Com craque-cartola, futebol de amputados quer reconhecimento
Vice de federação, atacante Rogerinho é astro da seleção junto com zagueiro Marcelo; time brasileiro é tricampeão mundial e ficou em 3º na Copa 2018
Futebol|Carla Canteras, do R7

A história bem-sucedida entre o Brasil e o futebol não é marcada apenas pelos cinco títulos mundiais da seleção masculina ou pelas seis vezes em que Marta foi escolhida a melhor do mundo.
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As categorias paralímpicas também têm capítulos empolgantes. A seleção brasileira de amputados foi tetracampeã do mundo (em 1989, 1999, 2001 e2005) e neste ano, na Copa do Mundo, realizada no México, em novembro, ficou com a terceira posição.
Astros da seleção
O sucesso atual é explicado por dois personagens importantes: o atacante Rogerinho, ou R9, e o zagueiro Marcelo, que jogam no Corinthians e são titulares na seleção. A história de vida dos dois é bem diferente, mas o amor e a empolgação pelo esporte são parecidos.
Rogerinho, de 36 anos, nasceu com um problema de má-formação congênita e tem uma das pernas bem menor que a outra. Desde criança, jogava bola com os amigos da rua e da escola. Mas tinha a frustração de não conseguir participar de campeonatos.

“Eu nasci assim. Jogava bola na rua, porém era o único deficiente. Usava muletas e, quando chegava os campeonatos, não podia jogar. Só treinava com eles e me chateava”, explicou Rogerinho.
Quando conheceu o esporte paralímpico, o atacante começou no vôlei. Logo foi para o futebol e entrou para o time de São Vicente em 2007. Mas o seu caminho para seleção brasileira foi rápido. Em 2009, virou titular e não saiu mais, sendo tricampeão da Copa América (2009, 2013 e 2015), vice-campeão sul-americano (2017) e campeão da Copa das Confederações (2016).
Com mais de 500 gols marcados na carreira, hoje a vida de Rogerinho é toda voltada para a modalidade. Em Mogi das Cruzes (62 km de São Paulo), ele fundou um projeto que ajuda 38 pessoas com deficiência.
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“Cerca de 80% das pessoas que fazem parte do projeto sofreram acidente de moto. Outros, são doenças. É bacana você chegar em um cara recém-amputado e mostrar para ele o esporte. Mostrar que a vida continua... Não tem troféu nenhum que pague essa recompensa”, comemorou Rogerinho.

‘Tudo menos futebol’
A história do zagueirão Marcelo, de 43 anos, também tem ligação com o futebol desde criança. Mas ele teve de reaprender a modalidade.
Com 26 anos, Marcelo jogava futsal na várzea. Mas, após um erro médico, acabou perdendo a perna esquerda depois de levar uma pancada atuando.
“Levei um chute, que acabou entupindo minha artéria. O procedimento médico foi errado. Minha perna foi engessada e comprimiu ainda mais a artéria, que depois se rompeu. Nesse rompimento, entrou uma bactéria na minha corrente sanguínea e tive de amputar”, contou Marcelo.
Somente em 2009, Marcelo procurou outro esporte, que poderia ser qualquer um, menos futebol. Mas, na prática, o esporte voltou à vida dele e traçou caminhos impensados.
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“Queria qualquer outra coisa. Foi me apresentado o atletismo, a natação e eu gostei. Mas estava com uma micose no pé e demorei seis meses para resolver. Quando resolvi o problema, cortaram a verba da natação e eu conheci o futebol. Estou até hoje.”
Não tem como ser diferente, já que entrar no gramado novamente trouxe para Marcelo muito mais do que só o prazer de praticar um esporte.
“Quando a bola rola, esquecemos que somos deficientes. Ainda mais para mim. Era para eu ter morrido. Fui desenganado pelos médicos. Agora sou jogador da seleção”.
Dificuldades financeiras
Ser jogador da seleção e viajar o mundo não significa que os jogadores da seleção paralímpica vivam do esporte. Os jogadores, muitas vezes, têm uma ajuda de custo dos patrocinadores, que não chega a pagar todas as contas. Assim, eles têm de colocar dinheiro do próprio bolso.
Rogerinho trabalha no setor administrativo de uma loja de materiais elétricos de um primo e é vice-presidente da Associação Brasileira de Esportes para Amputados. Algumas vezes, ele não coloca dinheiro só para pagar as próprias contas.
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“Como dirigente, tenho também a responsabilidade de não deixar que nenhum jogador coloque a mão no bolso para defender a seleção. Então, vamos atrás de patrocínio e vendemos rifas. Se precisar, inteiramos o dinheiro”, conta Rogerinho.
Já Marcelo é autônomo e, quando viaja para defender o Brasil, não trabalha e não recebe.
“Em novembro [mês do Mundial no México], acabei deixando minhas contas pra trás. O cobrador ligou e perguntou: por que você não pagou? Porque estava defendendo o meu país”, afirmou o zagueiro.

Diferença para o futebol
A grande diferença entre o futebol de amputados e a modalidade convencional é a corrida. “Corremos com os braços e não com as pernas. Toda a nossa velocidade é com os braços. Dói ombro, cotovelo. Só com muita musculação e academia para aguentar a dor”, explicou Marcelo.
Algumas regras também são adaptadas. Confira as principais diferenças:

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