Flamengo vive contradição entre ser time do povo e da elite
Alguns de seus dirigentes resolvem questões em festas regadas a uísque em luxuosos apartamentos do Leblon e não se preocupam com os necessitados
Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

O romance "O Vermelho e o Negro" mostra que a vida imita mesmo a arte. Não importa o local, seja na França, onde Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal, escreve a obra-prima, ou no Rio, onde o rubro-negro Flamengo tem escrito um novo romance, baseado nas paixões humanas que insistem em borbulhar nas profundidades, por trás das aparências.
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O romance, com um estilo de realismo próprio, aborda a tentativa do jovem Julien Sorel, de origem plebeia, de ascender socialmente em meio a conflitos religiosos, amorosos e existenciais. Ele se depara com as barreiras da hipocrisia de uma sociedade elitista.
A obra foi escrita em 1830, em meio a um movimento liberal, comandado pela burguesia, que derrubou o rei Carlos X, da dinastia Bourbon, após ele dissolver o parlamento e tirar a liberdade da imprensa.
Era um momento em que as classes populares, ainda oprimidas mesmo após a Revolução Francesa, vislumbravam novamente uma parte do quinhão que continuava a alimentar a decadente nobreza.
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O Flamengo, por ter a maior torcida, simboliza a paixão do torcedor por seu clube. Seus vermelho e negro também representam o desejo de ascensão social de toda a massa, que projeta seus sonhos, suas conquistas, na vitória de seu time.
A aspiração, porém, não deixa de ser uma ilusão. Após cada título, o deslumbramento vai indo embora. Nos dias seguintes, o torcedor é obrigado a se deparar com sua rotina, com a necessidade de botar o pão na mesa e encarar a realidade do dia a dia, na busca de sua verdadeira ascensão social.
E a real ascensão social, muitas vezes, é impedida por alguns dirigentes do próprio clube, representantes de um tipo de elite que acolhe o torcedor no mundo futebolístico mas o exclui fora dele. Quando o jogo realmente é para valer.
Há, no Flamengo, um nítido retrato do distanciamento entre essa elite e a massa. Tais dirigentes e conselheiros são os chamados burgueses ou nobres dos tempos de Stendhal, que resolvem suas questões em festas regadas a uísque, em seus luxuosos apartamentos do Leblon, Ipanema e Gávea.
Nestas reuniões, prevalece a tese do "povo que se lixe". Mesmo que seja esse povo a razão de ser do clube. E isso fica ainda mais intenso justamente nos momentos das vitórias e do enriquecimento quando, por um instinto egoísta, o ser humano teme perder o que ganhou, mesmo que simbolicamente.
Esse fenômeno parece estar ocorrendo agora. Enquanto o clube coleciona conquistas, membros da cúpula (não todos, é verdade) têm repetido posturas de fechamento para os mais humildes. Negam-se a pagar as indenizações da maior parte dos familiares dos meninos que morreram durante incêndio no CT do clube.
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Mostram-se contrários em pagar uma parcela da premiação um pouco mais robusta, de 30%, para os humildes funcionários, que tanto trabalham mas pouco apareceram. Em ambos os casos, a explicação foi baseada nos valores de mercado.
A ideia de saneamento, dirigentes do Flamengo estão conseguindo vender bem. Apesar de o Flamengo ainda estar endividado, diminuiu as pendências e tem gerado um grande superávit, direcionado em parte ao agrado da massa, com contratações.
Além da literatura, Freud bem poderia explicar a origem de tanta mesquinhez. Muitas vezes os argumentos jurídicos ou mercadológicos escondem questões que só a psicanálise e os grandes escritores são capazes de desvendar. Quando o assunto é compensar dignamente os mais necessitados, a conta no clube não tem fechado.
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