The End Is Nigh: um novo dia para morrer
Apesar de começar lentamente, o jogo é um dos mais difíceis e intensos do ano
Jogos|Do R7

Nós já demos nossas primeiras impressões sobre The End Is Nigh, o novo jogo de plataforma de um dos precursores da cena de jogos indies, Edmund McMillen. Agora, depois de mais de 25 horas de jogo, podemos finalmente dar uma opinião mais conclusiva, e te ajudar a decidir se vale ou não a pena comprar esse bizarro game.
Como dito no texto de primeiras impressões, o estilo visual é simplista e lembra muito o próprio Super Meat Boy. Há pouquíssimas cores, e isso se acentua ainda mais nas fases bônus, que emulam o estilo gráfico do NES ou do GameBoy. A vantagem disso é que o jogo roda bem em qualquer máquina. Mesmo com uma placa de vídeo integrada de notebook, basta baixar o antialiasing e dá pra jogar tranquilamente a 60 quadros por segundo.
Desfibrilador virtual
Não estou exagerando quando digo que The End is Nigh é um dos jogos mais difíceis do ano. Embora ele comece com uma progressão tranquila, e num ritmo bem mais lento que Super Meat Boy, o caldo engrossa (e muito) lá pro fim da aventura.

O protagonista é Ash, uma gosma de um olho só que adora jogar videogame, e quer construir um amigo para jogar com ele. Como fazer isso? Coletando tumores perdidos pelas ruínas do que já foi o mundo.
Os tumores são coletáveis que variam de facilmente pegáveis a praticamente impossíveis, dependendo de qual lado do mapa você usou para chegar.
No começo, os tumores só servem para abrir alguns mapas extras, que dão acesso a fitas. As fitas destravam fases bônus que são estupidamente difíceis, e geralmente possuem condições mais cruéis que o jogo normal: às vezes você tem apenas 10 vidas para concluir uma fita de 10 fases, e em outras ocasiões você tem apenas UMA vida para concluir 10 fases. É preciso ser muito bom para conseguir todas as fitas e completar os jogos de cada uma.
Apesar disso, dá pra conseguir as fitas apenas explorando também, e há uma certa recompensa por se dar ao trabalho de fazer isso tudo, que é a trilha sonora.
Trilha mais do que clássica
Pode até parecer preguiçosa, mas a decisão de construir uma trilha apenas com remixes de música clássica funciona muito bem com esse jogo. Isso porque música clássica é clássica por um motivo, e se elas já resistiram a séculos sendo ouvidas, é bem provável que você não canse das centenas de mortes enquanto ouve novas roupagens delas.
As versões das fitas são remixes em 8 bits que, apesar de serem bem feitos, podiam oferecer uma opção de remix no mesmo estilo do jogo normal, afinal nem todo mundo gosta do timbre ardido da versão em 8 bits.
O engraçado é que as músicas fogem um pouco das músicas eruditas que sempre ouvimos. Não é só Mozart e Tchaikovsky; você vai ouvir Liszt e Saint-Saëns também. E essas músicas são necessárias para dar aquele ar de perigo e medo, necessário para climatizar um metroidvania.
Mas The End is Nigh é um metroidvania?
Nos fóruns de discussão que acompanham o game, não é incomum ver essa dúvida, mas a verdade é que The End is Nigh é um jogo de plataforma linear com alguns poucos elementos de metroidvania. Imagine como seria Megaman se, ao invés de 8 escolhas de chefes, você tivesse apenas 3, e não ganhasse nenhum upgrade. The End is Nigh é basicamente assim.
Ao invés de coletar upgrades, você volta às áreas anteriores munido apenas da sua curiosidade, e da sua (possível) habilidade de pular sobre obstáculos e sobreviver. De fato, é um jogo que recompensa a exploração, mas não espere encontrar nada que torne sua jornada mais fácil, com exceção do aprendizado.

Assim como em Super Meat Boy, não importa muito se você morrer, porque o intervalo entre seu erro e o reinício da fase é de um mero instante. O único problema é que muitas fases exigem que você espere antes de começar a pular, e isso incomoda bastante.
Cuidado com os spoilers abaixo
A exceção para o bom game design presente no resto do título, entretanto, é um dos pontos que mais me irritou durante a jogatina: nas últimas fases, que são obviamente mais difíceis, os tumores servem como vidas.
"Peraí, como assim?", você deve estar se perguntando. "Como é que um jogo de plataforma no estilo de Super Meat Boy, com mortes rápidas e precisas, funcionaria com vidas limitadas?"
Não funciona muito bem, porque quando isso aconteceu comigo, eu tinha poucos tumores, e tive que voltar às fases anteriores só para coletar cada um deles e ter uma maior chance de terminar o jogo sem ter que voltar 20 mapas por causa de um pulo impreciso.
Esse backtracking forçado também exibe outra falha no design do jogo: apesar de ter um mapa não-linear, você não pode escolher a fase exata, então se você quiser ir para Hollows-18, por exemplo, você precisa ir para Hollows-1 e progredir manualmente até a décima oitava fase. Claro que, na maioria das vezes, isso não é muito difícil, mas é algo que consome tempo e irrita.
Acabaram os spoilers
The End is Nigh é um jogo com algumas estranhas decisões, que acabam ferindo a sua capacidade de ser recomendado a novos jogadores. As últimas fases são algo que quase me fizeram desistir, e muita gente pode nem querer comprar o game se não forem muito fãs da ideia, por exemplo.
Apesar desse probleminha, ele ainda é um dos melhores jogos para quem curte jogabilidade pura e desafiadora. Esse ano está cheio de lançamentos de peso, como Horizon: Zero Dawn, The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Yooka-Laylee, Mass Effect: Andromeda, Persona 5 e Nier: Automata, mas poucos oferecem uma experiência como a de The End is Nigh. É um jogo feito para ser jogado com precisão, múltiplas vezes, e se você estiver com ânimo, dá até pra tentar um speedrun.
Edmund McMillen acertou em cheio. Mesmo não tendo potencial infinito, como The Binding of Isaac, ou uma dificuldade perfeita, como Super Meat Boy, The End is Nigh é um jeito novo de ver os jogos de plataforma bem feitos e desafiadores. E com uma trilha sonora de respeito, como sempre.
Nota 10
The End is Nigh - PC