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Empresário diz que atleta não se conforma por não salvar amigos

Filipe Chrysman, 16, despertou com cheiro forte de queimado. Logo após a tragédia, repetiu duas vezes ao telefone: "Você soube o que aconteceu?"

Esportes|Fabíola Perez, do R7

Jogador que sobreviveu ao fogo diz em redes sociais: "tá difícil, mas vai melhorar"
Jogador que sobreviveu ao fogo diz em redes sociais: "tá difícil, mas vai melhorar"

“Você soube o que aconteceu?”, perguntou o jogador da categoria de base do Flamengo, Filipe Chrysman, de 16 anos, por celular no dia em que o fogo tomou conta do centro de treinamento do Flamengo, no bairro de Vargem Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, da sexta-feira (8).

“Você soube o que aconteceu”, insistiu em tom angustiado o jovem com o empresário Bruno Pedrosa, às 6h50. “Só queria te falar que estou bem”, disse. “Assim que me falou isso, ele começou a chorar”, afirmou o assessor do centroavante do clube.

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Filipe foi um dos primeiros jogadores a ver o início do incêndio que deixou dez vítimas e três feridos no centro de treinamento Ninho do Urubu. “Agora, ele está oscilando bastante, tem horas que está bem, tem horas que começa a chorar”, afirma o empresário. Para tentar se esquecer, mesmo que, momentaneamente, das imagens do fogo invadindo os dormitórios, Filipe repousa na casa de familiares na cidade de Vassouras, no interior do Rio de Janeiro.


Na segunda-feira (11), deve ir ao encontro dos pais, que vivem em Minas Gerais. “Sugeri que ele passasse esses dias na casa de parentes porque a mãe dele está muito abalada. Parece que, nesses casos, os pais sentem até mais do que os filhos”, contou o empresário.

Filipe lembra com clareza – e com agonia – do calor que o fez acordar por volta das 5h da manhã da sexta-feira. No dormitório de número 6, que ele dividia com mais dois amigos, sua casa era a mais próxima do aparelho do ar condicionado. Na madrugada, o jogador despertou com o calor e com o forte cheiro de queimado.


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Filipe se levantou da cama e viu o ar condicionado chamuscado pelo fogo que atingia o aparelho do quarto. “Ele disse que viu o fogo muito próximo de sua cama”, diz o empresário. Sem ter a noção clara da proporção que as chamas atingiriam, Filipe caminhou até o bebedouro e pegou um copo de água para jogar no ar-condicionado.


Quando as chamas começaram a crescer e tomar conta do quarto, o garoto acordou os colegas. “Nesse momento, ele contou que os meninos acordaram e começou a gritaria ‘corre, fogo, corre fogo””, diz Pedrosa. “Alguns meninos saíram com ajuda do segurança e outros, pela janela.”

Filipe saiu pela porta. “Como o quarto dele era o de número seis estava mais perto da saída”, afirma o empresário. “Acredito também que como ele foi um dos primeiros a acordar, teve um pouco mais de tempo de escapar.” O garoto, segundo o empresário, tenta descansar do estresse e do trauma psicológico que enfrentou.

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No entanto, alguns pensamentos persistem quando Filipe se lembra que do fogo no Ninho. “Ele se sente muito triste por não ter conseguido voltar para tirar os outros meninos de lá”, diz Pedrosa. “Ele também comenta que não tinha ideia que das proporções que o fogo atingiria.”

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Apesar do repouso e da tentativa de se distanciar das lembranças do fogo, imagens como a de companheiros de clube correndo para se salvar das chamas desmaiando ao inalar a fumaça. “Meninos dessa idade nunca pensam que vão morrer. Ele diz muito que queria ter conseguido tirar os amigos de lá.”

Segundo o empresário, apesar da tragédia e do momento de silêncio, Filipe não pensa em abandonar os treinos e o futebol. “Ele tem um sentimento de querer vencer e continuar por ele mesmo e, sobretudo, pelos amigos.” Pelo Instagram, ele publicou uma mensagem que dizia "tá difícil, mas vai melhorar". Na sexta-feira, ele publicou uma imagem com o brasão do clube em luto: "os amigos se foram", escreveu.

Nos comentários, internautas deixaram mensagens de apoio ao jogador, aos companheiros do clube e às famílias. Alguns ressaltaram "é um alívio te ver bem, uma tristeza sem tamanho pelos amigos que se foram".

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