Adeus ao Rei do Futebol

Futebol Rei do Futebol deixou Lei Pelé como principal legado no Ministério do Esporte

Rei do Futebol deixou Lei Pelé como principal legado no Ministério do Esporte

Empresários, no entanto, dominaram o futebol nos últimos anos; Edson Arantes do Nascimento comandou a pasta entre 1995 e 1998

  • Futebol | Do R7

Pelé foi o primeiro ministro do Esporte, entre 1995 e 1998, na era Fernando Henrique Cardoso

Pelé foi o primeiro ministro do Esporte, entre 1995 e 1998, na era Fernando Henrique Cardoso

JOSÉ PAULO LACERDA/ESTADÃO CONTEÚDO - 3.1.1995

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, comandou o então recém-criado Ministério Extraordinário do Esporte entre janeiro de 1995 e abril de 1998, durante o primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O Rei do Futebol morreu na última quinta-feira (29), aos 82 anos, em decorrência de complicações de um câncer de cólon descoberto em 2019.

Criada em 1995, a pasta existia antes como Secretaria dos Desportos e estava vinculada ao MEC (Ministério da Educação e Cultura) desde 1937.

Nesse período, seu maior legado foi a aprovação da polêmica Lei Pelé, que desvinculou os passes dos jogadores dos clubes e abriu espaço para a atuação de empresários no futebol.

Criada em 1998 sob um forte lobby do Clube dos 13 e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a Lei Pelé tramitou de setembro a dezembro na Câmara dos Deputados e passou pelo Senado em semanas. Foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em março daquele mesmo ano.

Entre as mudanças, a Lei Pelé acabou com o passe e fez surgir os direitos federativos e econômicos dos atletas. Antigamente, os times de futebol eram donos dos passes dos jogadores por tempo indeterminado, mas, com a nova legislação, viraram donos apenas dos direitos federativos.

Os direitos econômicos passaram a ser posse de investidores e empresários, que começaram a intermediar as transferências de jogadores entre clubes.

A lei é polêmica porque, ao mesmo tempo que tira poder dos dirigentes de futebol, abre caminho para que os empresários negociem jovens atletas cada vez mais cedo a fim de fazer dinheiro.

Os direitos econômicos passaram, então, a ser fatiados entre vários empresários. Portanto, os talentos saem do Brasil rumo à Europa precocemente e enfraquecem o futebol praticado no Brasil.

Além disso, os empresários notaram que poderiam abrir clubes-empresa a fim de “produzir” jogadores antes de exportá-los.  

Durante os mais de três anos em que comandou o Ministério do Esporte, o Rei do Futebol focou sua atuação em avanços do futebol nacional e na defesa de direitos trabalhistas dos jogadores profissionais.

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Pelé e as complicações de saúde

Pelé ficou um mês internado antes de morrer. Ainda em abril de 2019, ele passou mal em um evento em Paris e precisou ser hospitalizado por cinco dias na capital francesa, por conta de uma infecção urinária. Na volta para o Brasil, foram mais seis dias internado no Hospital Albert Einstein, para a retirada de um cálculo renal.

A partir daí, o Rei do Futebol, cuja ausência já havia sido marcante na Copa do Mundo da Rússia em 2018, deixou de comparecer a grandes eventos públicos e homenagens — a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) chegou a inaugurar uma estátua do ídolo, em tamanho real, sem que ele estivesse presente.

As ausências passaram a ser rotineiras, porque Pelé não se sentia à vontade com a cadeira de rodas. Segundo pessoas próximas, inclusive havia um certo quê de vergonha de quem sempre esbanjou saúde como atleta. Mas o apoio passou a ser necessário depois de duas cirurgias no quadril, em novembro de 2012 e em dezembro de 2015, além da operação na coluna, em julho de 2015, para a descompressão da raiz nervosa.

Na primeira cirurgia no quadril, Pelé teve implantada uma prótese para corrigir a artrose que o incomodava desde 2009 e que não passou com exercícios de fisioterapia. Sob a alegação inclusive de erro médico, o ex-jogador passou por uma nova cirurgia, dessa vez nos Estados Unidos.

Em fevereiro de 2020, o filho Edinho chegou a dizer que o pai sofria de depressão. Pouco tempo depois, o próprio Pelé foi às redes sociais alegar que passava por “dias bons e maus” apenas, como próprio da idade, segundo ele mesmo — Edinho, técnico do Londrina (PR), encontrou o pai na semana do Natal, no hospital em São Paulo. No mês seguinte, avesso a velórios e com medo da Covid-19, Pelé não compareceu ao enterro do irmão Zoca.

Em março de 2021, aos 80 anos, o “cidadão Edson”, como sempre gostava de se diferenciar, tomou a primeira dose da vacina contra a Covid, em sua casa, no Guarujá, no litoral sul de São Paulo.

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