Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Fisiculturistas admitem o uso de hormônios e comentam sobre tema

Atletas do Arnold South America fazem alerta para uso 'indiscriminado de substâncias', que no esporte olímpico são consideradas doping

Mais Esportes|André Avelar e Guilherme Padin, do R7

Karím e Henrique tiveram ótimos resultados na edição 2018 da Arnold South America
Karím e Henrique tiveram ótimos resultados na edição 2018 da Arnold South America Karím e Henrique tiveram ótimos resultados na edição 2018 da Arnold South America

Pouco conhecido por boa parte dos brasileiros, o universo do fisiculturismo é visto com muito preconceito no país.

Em entrevista ao R7, atletas de destaque na edição 2018 do Arnold Sports South America, maior competição latino-americana da modalidade, falaram sobre o uso de hormônios e a difícil rotina dos competidores do fisiculturismo.

Leia também

São eles Karím Germano, campeã da categoria Body Fitness da competição, e Henrique Azevedo, vice-campeão na Men's Physique, disputada entre amadores.

Proibidos pela Wada (Agência Mundial Antidoping) os hormônios, como a testosterona e agentes anabólicos, são usados com frequência por praticantes — profissionais ou não — da modalidade.

Publicidade

Karím, dona de quatro títulos paulistas, garante que "nenhum atleta de alto rendimento é 'natural'", ou seja, todos os profissionais se utilizam de determinadas substâncias para atingir o sucesso no esporte.

"É hipocrisia falar [que não há uso de hormônios na modalidade]. Não estou aqui para mentir. Eu faço parte desse meio e sei o que acontece", diz ela. 

Publicidade

Para Henrique, o assunto "o preconceito só surgiu pelo uso indiscriminado, com produtos de procedência desconhecida. As pessoas começaram a usar porque o amigo usava, o amigo do amigo falou que dá certo, e por aí vai".

Nenhum atleta de alto rendimento é 'natural'

(Karím Germano)

Segundo o catarinense, "atletas de verdade não usam hormônio dessa maneira (em excesso). Eles usam, sim. Ele (o hormônio) é necessário para chegar naquele aspecto, mas é um uso consciente e com prescrição médica".

Publicidade

Atletas admitem uso de hormônios

"Posso falar por mim. Tenho endocrinologista. Ele é PhD em terapia de reposição hormonal. Tomo única e exclusivamente o que ele indica. Faço exames de sangue a cada três meses. Hemograma completo. E ele indica o que vou usar e o que não vou", conta Henrique.

"Para se ter uma ideia, um dos tipos de testosterona que eu uso, tomo uma injeção a cada sede dias. Tem uma molecada na academia que está usando uma vez a cada dois dias. Outros que usam todo dia. É aí que a pessoa se ferra", explica ele, que completa:

"O preconceito vai acabar quando aumentar o conhecimento sobre isso. O hormônio não é 100% do esporte. Ele é como se fosse o azeite na salada. Quando está tudo pronto, você coloca aquele tantinho a mais que vai dar o sabor especial.

Karím também fala abertamente sobre a utilização das substâncias: "Eu faço uso [de hormônios]. Faço reposição hormonal. Tudo controlado pelo meu médico. Tanto que nunca tive efeitos colaterais. O corpo vai mudar. É óbvio. Até porque estamos forçando ele ao limite."

Ela, no entanto, ressalta que "o que vale é a prudência. Você ser honesto consigo mesmo. Fazer a coisa de acordo com um profissional. [Fazer] sozinho é muita imprudência".

Sobre o preconceito, Henrique acredita que "é complicado as pessoas quererem resumir a uma injeção um esporte no qual você tem que se dedicar 24 horas por dia. Você treina seis ou sete vezes na semana. Acorda cedo. Tem uma dieta restritíssima”.

A preparação e a rotina de Henrique

Henrique, que começou a competir em 2016, explica que seu preparo para uma competição começa meses antes do dia da disputa.

"Costumo escolher três competições grandes no ano. A meta é três. Até porque corpo e mente pedem descanso. Como minha preparação dura três meses, acaba sendo um número certo [de competições] para o ano todo", conta ele, que fala sobre preparo específico para esta edição do Arnold.

"A minha [preparação para o Arnold] começou há 12 semanas. Elevei o consumo de carboidratos bons (batata doce, aipim, etc.) e proteínas limpas (peito de frango, carne vermelha magra, filé de tilápia). Depois dessa fase, quando faltam seis semanas, cortamos as calorias e intensificamos os exercícios aeróbios. São dois por dia. Um deles em jejum. Isso tudo para secar e definir o corpo."

O catarinense conta que come muito pouco neste período, e treina seis vezes por semana e descansa somente um dia. E, mesmo no dia de descanso, realiza um exercício aeróbio em jejum.

Henrique foi vice-campeão entre amadores no Arnold South America
Henrique foi vice-campeão entre amadores no Arnold South America Henrique foi vice-campeão entre amadores no Arnold South America

"Sete dias antes da competição, tiro o carboidrato. Como só filé de tilápia e alface. É um período que também se tira o sódio. Para que o corpo expulse o máximo de água possível.

Na véspera da competição, volto com o carboidrato, para que o corpo absorva todo glicogênio muscular direto para a musculatura, que está vazia de água e glicogênio. Então nada desse carboidrato vira gordura ou açúcar. E vai direto para dentro do músculo", explica Henrique.

O preconceito só surgiu pelo uso indiscriminado%2C com produtos de procedência desconhecida

(Henrique Azevedo)

Curta a página R7 Esportes no Facebook

No dia da competição, voltamos com o sódio também, faltando três horas para subir no palco. E aí é para terminar de puxar toda água que possa existir e deixar a musculatura bem rígida e densa.

Uma curiosidade também nesses sete últimos dias é o consumo da água. Começo tomando 12 litros no primeiro dos sete dias. Diminuo para dez no dia seguinte, e oito no terceiro dia, seis litros, quatro litros...

Por fim, a partir da meia-noite do dia da competição, corto a água e fico sem tomar nada de líquido até subir no palco.

São três meses de preparo para um shape (forma do corpo) de 30 minutos na disputa da competição.

É uma rotina bem complicada. Tem influência até na rotina da minha esposa. Ela é muito compreensiva e me ajuda demais. Não estaria aqui se não fosse pelo apoio dela.”

Na véspera da competição, Andreza, sua mulher, preparava o filé de tilápia com arroz branco e sem sal.

Karím comenta sobre as dificuldades com a alimentação e a rotina

“Não é sofrimento para eu bater o peso que preciso. Mas a restrição alimentar difícil. Gosto de comer bem", diz a atleta de São Paulo.

"Quando estou de férias, fico com 70 quilos. Para competir, estou com 52, 53 quilos... Então, baixo sem problemas o meu peso. Só que a dieta é bem puxada", reitera.

Karím diz que "neste esporte, você tem que conquistar dia após dia. Todo dia você tem que ter uma frequência definida e uma cabeça boa para buscar sempre a mesma coisa. É mesma alimentação, mesmos horários e mesmos treinos. Então, se não tiver uma cabeça bem sistemática, você não vai conseguir".

Karim foi campeã no Arnold South America
Karim foi campeã no Arnold South America Karim foi campeã no Arnold South America

Sobre o preparo, a campeã explica: "faço três horas de treinamento por dia. Sendo uma de manhã, em jejum, outra à tarde e à noite, em que treino musculação e 40 minutos de aeróbio."

Gustavo Pasqualotto, treinador de Karím, afirma que “ela é um case de sucesso para qualquer um. Já passou por doenças pesadas. Hoje ela se dedica 100% à carreira de atleta. E quando pega pra fazer, não faz uma vírgula errada”.

Doping

Representantes de uma modalidade que irá estrear nos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima, os atletas do fisiculturismo terão de se enquadrar nas regras da Wada para estarem na disputa da competição. 

Isto porque, entre outras substâncias, hormônios como a testosterona e agentes anabólicos compõem a lista de substâncias e métodos proibidos pela organização, que coordena a lutra contra o doping no esporte mundial. 

Henrique Azevedo: 'Tive depressão e foi o fisiculturismo que me curou'

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.