Atentado a Bryan Angulo: narcotráfico e apostas ameaçam jogadores no Equador
Ex-jogador do Santos sobreviveu a ataque; episódio é reflexo de onda de violência ligada a apostas ilegais e tráfico de drogas no país
Futebol|Do R7
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O atacante Bryan Angulo, ex-jogador do Santos, foi vítima de um atentado a tiros nesta quinta-feira (16) ao chegar para um treino da LDU Portoviejo, no Equador. De acordo com o clube, dois homens em uma moto abriram fogo contra o atleta. Ele foi socorrido e está fora de perigo.
Em nota, a LDU Portoviejo informou que outros atletas também receberam ameaças ligadas à partida desta sexta-feira (17) contra o Búhos ULVR, pela segunda divisão do campeonato equatoriano. O clube pediu que o jogo seja disputado em um local que garanta a segurança dos jogadores dentro e fora de campo.
Angulo, de 29 anos, atuou pelo Santos em 2022, com 24 jogos, cinco gols e uma assistência. Depois, passou por Emelec, The Strongest, Mushuc Runa e atualmente defende a LDU. “Condenamos veementemente qualquer ato de violência. O futebol deve ser um espaço de paz, respeito e união”, disse a diretoria do clube.
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O episódio é reflexo de um cenário de medo e violência que circunda o futebol equatoriano. Jogadores têm sido ameaçados por grupos ligados ao narcotráfico e a apostas ilegais, e três atletas foram assassinados nas últimas semanas.
O meio-campista Jonathan González, de 31 anos, foi morto a tiros no fim de setembro em Esmeraldas, cidade na fronteira com a Colômbia. De acordo com familiares, ele se recusou a manipular o resultado de uma partida.
Dias antes do assassinato, o carro dele havia sido alvejado e a mãe, recebido ligações com ameaças de morte. “Os apostadores são intermediários das gangues. Eles dizem qual jogo você deve perder”, disse um ex-jogador ao jornal paraguaio La Nación.
Nove dias antes da morte de González, os jogadores Maicol Valencia e Leandro Yépez, do clube Exapromo Costa, foram assassinados a tiros em um hotel na pequena cidade de Manta, de 125 mil habitantes.
Apostas e narcotráfico
O tráfico de drogas e as apostas ilícitas tomaram conta do futebol equatoriano, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP). A ONU (Organização das Nações Unidas) diz que o crime organizado utiliza o esporte para lavagem de dinheiro e movimentação de lucros.
Estima-se que até US$ 1,7 trilhão (R$ 9 trilhões) em apostas ilegais sejam movimentados anualmente no mundo. No Equador, pelo menos 12 clubes e a liga profissional recebem patrocínios de empresas de apostas online, uma prática comum na América Latina.
“Não podemos aceitar que as casas de apostas sejam o principal patrocinador dos clubes”, disse Carlos Tenorio, ex-jogador da seleção equatoriana e presidente do sindicato de atletas locais, à AFP.
Um relatório da liga equatoriana apontou manipulação de resultados em ao menos cinco partidas da segunda divisão em 2025. Um técnico revelou ter recebido oferta de US$ 20 mil (R$ 108 mil) para perder um jogo.
Em 2024, um vídeo flagrou jogadores do Chacaritas sendo ameaçados com armas de fogo para influenciar resultados de apostas.
Violência crescente
O especialista em segurança Fernando Carrión disse à AFP que o futebol se tornou “um canal atraente para o tráfico de drogas” pela popularidade e baixa fiscalização. Ele alerta que times da segunda divisão são os principais alvos das máfias, por causa dos baixos salários e da vulnerabilidade dos atletas.
Em 2023, o então embaixador dos Estados Unidos em Quito, Michael Fitzpatrick, afirmou que traficantes usam clubes equatorianos para lavar dinheiro.
Casos recentes também mostram o impacto da violência fora dos gramados. O presidente do clube 22 de Julio deixou Esmeraldas e passou a trabalhar de forma virtual e em sigilo após ameaças. O técnico chileno Nelson Tapia também fugiu do país, alegando perseguição de criminosos.
Tapia relatou que o Exapromo Costa, ex-Fijalan FC, teria ligações com Los Choneros, uma das maiores organizações de narcotráfico do Equador. O líder da gangue, Adolfo Macías, o Fito, foi extraditado para os Estados Unidos.
“Há jogadores muito bons, e quero tirá-los de lá antes que acabem mortos”, disse Tapia à AFP.
Medo até entre os maiores
A insegurança chegou até os nomes mais conhecidos do futebol equatoriano. O atacante Enner Valencia, maior artilheiro da história da seleção do país, com 47 gols, afirmou em 2023 que não voltaria a jogar no Emelec, clube onde começou a carreira, por medo da violência.
“Eu adoraria voltar ao Emelec, mas não levaria minha família ao Equador – nem a mim mesmo agora”, disse o jogador. Um ano antes, a irmã dele, Elsy Valencia, foi resgatada pela polícia após passar uma semana sequestrada.
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