Daniel Corrêa é lembrado por lance de craque em estreia aos 10 anos
Corpo de ex-meia de Cruzeiro, Botafogo, São Paulo e Coritiba será sepultado, nesta terça-feira, em Conselheiro Lafaiete
Esportes|Paulo Henrique Lobato, Do R7
O corpo de Daniel Corrêa será sepultado nesta terça-feira (30), em Conselheiro Lafaiete, região Central de Minas Gerais, onde mora a mãe do ex-meia de São Paulo, Botafogo, Cruzeiro e Coritiba — em 2018 ele vestia o uniforme do São Bento (SP). Único filho de dona Eliana, dentista conhecida na cidade, o atleta foi encontrado morto no sábado, numa floresta de pinus (espécie de pinheiro), em São José dos Pinhais (PR).
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Daniel tinha 24 anos. Era ídolo na região de Conselheiro Lafaiete. Tanto que recebeu uma Moção de Aplausos da Câmara Municipal, em 2014, "pelo destaque no cenário esportivo nacional, tornando-se exemplo e referência para os jovens lafaietenses".
Era craque, como garante seu Adjalma Rodrigues Ferreira, o primeiro treinador. Daniel tinha 10 anos quando chegou ao Mineiro, time de várzea da cidade:
— Ele fez o gol da final contra o Flamengo. O jogo estava empatado em zero a zero e, por volta dos 35 minutos do segundo tempo, recebeu a bola fora da área. Deu um corte (no adversário) e meteu um tirambaço de lá mesmo. A bola encobriu o goleiro. Um golaço! E o jogo terminou a nosso favor. Foi o primeiro título dele.
Ainda garoto, muitos boleiros de Lafaiete comparavam o então menino a Lionel Messi. Do Mineiro, ele foi para o Centroluz. Passou por outros clubes da várzea até ser visto pelo Cruzeiro. Não deu outra: foi parar na Toca da Raposa. Disputou vários campeonatos, entre eles a Copa São Paulo, principal competição da base no Brasil.
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Quem se lembra daquela época é um xará de sobrenome Toscanini, que não seguiu a carreira, mas guarda boas lembranças do amigo. Foram quatro anos de convivência:
— Era uma pessoa tranquila, daquelas do interior mesmo. Ele era o mais calado do elenco. Não era muito de brincadeiras, farras. Dificilmente zoava alguém. Era na dele, tranquilo, humilde. Gente boa. Era craque.
Ele vestia a camisa número 10, a mesma de Dirceu Lopes, um dos maiores ídolos da torcida azul e branco (233 gols com o uniforme estrelado). Um episódio, contudo, marcou sua passagem pelo Cruzeiro. Na Copa São Paulo de 2013, ele fez como Paulo Henrique Ganso, ex-atleta de Santos e São Paulo, e não quis sair de campo na partida contra o Atibaia.
Mas saiu. Juninho, que o substituiu, fez o gol da vitória cinco minutos depois. Poucos meses depois, Daniel deixou o Cruzeiro. Teria recebido uma proposta tentadora do Botafogo e se mudou para o Rio de Janeiro. Foi lá que chegou aos profissionais.
Numa partida contra o Criciúma, fez três gols. Seu Adjalma, o primeiro treinador, vibrou lá de Lafaiete. E se recordou do primeiro contato com o então garoto de 10 anos:
— Nosso time iria disputar um amistoso. Ele chegou perto de mim e pediu para jogar. Nunca o tinha visto, mas o coloquei no banco. No segundo tempo, deixei ele entrar na partida e... O menino era gênio. Jogava muito. Me encantou e passou a fazer parte do elenco.
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Daniel também encantou a direção do São Paulo, que o contratou do Botafogo. Toda vez que ele se destacava numa partida ou mudava de clube, a família mandava um comunicado para o jornalista José Carlos, hoje apresentador do 99 Esporte Clube, da rádio Queluz, de Lafaiete:
— Um tio dele me passava as informações para eu divulgá-las. Tenho até uma foto com ele, que postei hoje no Facebook.
A foto foi clicada quando Daniel visitou a prefeitura, em 2016, ano em que José Carlos era assessor de imprensa do Executivo. Muitos moradores da cidade mineira, aliás, manifestaram pêsames à família do rapaz nas redes sociais.
Os pais de Daniel são separados. Por parte de mãe, ele é filho único. O pai, que tem outros filhos, reside em Juiz de Fora, na Zona da Mata, terra natal do ex-meia. Ele também deixou saudades lá.
Assim como no Morumbi. O São Paulo, por exemplo, divulgou uma nota de pesar, recordando que "a primeira partida pelo Tricolor foi sob o comando do técnico Juan Carlos Osorio, em 2 de setembro, diante do Joinville (0 x 0), em Santa Catarina". Corria o ano de 2015. Em 2016, ele fez parte do elenco que chegou à semifinal da Libertadores da América.
Em 2017, o meia foi emprestado ao Coritiba, onde conquistou, 13 anos depois de dar o título na categoria dente de leite ao Mineiro, o campeonato paranaense. Do Coxa, foi parar na Ponte, também por empréstimo e, neste ano, no São Bento.
Daniel encontrou a morte em São José dos Pinhais (PR), onde teria ido se divertir numa festa. Seu corpo foi encontrado na tarde de sábado. A polícia não descarta a possibilidade de vingança de um marido traído, segundo a imprensa paranaense. O corpo está previsto para chegar a Lafaiete na manhã de terça.
Será sepultado ao lado diante de parentes e antigos amigos da várzea.
Colaborou Matheus Renato, estagiário do R7
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