Filme 'Tubarão' e influência brasileira: como Jaw se tornou a onda gigante mais temida do Havaí
Surfista Márcio Freire, que se acidentou e morreu em Nazaré, em Portugal, foi um dos pioneiros no 'paredão havaiano'
Mais Esportes|Do R7
Na ilha de Maui, no Havaí, a cerca de cinco quilômetros a leste da região de Paia, está uma das mais temidas ondas gigantes do surfe mundial. Apelidada de 'Jaws', a onda de Peahi é conhecida como uma das melhores (e maiores) do mundo. Apesar da fama entre os praticantes e espectadores da modalidade, o 'paredão' havaiano só foi descoberto nos anos de 1980.
Mark Pedersen, Dave Kalama, Brett Lickle e Pete Cabrinha foram os primeiros atletas a desbravar a onda gigante. Porém, em velas de windsurfe e usando o vento como fator de impulsão e velocidade diante da onda. Pela força com que quebrava no mar, o paredão foi nomeado em referência ao filme Jaw (Tubarão, título usado na adaptação ao português), do cineasta Steven Spielberg.
Os americanos Laird Hamilton e Dave Kalama foram os primeiros a se cansar da técnica que precisava do vento para poder surfar as ondas gigantes. A solução encontrada pelos dois foi o chamado tow-in, o surfe com o auxílio de jet ski para reboque nos paredões. Com ajuda de um motor, os surfistas ganharam mais velocidade e impulsão para surfar na região.
Tempo depois, um trio de brasileiros mudou as perspectivas na ilha de Maui. Conhecidos como os 'Mad Dogs' (Cachorros Loucos, em tradução livre), Danilo Couto, Yuri Soledade e Márcio Freire, que morreu na última quinta-feira, testaram os limites da onda gigante. Os baianos, que já residiam no Havaí, começaram a encarar a Jaws na remada tradicional, sem auxílio de motor ou qualquer outro equipamento.
O grande diferencial dos brasileiros era, justamente, a falta de aparelhos que facilitassem o surfe nas ondas gigantes. Além da moto aquática, coletes e ajuda também não eram bem-vindos para os Mad Dogs. Os baianos tinham, além de coragem, muita vontade de fazer história no chamado big surfe.
Hoje, a nova geração herdou dos Mad Dogs a paixão pelas ondas gigantes. Nomes como Kai Lenny, Albee Layer, Billy Kamper e do brasileiro Lucas Chumbo são os surfistas que, inspirados pelo trio de baianos, desbravam a Jaw no Havaí sem tow-in.
Chumbo, inclusive, usou as redes sociais para prestar uma homenagem ao surfista.
"Com certeza um dos momentos mais tristes e desafiadores do surfe de ondas gigantes! Descanse em paz!", escreveu o brasileiro.
Quem foram os 'Mad Dogs'?
Para além da falta de equipamentos de segurança, os Mad Dogs tinham como princípio a paixão pelo surfe e a vontade de desbravar cada vez mais o esporte. Em 2017, em entrevista para os canais da patrocinadora Red Bull, o trio contou um pouco sobre como era a vida dos Cachorros Loucos.
"Era pura coragem guiada pela vontade de descer uma onda enorme. Os riscos eram muitos sem uma segurança devida. Se acontecesse algum acidente, seria o fim da jornada. Nada nós forçou a fazer o que fizemos. Era tudo pra nós mesmos, pra nossa satisfação pessoal. Eu por exemplo, nunca tive patrocínio ou dinheiro envolvido na minha jornada", contou Márcio.
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Dois anos antes, em 2015, os baianos gravaram um documentário intitulado 'Mad Dogs', com direção de Roberto Studart. No longa os surfistas mostram bastidores da modalidade e toda a história de sucesso da trinca.
"Mostramos um estilo de vida simples, repleto de trabalho, e conectado ao surfe e ao oceano. Vidas voltadas ao sonho de ser surfista. O prazer e coragem nas ondas grandes. O pioneirismo do surfe na remada em uma das ondas mais assustadoras do mundo, conhecida por Jaws. Onda que antes só era surfada com o auxílio do jetski. Também mostramos a história de cada um de nós, desde os tempos na Bahia até os dias atuais. Tem muita coisa interessante de se ver nessa nova série", falou Freire na entrevista.
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