Ex-jogador que denunciou abusos na base critica CBF: 'Não se posicionam'

Ex-jogador que passou por Chipre, Portugal e clubes do interior paulista, Alê Montrimas se tornou um ícone na luta contra os abusos sexuais e psicológicos nas categorias de base do futebol brasileiro.

Ele lançou, em 2014, o livro “Futebol: sonho ou ilusão?”, no qual conta dificuldades vividas por jovens que sonham em se tornar jogadores de futebol, além de bastidores sórdidos do meio.

Em entrevista ao R7, o ex-goleiro revelado pela Portuguesa falou sobre o problema que assola o Brasil e que, segundo ele, ocorre “em todos os clubes do país, sem exceção”.

“Se não é dentro do clube, é em volta dele ou com alguém ligado [ao clube]”, afirma Alê, que se aposentou do futebol há quatro anos.

Omissão da CBF

Montrimas confere à CBF uma parcela da culpa pela atual situação dos jovens nas categorias de base dos clubes brasileiros.

“Não me lembro de uma ação recente deles sequer. Com certeza podem fazer muito mais. Procuramos a CBF, fomos atrás deles, mostramos o nosso trabalho, oferecemos o nosso trabalho, praticamente sem custos para a CBF. Eles simplesmente não se posicionaram. Nós nem sabemos qual a posição que a CBF tem em relação a isso. Fui para Brasília também, um tempo atrás, para cobrar da CBF, que ela tinha assinado o acordo antes da Copa do Mundo, e também não se posicionaram”, afirma Alê que, junto do Sindicato dos Atletas de São Paulo, esteve no evento "Chega de abuso no Esporte", realizado no Museu do Futebol, na última segunda (23).

Em 2014, ano em que o Brasil sediou a última Copa do Mundo, a CBF se comprometeu, em pacto assinado com o Congresso Nacional, a adotar dez medidas no combate aos abusos sexuais e ao tráfico infanto-juvenil no futebol brasileiro.

A entidade não cumpriu oito das dez medidas, sendo as outras duas cumpridas apenas parcialmente.

E os clubes? Como se posicionam?

Alê diz que os clubes passaram a se movimentar mais em relação ao tema. Porém, segundo ele, “ainda falta muito mais”.

“Os clubes estão fazendo um papel maravilhoso, que é abrir as portas para nossas palestras. Quando peço o convite dos clubes, afirmo que em todo clube acontece assédio e exploração sexual. Se não é no clube, é em volta dele", diz.

Segundo Alê, os clubes começaram a prestar um pouco mais de atenção nisso, mas continuam distantes dos objetivos. "Temos 50 clubes com assistentes sociais [no Brasil], que são as pessoas que têm o olhar para isso. E são praticamente 700 clubes no Brasil. Se com assistente social já é bem complicado, imagine os clubes que não têm estrutura."

Caso Ruan Pétrick

Em meados de abril, Ruan Pétrick, atleta de 19 anos das categorias de base do Santos, denunciou abusos sofridos por ele quando tinha 11 anos.

Ricardo Marco Crivelli, o acusado, foi afastado de seu cargo de coordenador da base do clube.

Com o caso ainda sendo apurado pela Delegacia de Repressão e Combate à Pedofilia, Alê prefere não se posicionar contra ou a favor do clube.

“Ainda é difícil para falar sobre esse caso porque está correndo em segredo de justiça. É difícil ter uma base do que realmente aconteceu. Temos que dar o benefício da dúvida para ambos os lados. O que nós — o sindicato — fizemos até o momento foi oferecer um suporte psicológico para esse garoto [Ruan Pétrick]. Agora, é esperar e ver o que vai acontecer. A polícia está apurando. Não podemos ainda tomar algum tipo de posição que gostaríamos de tomar para não sermos injustos.”

EsportesR7 no YouTube. Inscreva-se

Eto'o, Pelé, Owen... Veja os atletas mais jovens a atuarem na Copa

Publicidade

Fechar anúncio

1 / 15

Eto'o, Pelé e Owen figuram entre os jogadores mais jovens a entrarem em campo por suas seleções em uma Copa do Mundo. Confira a lista

Eto'o, Pelé e Owen figuram entre os jogadores mais jovens a entrarem em campo por suas seleções em uma Copa do Mundo. Confira a lista