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Ele foi vítima de uma das primeiras 'fake news' em Copas; saiba qual

O ex-meia Renato, destaque do Guarani e do São Paulo, fez parte do elenco da seleção brasileira na Copa de 82 e protagonizou uma história inusitada

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Renato foi campeão no Guarani e atuou no SPFC
Renato foi campeão no Guarani e atuou no SPFC Renato foi campeão no Guarani e atuou no SPFC

Na tranquilidade de Morungaba, interior paulista, um menino e seus irmãos cresceram com sonhos para além das colinas. E eles se resumiam a uma bola, como se simbolizasse a sensação de dominar o mundo. Neste caso, o próprio mundo. Carlos Renato Frederico, o Renato, realizou esse sonho.

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Na campanha de 78, Renato jogou todas as partidas
Na campanha de 78, Renato jogou todas as partidas Na campanha de 78, Renato jogou todas as partidas

Tal qual o Rio Jaguari, que contorna a cidade, sua carreira teve um curso natural. Nela, ele simplesmente foi o que era quando criança: apaixonado pela bola.

Das brincadeiras de melê com o irmão, dos jogos de bola dentro da padaria do pai, o sr. José Frederico, conhecido como Patão, ele foi parar no Guarani. Onde se consagrou como o único jogador a participar de todas as partidas na histórica conquista do campeonato brasileiro de 1978.

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Depois, veio o São Paulo. E, antes de atingir a maturidade, já estava na seleção brasileira, tendo sido convocado para a Copa do Mundo de 1982.

Conversa com Zico

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Jogador rápido, meia que sabia aproveitar as beiradas e partir em velocidade, Renato, nascido em 21 de fevereiro de 1957, logo se tornou acima da média.

Só não foi titular na Copa porque disputava a posição com Zico que, ao lado de Sócrates, era considerado por muitos o maior jogador do planeta na ocasião.

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Experiente, Renato já vinha fazendo parte do grupo, já que estava na seleção desde 1979, quando defendia o Guarani e foi chamado pelo técnico Cláudio Coutinho.

"Na Copa eu já cheguei com experiência. Só faltou jogar, dos reservas de linha fui o único que não entrou. Não deu, o Zico não deu oportunidade. Ficávamos o mesmo quarto, já que o Telê dividia os quartos por posição. Após o Brasil ganhar dois jogos na primeira fase, antes do terceiro, até perguntei ao Zico se dava para me deixar entrar caso o time estivesse ganhando nos últimos 10 minutos. Queria realizar o sonho de jogar numa Copa. Mas ele foi sincero e me respondeu que tinha dois objetivos: ser campeão e depois ser artilheiro. Então me respondeu: 'Nesses 10 minutos posso fazer algum gol. Desculpe, mas não vou conseguir atender seu pedido'", revela.

De poucas palavras

Como se sabe, o Brasil encantou com grandes atuações. Na derrota para a Itália, quando acabou eliminado, antes das semifinais, a frustração foi geral. Imprensa, jogadores, dirigentes, torcedores se perguntavam por quê. Veio então uma avalanche de suposições, críticas e lendas, como ocorre após uma grande derrota.

Renato acabou sendo protagonista do que seria hoje uma fake news.

Possivelmente, uma das primeiras em Copa do Mundo.

Rolou a famosa história na qual, no intervalo, quando a Itália vencia por 2 a 1, Cerezo chorava e então Telê pediu que Renato se preparasse para entrar. Pela história, o jogador se recusou, argumentando que havia ficado de fora a Copa inteira e não seria justo entrar naquela "fogueira". Depois de 38 anos, ele teve a oportunidade de contar o que ocorreu.

"Estavam querendo arrumar culpados pela derrota. Nada do que se espalhou ocorreu. No intervalo, aliás, ficávamos batendo bola, jogando bobinho no campo. Os titulares desciam para o vestiário. Nem desci, nem vi ninguém chorando. Depois um repórter veio me entrevistar perguntando sobre essa história. Mas nunca o Telé me pediu para entrar. Se pedisse, lógico que entraria, na hora. Às vezes as pessoas são maldosas mesmo", desabafa.

A situação de Renato lembra um pouco a de Ademir da Guia na Copa de 1974. Ambos sempre foram retraídos e podem ter ser prejudicado por não reivindicar oportunidades que mereciam.

"Nos relacionamentos, eu era mais tímido. Fiz amigos na carreira, mas costumava ficar mais na minha. Na Copa, especialmente, devia ter me colocado melhor. Talvez se eu fosse mais 'revoltado', as coisas seriam diferentes. Mas talvez não, porque o Telê também não gostava de ser contestado ou desafiado. Tita teve esse problema, depois o Jorge Mendonça. Então, o que passou, passou", analisa.

Entregador e jogador

Renato sempre teve a simplicidade do homem do interior. Mesmo no auge da carreira. Em campo, soltava-se, corria como se estivesse com os amigos de infância correndo atrás da bola no anoitecer de Morungaba.

Nem precisou de tanto esforço para chegar ao profissional. Um conselheiro do Guarani o viu jogar um dia pela equipe amadora do Buenópolis, gostou e logo o indicou para o técnico da base do Guarani, Adaílton Ladeira.

"Era para eu jogar no Palmeiras, time para qual eu e meus familiares torcíamos. Fiz teste, fui aprovado mas então veio a possibilidade de ir para o Guarani. Era mais fácil. Meu pai me levava, já que Campinas ficava a 40 km de Morungaba", lembra.

Antes, porém, das 5h às 7h da manhã, ele e o pai saíam pela cidade para entregar leite. Nesta fase de simplicidade, o dinheiro acabou vindo como consequência, não como objetivo.

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"Naquele tempo queria jogar. Claro que, com a profissionalização comecei a ganhar bem e foi ótimo. Mas jogar era o mais importante. E chegar à seleção era um sonho. Hoje o jovem não pensa da mesma maneira, quer é ganhar dinheiro logo e nem valoriza tanto a camisa amarela", observa.

O sucesso no Guarani o levou ao São Paulo, por indicação do técnico Carlos Alberto Silva, campeão pelo time campineiro e em seguida contratado pelo Tricolor paulista.

"O Carlos Alberto chegou para mim e me perguntou o que acharia de ir para o São Paulo. Falei que estava bem em Campinas. Mas quando ele me revelou que ele mesmo estava indo para o São Paulo e me indicaria, aceitei na hora."

No São Paulo, Renato fez parte da chamada "Máquina Tricolor", bicamepã paulista em 1980 e 1981. Só viveu uma fase mais difícil em 1984, época em que soube da doença da mãe, dona Maria Rosa, que morreu em 1988.

"Naquele momento fiquei abalado", lembra.

Mas sua passagem pelo clube paulistano foi marcante. O ponto alto foi o gol inesquecível, na vitória por 4 a 0 sobre o Corinthians, quando arrancou do meio-campo e, dentro da área, chutou de esquerda no canto de Jairo.

"Foi um momento importante. Peguei antes da risca do meio-campo, o Paulo César (ponta-direita) fechou e fui pela direita em velocidade, ao meu estilo. Do jeito que parti continuei, correndo, conduzindo, o Djalma atrás de mim, então driblei para dentro e bati de esquerda. Foi um gol bonito pela arrancada e importante por ser em um clássico", lembra.

Que pé murcho, que nada!

Ele só lamenta que, entre as maldades do futebol, tenha ficado conhecido como "Renato Pé Murcho" após o Mundial de 1982. Mesmo não sendo sua melhor característica, ele sabia chutar e finalizar com precisão. E o apelido acabava por denegrir suas qualidades maiores, conforme conta. Revelando que, só há cerca de dois anos soube o verdadeiro autor do apelido.

"Pensava que tinham sido o Sócrates e o Júnior, durante um coletivo na Copa. Chutei mal uma bola e brincaram. Mas não foram eles que inventaram. Em um evento recente, o Juninho (ex-zagueiro) me contou que foi ele quem inventou antes o apelido e espalhou naquele Mundial. Respondi, brincando, que ele aprontou essa comigo porque era meu rival na Ponte e perdia sempre para o Guarani e depois no Corinthians. Mas foi um apelido injusto, me prejudicou, é ruim um jogador de futebol ser chamado desta maneira", ressalta.

Já na fase final de carreira, Renato atuou pelo Botafogo (1985), Atlético-MG (1986 a 1989), Nissan Motors, do Japão (1990 a 1992) e Yokohama Marinos do Japão (1992).

Chegou a jogar até como centroavante, mudando já suas características, com a inteligência e bom posicionamento. Só em campeonatos nacionais, marcou 90 gols. E três pela seleção brasileira.

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Atualmente, aos 63 anos, ele é coordenador de base do Guarani, após ter passado por várias funções, entre elas a de treinador do sub-20. Tenta passar às novas gerações alguns dos conceitos que sempre valorizou e que hoje não estão tanto em voga. Simplicidade e amor pela bola, acima de tudo.

A padaria do pai nunca foi esquecida. Existe há mais de 50 anos e, apesar de Renato ter uma participação, ela é tocada pelos irmãos.

A maneira dele contribuir foi outra. Viajando pelo mundo. Atrás do objetivo de, um dia, ouvir o locutor Fiori Gigliotti, da Rádio Bandeirantes, narrar um gol seu.

"Eu o ouvia sempre quando criança, era um sonho", revela.

Anos depois, lá estava Gigliotti narrando alguns feitos de Renato: "É gol, é gol, é gol! Goooooooooooool, Renato, o mooooooooço de Morungaba".

A história de Renato estava sendo contada, naquelas duas palavras. Gol e Morungaba.

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