Ex-jogadoras da 1ª seleção recordam preconceito e dificuldades passadas
Atletas comentaram sobre barreiras encontradas: "Tivemos que enfrentar preconceitos e até nossos pais não queriam que mulheres jogassem futebol"
Futebol|da EFE
As jogadoras que integraram a primeira seleção brasileira feminina de futebol tiveram que superar barreiras como a discriminação e a total falta de apoio, o que foi compensado com muita garra e amor ao esporte e à camisa.
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"No começo, era muito difícil. Para chegar aonde chegamos, tivemos que enfrentar preconceitos e até nossos pais, que não queriam que mulheres jogassem futebol", disse à Agência Efe a ex-zagueira Marisa, primeira capitã da seleção.
A ex-jogadora, de 52 anos, relatou que, no começo, as jogadoras brasileiras não recebiam salário, apenas uma pequena ajuda de custo. "Nossos pais tiravam do próprio bolso para pagar a passagem de ida, mas não havia dinheiro para a volta", contou.
Outra que falou sobre o preconceito que cercava a modalidade foi Rosilane Camargo, a Fanta. Ela afirmou ter ouvido vários "nãos" durante a carreira. "A mulher não tinha espaço dentro do futebol. Tudo era negado para nós, era sempre proibido. Conseguimos, através do nosso amor pelo futebol, aos poucos, abrir espaço para a nossa modalidade", afirmou a ex-lateral, que integrou a primeira seleção feminina convocada pelo Brasil, em 1988.
Segundo a ex-jogadora, também de 52 anos, na época o simples fato de jogarem futebol já era mal visto.
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"Hoje não há tanto (preconceito) quanto antes, como na época das pioneiras, mas ainda existe. Muito pouco, mas existe. Há muitos homens que não conseguem aceitar que há mulheres que jogam melhor do que eles", opinou.
O futebol feminino foi proibido no Brasil em 1941 por um decreto do então presidente, Getúlio Vargas, que vetou às mulheres "a prática de desportos incompatíveis com a natureza feminina".
O decreto só foi revogado em 1979. Pouco depois, alguns clubes no Rio de Janeiro e em São Paulo começaram a montar equipes femininas para torneios amadores, entre as quais se destacou o Radar, um dos mais bem-sucedidos da época.
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O clube, cuja sede fica no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio, conquistou o Campeonato Carioca e a Taça Brasil de Futebol Feminino de 1982 a 1988 e foi a base para representar o país em um torneio expermimental na China.
A seleção brasileira feminina, pela qual hoje brilha Marta, eleita seis vezes pela Fifa a melhor jogadora do mundo, estreou em 1º de junho de 1988 com derrota para a Austrália por 1 a 0, mas voltou para casa com a medalha de bronze da competição realizada em território chinês.
"Comecei a jogar em uma época em que tínhamos muitas dificuldades e não tínhamos o sonho de ser jogadora de futebol. Jogávamos por prazer e muito amor", declarou a ex-meia Leda Maria, que integrou a seleção que disputou o Mundial da Suécia, em 1995, e participou da estreia do futebol feminino nos Jogos Olímpicos, no ano seguinte, em Atlanta.
"Apenas depois da primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos conseguimos viver do futebol. Tivemos um campeonato mais organizado em 1997. A partir daí, as coisas começaram a melhorar, e a nova geração pôde viver de futebol", completou Leda Maria, que hoje é comentarista de televisão.
Apesar das dificuldades, as pioneiras garantem que no começo, os jogos de futebol feminino atraíam mais espectadores. "Não entendo por que nessa época todos os clubes tinham futebol feminino, não só os grandes, e havia apoio dentro dos estádios. Embora houvesse preconceito, havia um apoio grande da torcida para o futebol feminino, era diferente. Hoje em dia, o futebol feminino tem estrutura, mas não se vê tantas pessoas apoiando o futebol feminino nos estádios", constatou Fanta.
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"Havia muita dificuldade, e não tínhamos estrutura, mas tínhamos muito amor, muita raça, muito carinho pelo país, pela camisa. Para nós, a diversão era estar lá, representar (o país) sem valor financeiro algum, mas deixando o futebol feminino em evidência, algo que não vemos nas novas gerações", completou, em tom crítico.
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