilheiro, claro, precisa ser Lionel. Pena. Pois a seleção do “Caminador” necessitará de uma ofensiva de fato na Copa da Russia. A sua retaguarda, afinal, é bem fraquinha.

Messi, o verdadeiro dono na seleção
Messi, o verdadeiro dono na seleção

PS: As traduções,com a exceção dos caseiros, de meninice (Coco, Mocho, Tata), e do óbvio Patriarca: Flaco/Magro, Caminador/Caminhador, Narigón/Narigão, Pachorra/Preguiça, Pibe/Garoto, Loco/Louco, Jefe/Chefe, Patón/Pezão.

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