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Da tela quebrada a R$ 500 mil por mês: Coreano hoje vive dos games

'Era tanto dinheiro que pedia para ganhar menos', revelou Adriano Júnior, que aos 22 anos já experimentou altos e baixos dos e-sports

Jogos|Pietro Otsuka, do R7

Coreano, de 22 anos, é um dos principais streamers de Free Fire do Brasil
Coreano, de 22 anos, é um dos principais streamers de Free Fire do Brasil

Lançado em 2017, o Free Fire foi o jogo mais baixado no Brasil e no mundo no ano passado. O game de ação e aventura no gênero battle royale superou até mesmo Among Us e Fall Guys, os queridinhos na pandemia do novo coronavírus. E se entre os brasileiros o jogo é uma febre, muito disso se deve ao trabalho de criadores de conteúdo como Adriano Júnior, o Coreano.

Com 2 milhões de seguidores no Instagram e quase 900 mil inscritos no YouTube, além de 300 mil seguidores o acompanhando diariamente nas lives na Twitch, Coreano, que completou na última semana 22 anos de idade, vive a vida que sempre sonhou em ter. Não que isso signifique que o caminho até o sucesso foi livre de obstáculos, muito pelo contrário.

O começo de carreira foi em um batido iPhone 5S, que sequer rodava outros jogos além de Free Fire. Para conseguir comprar o que queria, também vendia adubo e barro quando adolescente e nos games chegou a faturar R$ 500 mil por mês. Mesmo com uma vida de altos e baixos, Coreano dispensa o rótulo de vítima.

De início, ele logo explica que a história envolvendo a venda de adubo não foi motivada pela necessidade de trabalhar, mas sim pelo desejo de poder comprar suas próprias coisas.


“Eu não trabalhei com aquilo porque não tinha nada antes. Eu nunca passei fome, sempre tinha um arroz, feijão e alguma besteirinha pra comer. Mas eu quis agregar alguma coisa para mim”, disse.

Antes da carreira no Free Fire — e antes de se tornar o Coreano — o jovem Adriano tentou a faculdade Direito, aos 18 anos. No entanto, por conta de problemas financeiros, foi obrigado a abandonar o curso logo no início.


Parado, sem estudar e sem conseguir arrumar um emprego, o que restou para o jovem adulto foi jogar.

“Eu parei a faculdade, não tinha emprego, não achava. Peruíbe, Baixada Santista, com 100 mil habitantes, é muito difícil achar. Então acabava que eu ficava jogando muito tempo, era viciado. Começava às 6h da manhã e só parava de madrugada”, relembra.


Entre um dia e outro de ação tela quebrada, como ele mesmo descreve, Coreano viu que um dos streamers que acompanhava, o Canal do Raia, com mais de 100 mil inscritos no YouTube, estava chamando fãs para participar. Foi aí que o jovem se destacou. "Entrei na live dele e 15 kill", conta Coreano.

“Colocava o celular na geladeira para não esquentar”

Se destacando entre streamers do cenário do Free Fire brasileiro, Coreano chamou a atenção de ninguém menos que Edson God, um dos pioneiros do Free Fire do Brasil, Top Global no Duo (o jogador com maior número de vitórias no mundo no modo duplas) e criador da Guilda God, que segundo ele mesmo revelou “quase metade do cenário competitivo atual”.

“O God me deu uma oportunidade e a primeira vez que eu joguei com ele foi numa live de 15 horas. Quinze horas sem comer, só no celular. E era o iPhone 5S ainda, com a tela quebrada. Ficava com o carregador direto e quando acabava uma partida eu colocava o celular na geladeira para não esquentar”, lembrou Coreano.

O jovem de recém completados 22 anos lembra que conforme jogava com streamers, ganhava popularidade e uma fama não verdadeira de trapacear no jogo.

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“Na época até achavam que eu era hacker, porque eu só jogava Preciso em Mira”, disse Coreano, explicando que esse é um modo de jogo dentro do Free Fire em que a inteligência artificial não ajuda a mirar, como é comum em jogos de tiro. Ou seja, acertar o inimigo torna-se ainda mais difícil, mas não para Coreano.

Depois das 15 horas seguidas de live, ele começou a aparecer cada vez mais no cenário do jogo. 

Começo meteórico

Coreano com a placa de 100 mil inscritos em seu canal no YouTube
Coreano com a placa de 100 mil inscritos em seu canal no YouTube

Na aventura de ter seu próprio canal, Coreano não imaginava que o sucesso viria tão rápido. Se no primeiro mês produzindo conteúdo ele faturou R$ 400 mil, quando assinou com sua primeira plataforma de streaming, a extinta Cube TV (que patrocinou boa parte do cenário do Free Fire brasileiro), os ganhos aumentaram consideravelmente.

“Meu segundo salário, em plataforma de streaming, foi meio milhão de reais. Deu R$ 400 mil e alguma coisa, por aí. Demorou três meses para cair. Eu ficava atualizando o aplicativo do banco todo dia, conversava com gerente. E o dinheiro vinha em dólar ainda. Três meses depois caiu lá na minha conta”, conta.

"Era tanto dinheiro que eu falava para plataforma para me pagar menos. Eu era muito novo, ganhei esse salário por uns três meses consecutivos", disse.

No entanto, a quantia surpreendente que estava faturando também levantava suspeitas em Coreano. “Eu estava entendendo que essa plataforma não ia durar muito tempo, porque não estava pagando meio milhão apenas para mim. Alguma coisa estava errada. Até que chegou o momento que os caras me ligaram e falaram: faliu, está todo mundo demitido”, explicou.

Depressão

Apesar de ter quase R$ 1,5 milhão na conta, Coreano tinha apenas 19 anos quando a Cube TV faliu e levou com ela tantos outros streamers promissores, inclusive o próprio Coreano. Com o fim do projeto, foram três meses sem jogos, sem vídeos, sem live... Até um quadro de depressão.

“Agora para eu recuperar a visibilidade que eu tive é difícil. Hoje em dia, se eu postar conteúdo no YouTube dá 10, 15 mil visualizações, antigamente já cheguei a pegar 800 mil e até um milhão”, comentou.

Para quem já enfrentou o auge e a queda, o futuro pode não prometer muito, mas não é o que pensa Coreano. Decidido a continuar a carreira como criador de conteúdo, o jogador revela que tem planos para migrar para outros jogos, especialmente por acreditar que o sucesso do Free Fire está chegando ao fim.

“Eu pretendo manter o Free Fire, pelo menos por enquanto, até onde durar, mas não dura muito mais que isso (2 anos). Mas eu quero misturar também, já estou jogando outros jogos, como o GTA, jogo um pouco de CS (Counter Strike). Estou tentando dar uma migrada. O público não gosta muito, quando eu mudo de jogo eles saem da live. Mas eu sei que futuramente isso pode agregar coisas boas”, disse Coreano.

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