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Copa 2018
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Na Rússia conservadora, mulheres também protagonizam a Copa

Nenhuma outra Copa registrou tantos debates sobre machismo no futebol como esta edição, realizada em um país onde é permitido bater em mulheres

Copa 2018|Cristina Charão, do R7


Integrante do grupo feminista Pussy Riot cumprimenta Mbappé na final da Copa
Integrante do grupo feminista Pussy Riot cumprimenta Mbappé na final da Copa

A final era da Copa do Mundo de futebol masculino, mas por alguns minutos três mulheres entraram em campo. O protesto das integrantes do grupo Pussy Riot no estádio de Luzniki pegou as equipes de segurança de surpresa. Mas ninguém pode se dizer surpreso com o fato de mulheres roubarem a cena também a decisão deste campeonato mundial.

Em nenhuma outra edição da Copa, o machismo e o sexismo no futebol tomaram tanto espaço nas manchetes esportivas. Algo que se torna ainda mais espetacular quando se considera que a Rússia é um país onde os homens podem, legalmente, bater na namorada ou mulher uma vez por ano sem serem acusados de crime algum.

A mesma lei, sancionada em 2017 por Vladimir Putin, também descriminalizou agressões físicas contra as mulheres que não provoquem lesões graves. Hematomas e cortes superficiais, por exemplo, não são considerados violência contra a mulher.

Neste cenário, poderia se esperar que os casos de abuso e assédio, tão “naturalizados” pela cultura machista do futebol, desaparecessem na Rússia. Só que a Copa da Rússia aconteceu em um momento histórico em que os movimentos de mulheres tomam as ruas e as redes sociais para denunciar abusos nas mais diversas áreas, do cinema aos parlamentos nacionais.

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O futebol não ficaria de fora desta onda de atenção mundial para a violência contra as mulheres.

45 casos de assédio

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As denúncias de episódios de assédio aumentaram, impulsionadas sobretudo pelas redes sociais, o que forçou a Fifa a fazer um acompanhamento especial. De acordo com levantamento encomendado pela organização à ONG Fare, 45 casos foram registrados oficialmente.

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Para embaraço de toda a torcida canarinho, o primeiro e mais forte dos episódios teve como atores principais homens brasileiros. Em vídeo que viralizou nas redes, o grupo faz com que uma russa repita palavras de baixo calão. O episódio rendeu a abertura de um inquérito formal por parte do Ministério do Interior da Rússia.

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"Esses são os números oficiais. Talvez, o número real seja dez vezes maior", disse Piara Power, diretor da Fare.

Jornalistas assediadas

Dentre os casos oficialmente registrados, 15 envolveram jornalistas de várias nacionalidades. A repórter da CBF TV, Laura Zago, foi uma delas. Um torcedor sérvio tentou agarrá-la enquanto ela fazia seu trabalho durante a partida do Brasil com a Sérvia, em Moscou.

Repórter da CBF TV é agarrada por torcedor sérvio
Repórter da CBF TV é agarrada por torcedor sérvio

“Eu não fui a primeira e infelizmente não serei a última a passar por este tipo de constrangimento”, escreveu a repórter, somando-se à campanha #DeixaElaTrabalhar. A campanha foi lançada por jornalistas esportivas brasileiras, depois de vários episódios semelhantes ocorrerem no Brasil.

A reação das jornalistas brasileiras e de outras nacionalidades aumenta na mesma proporção em que as mulheres conquistam mais espaço no jornalismo esportivo.

No Brasil, a Fox Sports fez a primeira transmissão de uma partida de Copa do Mundo narrada por uma mulher. Isabelly Moraes narrou o jogo de abertura do campeonato, quando a Rússia goleou a Arábia Saudita por 5 x 0.

Fifa faz mudanças

O site oficial da Copa do Mundo contou, em todas as partidas, com um blog minuto a minuto feito com a participação de dois comentaristas convidados, um de cada país envolvido na partida. Boa parte destes comentaristas eram mulheres.

Além disso, pela primeira vez, o comitê organizador tomou medidas contra os agressores. Credenciais de torcedores envolvidos em episódios de assédio foram canceladas.

Antes das partidas de disputa pelo terceiro lugar e da final da Copa do Mundo da Rússia, a Fifa também chegou a solicitar às emissoras de TV que evitassem mostrar “mulheres bonitas” nas arquibancadas durante as transmissões. Uma tentativa de fazer frente a uma cultura futebolística onde mulheres são apenas objeto de decoração e, portanto, podem estar à disposição da audiência dentro e fora dos estádios.

A Fifa parece estar entendendo que o mundo do futebol é, sim, feminino. O próximo passo é trabalhar para mulher nenhuma tenha mais que se esconder, nos estádios ou nas ruas.

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