Ex-Palmeiras, Preá deixa limpeza de bueiros para jogar em time do PR
História de Preá como funcionário da Prefeitura de São Paulo foi revelada pelo Esporte Fantástico, da Record TV
Futebol|Cesar Sacheto, do R7
O atacante Jorge Preá, de 35 anos, ex-Palmeiras, está de volta ao futebol. Depois de um período de aproximadamente sete meses trabalhando em uma empresa prestadora de serviços da Prefeitura de São Paulo na limpeza de bueiros e galerias pluviais na cidade, o jogador assinou contrato nesta terça-feira (22) com o Arapongas para disputar a terceira divisão do Campeonato Paranaense de 2019.
A vida do jogador como funcionário da prefeitura foi revelada no programa Esporte Fantástico, da Record TV, no início deste ano.
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Preá teve sua fase de glórias na temporada de 2008, quando participou da campanha do título paulista do Palmeiras junto com um grupo que tinha nomes como o goleiro Marcos, os meias Diego Souza e Valdívia e os atacantes Kléber Gladiador e Alex Mineiro, todos comandados por Vanderlei Luxemburgo.
Ao confirmar o negócio, o diretor do Arapongas Lucas de Moraes disse que o passado no time alviverde paulista foi um fator importante na avaliação feita pelo clube paranaense para a contratação do atacante.
"Sou palmeirense de origem e conheci o Jorge Preá em um evento. Lá, o meu interesse despertou, porque vi os vídeos dele no amador, jogando em alto rendimento. E também pela história dele. Foi pouco aproveitado, mas tem um talento nato. É uma pena ter um talento desses fora do futebol. O Arapongas quer que ele desenvolva uma bela campanha e finalize a carreira no clube", revelou o dirigente ao R7, que também admitiu ter havido um certo incômodo dentro da agremiação pelo fato de Preá estar afastado dos gramados.
"Os outros conselheiros do clube não concordaram. Porém, por não ser tanto tempo fora do futebol e por ele estar sempre se cuidando, isso nos ajudou na contratação do jogador", complementou.
A contratação ocorre um dia depois de o clube paranaense ter se envolvido em uma polêmica pela rescisão com um jogador que havia sido baleado durante ao apartar uma briga, no Recife.
O meia Anderson Felipe, de 22 anos, foi atingido no braço, está hospitalizado e terá que passar por cirurgia. Ambas as partes afirmaram que a decisão pelo rompimento do acordo partiu do empresário do atleta.
Volta aos gramados
O atleta firmou um contrato de dois anos com o Arapongas. O acordo terá vigência a partir desta quarta (23) e a apresentação do novo reforço, que terá preparador físico exclusivo para recuperar a forma, está marcada para o dia 5 de fevereiro. "Vislumbramos o jogador como o artilheiro do campeonato", finalizou Lucas de Moraes.
Jorge Preá comemorou o desfecho da negociação e demonstrou felicidade por poder voltar a fazer aquilo que tanto ama: jogar futebol.
"Teve interesse do Arapongas, que conheço e já enfrentei, em 2014. Fizeram uma proposta legal e com a expectativa de o clube crescer bastante. Foi um contato rápido e as ideias bateram. Espero que possa ser uma dessas sementes para colocar o Arapongas lá em cima, crescendo no cenário do futebol brasileiro, começando pelo Paranaense", festejou o jogador.
Palavra descumprida e limpeza de bueiros
Preá teve que interromper a carreira devido a problemas que atingem grande parte dos atletas no país: falta de pagamentos, instabilidade e desemprego. Assim como ele, muitos jogadores passam meses sem um clube e, por isso, precisam buscar outras atividades para sustentar a família.
Contratado para disputar a temporada de 2018 pelo Real Ariquemes-RO, o atleta acabou demitido junto com o treinador que havia pedido a sua contratação. Sem emprego, salários — a diretoria do clube rondoniense não pagou quatro meses de vencimentos restantes — e com a falta de perspectiva imediata de seguir em frente no futebol, Preá teve que partir para outra área de trabalho: limpeza de bueiros.
Depois de mais de dez anos de carreira profissional no esporte e passagens por clubes importantes do país — além do Palmeiras, Preá vestiu as camisas de Athletico-PR, Bragantino, Operário Ferroviário-PR, Sinop-MT e Barretos, entre outras —, o jogador conseguiu emprego em uma companhia especializada na limpeza de bueiros na capital paulista.
"As contas da minha casa vieram. A minha família tem que comer. E tem muita coisa para fazer na minha casa para manter o nosso padrão. A minha esposa ficou grávida e tive que ir atrás de um trabalho. Esse foi o mais rápido que consegui, sem burocracia, fila. Então, acabei indo para esse meio. Fico muito feliz por ter saído para trabalhar e foi esse meio que achei para continuar sustentando a minha família", contou Preá ao R7.
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No entanto, engana-se quem acredita que o trabalho nos bueiros, pouco valorizado por muitos, tenha abalado o aspecto emocional de Jorge Preá.
"Não me incomodou em nada. é um trabalho digno. Não era o que sonhava, mas apareceu. São as circunstâncias da vida. Você tem que abraçar as coisas e não olhar para trás. Segui em frente e abracei esse projeto que Deus colocou na minha frente. E está dando o sustento para a minha família", contou o jogador que ainda utilizava o esporte para complementar a renda mensal.
"Tem os joguinhos de várzea que faço. Ganho um dinheirinho também. Tem a escolinha de futebol que dou aula, às segundas, quartas e quintas. Dá para ganhar mais um dinheiro. O importante é trabalhar com honestidade. Meus filhos estão muito orgulhosos do pai deles, porque sabe que estou fazendo tudo por eles."
História na várzea e emoção no Palmeiras
O futebol de várzea foi um ponto importantíssimo na vida desse paulistano. Foi jogando na categoria que o atleta despertou o interesse do Pelotas-RS, se tornou artilheiro e partiu para voos mais altos na profissão.
"Jogava na várzea. Com 23 anos, fui para o Pelotas. Fui artilheiro da segunda divisão do Campeonato Gaúcho, com 19 gols. Apareceram várias propostas de outros clubes e até de fora do país", recordou.
Em 2007, Preá foi observado pelo treinador Vanderlei Luxemburgo, que estava no Santos. O técnico pediu sua contratação, mas o clube gaúcho não o liberou. Um ano depois, o atacante fazia tratamento de uma lesão do Palmeiras, comandado por Luxemburgo. Então, veio o acerto.
"Fui tratar de uma contusão que tive na Coreia. O Luxemburgo me reconheceu e pediu a contratação. Foi uma emoção muito grande vestir uma camisa de um grande clube reconhecido mundialmente para um cara que saiu da várzea de São Paulo. Me orgulho muito. O gol que fiz pelo Palmeiras ainda me deixa emocionado. Vou levar isso por 20, 30 anos. Até a minha morte, serei sempre o Jorge Preá do Palmeiras", enfatizou o jogador.
Planos para o futuro
Acostumado a reviravoltas na vida, Preá não teme o futuro. Apaixonado pelo que faz, ele pretende seguir jogando futebol por muitos anos e não tem intenção de encerrar a carreira. O jogador ainda sonha alto.
"Estou com 35 anos. Mas com a cabeça e o pensamento de estar começando ainda. Sou um cara que quer vencer sempre e que gosta do furtebol. Digo que não vim para o futebol para ficar rico. Vim porque amo. Então, quero estar jogando futebol com 40 ou 50 anos. Na rua, no society, na quadra, não importa", finalizou Jorge Preá.
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