Governo saudita segue a cartilha de tentar limpar imagem com o futebol
Intenção de fundo saudita de comprar o Newcastle foi criticada pela Anistia Internacional, que acusa o governo de violar os direitos humanos
Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7
Assim como os Emirados Árabes e o Qatar, a Arábia Saudita quer mostrar uma faceta simpática ao mundo, mesmo sendo comandada por um governo autoritário, conforme garantem várias entidades internacionais.
E o futebol novamente foi escolhido como instrumento desta inserção diplomática e econômica.
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Um consórcio saudita, que tem participação majoritária do príncipe herdeiro Mohammad Bin Salman, fez um pagamento adiantado, não reembolsável, de cerca de 19,5 milhões de euros ao proprietário do Newcastle, Mike Ashley.
O consórcio propôs comprar o clube por algo em torno de 345 milhões de euros. O futebol saudita é competitivo e organizado, com clubes estruturados e uma seleção que já disputou Copas do Mundo. Mas os investimentos no futebol de outros países é algo relativamente novo.
Tal iniciativa foi criticada pela ONG Anistia Internacional que, na terça-feira (21), alertou a Premier League, citando a violação dos direitos humanos no país como um motivo mais do que justo para se rever e voltar atrás na empreitada.
A diplomacia e as relações comerciais têm sido mesmo uma forma do governo saudita se mostrar menos radical ao mundo.
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Assim como algumas novas leis, que permitem, por exemplo, que as mulheres votem e dirijam veículos, tentou dar à administração de Mohammad Bin Salman ares de modernidade. O país também se reaproximou dos Estados Unidos nos últimos anos.
Mas, nos porões do governo, a forma autocrática da ditadura de uma família prevalece. Bin Salman tem administrado o país na prática, já que o seu pai, o príncipe Salman, apesar de ser o comandante oficial, tem saído de cena na administração, já com 84 anos.
Desde 2017, Bin Salman tem tentado se mostrar um combatente da corrupção. Naquele ano, 11 príncipes, quatro ministros e dezenas de ex-ministros foram presos sob o argumento de que praticavam atos de corrupção.
O regime repressor manteve o ritmo até os dias atuais. E na última sexta-feira (17), foram presos o príncipe Ahmed bin Abdelaziz al Saud, irmão do rei, e o príncipe Mohamed bin Nayef, sobrinho do rei, sob a acusação de conspiração.
Como a hereditariedade do cargo é o que vale para a sucessão, Bin Salman teme que irmãos ou outros parentes almejem seu cargo e, por isso, a imprensa internacional acredita que a maioria das prisões é, na verdade, para calar vozes e interesses dissonantes.
O jornalista saudita Jamal Khashoggi, aliás, também era uma voz dissonante, mesmo morando em Washington. E ele foi morto em 2 de outubro de 2018, após entrar na embaixada saudita em Istambul, com o objetivo de renovar documentação. Bin Salman tornou-se suspeito de ter ordenado o brutal assassinato.
A única resposta dada neste sentido foi a condenação, em outubro de 2019, de cinco pessoas à morte e outras três a penas de prisão pelo assassinato do jornalista saudita. Isso, no entanto, não livrou Bin Salman das suspeitas diante do mundo. Agora, possivelmente, seu objetivo é que o futebol consiga fazer isso.
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