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BRASILEIRO 2022

Fisiculturistas admitem o uso de hormônios e comentam sobre tema

Atletas do Arnold South America fazem alerta para uso 'indiscriminado de substâncias', que no esporte olímpico são consideradas doping

Mais Esportes|André Avelar e Guilherme Padin, do R7

Karím e Henrique tiveram ótimos resultados na edição 2018 da Arnold South America
Karím e Henrique tiveram ótimos resultados na edição 2018 da Arnold South America

Pouco conhecido por boa parte dos brasileiros, o universo do fisiculturismo é visto com muito preconceito no país.

Em entrevista ao R7, atletas de destaque na edição 2018 do Arnold Sports South America, maior competição latino-americana da modalidade, falaram sobre o uso de hormônios e a difícil rotina dos competidores do fisiculturismo.

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São eles Karím Germano, campeã da categoria Body Fitness da competição, e Henrique Azevedo, vice-campeão na Men's Physique, disputada entre amadores.

Proibidos pela Wada (Agência Mundial Antidoping) os hormônios, como a testosterona e agentes anabólicos, são usados com frequência por praticantes — profissionais ou não — da modalidade.


Karím, dona de quatro títulos paulistas, garante que "nenhum atleta de alto rendimento é 'natural'", ou seja, todos os profissionais se utilizam de determinadas substâncias para atingir o sucesso no esporte.

"É hipocrisia falar [que não há uso de hormônios na modalidade]. Não estou aqui para mentir. Eu faço parte desse meio e sei o que acontece", diz ela. 


Para Henrique, o assunto "o preconceito só surgiu pelo uso indiscriminado, com produtos de procedência desconhecida. As pessoas começaram a usar porque o amigo usava, o amigo do amigo falou que dá certo, e por aí vai".

Nenhum atleta de alto rendimento é 'natural'

(Karím Germano)

Segundo o catarinense, "atletas de verdade não usam hormônio dessa maneira (em excesso). Eles usam, sim. Ele (o hormônio) é necessário para chegar naquele aspecto, mas é um uso consciente e com prescrição médica".


Atletas admitem uso de hormônios

"Posso falar por mim. Tenho endocrinologista. Ele é PhD em terapia de reposição hormonal. Tomo única e exclusivamente o que ele indica. Faço exames de sangue a cada três meses. Hemograma completo. E ele indica o que vou usar e o que não vou", conta Henrique.

"Para se ter uma ideia, um dos tipos de testosterona que eu uso, tomo uma injeção a cada sede dias. Tem uma molecada na academia que está usando uma vez a cada dois dias. Outros que usam todo dia. É aí que a pessoa se ferra", explica ele, que completa:

"O preconceito vai acabar quando aumentar o conhecimento sobre isso. O hormônio não é 100% do esporte. Ele é como se fosse o azeite na salada. Quando está tudo pronto, você coloca aquele tantinho a mais que vai dar o sabor especial.

Karím também fala abertamente sobre a utilização das substâncias: "Eu faço uso [de hormônios]. Faço reposição hormonal. Tudo controlado pelo meu médico. Tanto que nunca tive efeitos colaterais. O corpo vai mudar. É óbvio. Até porque estamos forçando ele ao limite."

Ela, no entanto, ressalta que "o que vale é a prudência. Você ser honesto consigo mesmo. Fazer a coisa de acordo com um profissional. [Fazer] sozinho é muita imprudência".

Sobre o preconceito, Henrique acredita que "é complicado as pessoas quererem resumir a uma injeção um esporte no qual você tem que se dedicar 24 horas por dia. Você treina seis ou sete vezes na semana. Acorda cedo. Tem uma dieta restritíssima”.

A preparação e a rotina de Henrique

Henrique, que começou a competir em 2016, explica que seu preparo para uma competição começa meses antes do dia da disputa.

"Costumo escolher três competições grandes no ano. A meta é três. Até porque corpo e mente pedem descanso. Como minha preparação dura três meses, acaba sendo um número certo [de competições] para o ano todo", conta ele, que fala sobre preparo específico para esta edição do Arnold.

"A minha [preparação para o Arnold] começou há 12 semanas. Elevei o consumo de carboidratos bons (batata doce, aipim, etc.) e proteínas limpas (peito de frango, carne vermelha magra, filé de tilápia). Depois dessa fase, quando faltam seis semanas, cortamos as calorias e intensificamos os exercícios aeróbios. São dois por dia. Um deles em jejum. Isso tudo para secar e definir o corpo."

O catarinense conta que come muito pouco neste período, e treina seis vezes por semana e descansa somente um dia. E, mesmo no dia de descanso, realiza um exercício aeróbio em jejum.

Henrique foi vice-campeão entre amadores no Arnold South America
Henrique foi vice-campeão entre amadores no Arnold South America

"Sete dias antes da competição, tiro o carboidrato. Como só filé de tilápia e alface. É um período que também se tira o sódio. Para que o corpo expulse o máximo de água possível.

Na véspera da competição, volto com o carboidrato, para que o corpo absorva todo glicogênio muscular direto para a musculatura, que está vazia de água e glicogênio. Então nada desse carboidrato vira gordura ou açúcar. E vai direto para dentro do músculo", explica Henrique.

O preconceito só surgiu pelo uso indiscriminado%2C com produtos de procedência desconhecida

(Henrique Azevedo)

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No dia da competição, voltamos com o sódio também, faltando três horas para subir no palco. E aí é para terminar de puxar toda água que possa existir e deixar a musculatura bem rígida e densa.

Uma curiosidade também nesses sete últimos dias é o consumo da água. Começo tomando 12 litros no primeiro dos sete dias. Diminuo para dez no dia seguinte, e oito no terceiro dia, seis litros, quatro litros...

Por fim, a partir da meia-noite do dia da competição, corto a água e fico sem tomar nada de líquido até subir no palco.

São três meses de preparo para um shape (forma do corpo) de 30 minutos na disputa da competição.

É uma rotina bem complicada. Tem influência até na rotina da minha esposa. Ela é muito compreensiva e me ajuda demais. Não estaria aqui se não fosse pelo apoio dela.”

Na véspera da competição, Andreza, sua mulher, preparava o filé de tilápia com arroz branco e sem sal.

Karím comenta sobre as dificuldades com a alimentação e a rotina

“Não é sofrimento para eu bater o peso que preciso. Mas a restrição alimentar difícil. Gosto de comer bem", diz a atleta de São Paulo.

"Quando estou de férias, fico com 70 quilos. Para competir, estou com 52, 53 quilos... Então, baixo sem problemas o meu peso. Só que a dieta é bem puxada", reitera.

Karím diz que "neste esporte, você tem que conquistar dia após dia. Todo dia você tem que ter uma frequência definida e uma cabeça boa para buscar sempre a mesma coisa. É mesma alimentação, mesmos horários e mesmos treinos. Então, se não tiver uma cabeça bem sistemática, você não vai conseguir".

Karim foi campeã no Arnold South America
Karim foi campeã no Arnold South America

Sobre o preparo, a campeã explica: "faço três horas de treinamento por dia. Sendo uma de manhã, em jejum, outra à tarde e à noite, em que treino musculação e 40 minutos de aeróbio."

Gustavo Pasqualotto, treinador de Karím, afirma que “ela é um case de sucesso para qualquer um. Já passou por doenças pesadas. Hoje ela se dedica 100% à carreira de atleta. E quando pega pra fazer, não faz uma vírgula errada”.

Doping

Representantes de uma modalidade que irá estrear nos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima, os atletas do fisiculturismo terão de se enquadrar nas regras da Wada para estarem na disputa da competição. 

Isto porque, entre outras substâncias, hormônios como a testosterona e agentes anabólicos compõem a lista de substâncias e métodos proibidos pela organização, que coordena a lutra contra o doping no esporte mundial. 

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