Chelsea sofre metamorfose e se reinventa até a Liga dos Campeões
Há cinco meses, equipe inglesa estava atrás de treinador e de jogadores; agora, comemora o troféu do principal torneio de clubes
Futebol|Juan Medina, da EFE

“Não sei se estou pronto para falar sobre jogadores específicos. Porque todos mostraram uma grande atitude ”, explicava o treinador do Chelsea, o alemão Thomas Tuchel, o homem que criou um bloco consistente e solidário na equipe inglesa. Por isso, prefere não falar de individualidades e sim de um time que veio formando desde janeiro passado, quando assumiu os "Blues" após a demissão de Frank Lampard.
Tuchel, que perdeu a final da Liga dos Campeões contra o Bayern de Munique na temporada anterior com o Paris Sant Germain, sai fortalecido após a vitória sobre o Manchester City no Porto, um treinador de método, consolidando uma defesa sólida (19 gols sofridos em 30 jogos), um compacto meio-campo e uma linha rápida e vertical de atacantes.

Um triunfo que representa um peso econômico, pois não se pode esquecer que a equipe de propriedade do magnata russo Roman Abramovich foi a que mais gastou em contratações no início da temporada.
Abramovich manda nos "Blues" desde 2003, período em que o Chelsea ganhou 17 troféus importantes (incluindo cinco Premier Leagues, cinco Taças da Inglaterra, duas Liga Europa e duas Liga dos Campeões), mais do que qualquer outro clube inglês.
Na temporada 2020/2021, mais uma vez, abriu os cofres e gastou cerca de 250 milhões de euros (cerca de R$ 1,5 bilhão) em uma bateria de estrelas como os alemães Timo Werner e Kai Havertz, o marroquino Hakim Ziyech, o inglês Ben Chilwell, o senegalês Edouard Mendy e o brasileiro Thiago Silva (este a custo zero).

Uma equipe de individualidades brilhantes

Embora Tuchel não queira falar em "jogadores específicos", as chaves para o Chelsea conquistar a sua segunda Liga dos Campeões (a primeira foi em 2012), têm nomes de grande importância e notoriedade no futebol europeu.

A meta começou nas mãos do espanhol Kepa Arrizabalaga, mas a sua irregularidade criou uma oportunidade para o senegalês Edouard Mendy, que agarrou a chance e trouxe segurança sob as traves dos Blues.
A linha defensiva não apresenta falhas expressivas desde a chegada de Tuchel. Reforçados por um desenho de três zagueiros centralizados e dois pelos lados, formado por jogadores até agora sem muito brilho - como o alemão Rudiger, o dinamarquês Christensen ou o espanhol Azpilicueta -, a zaga deu a sua melhor versão e mostrou o excelente nível desses atletas.
Contribuiu para isso a experiência do brasileiro Thiago Silva, que, no ano passado, esteve às portas do triunfo europeu com a camisa do PSG, cuja transferência foi mais que benéfica para Stamford Bridge. Outros jogadores de alto nível na linha defensiva foram o jovem Reece James e o lateral Bill Chilwell, sem esquecer a contribuição do francês Zouma e do espanhol Marcos Alonso, quando tiveram oportunidade.

Mas se o Chelsea pode falar de uma figura indiscutível ao longo destes últimos cinco meses, a “era Tuchel”, ninguém duvida na escolha do meio-campista francês N´Golo Kanté, melhor jogador da final, o melhor nas duas semifinais contra o Real Madrid e os pulmões desta sólida equipe.
Na casa dos 30 anos, o minúsculo meio-campista de 1,68 m conquistou o maior título de clubes que ainda não havia sido adicionado ao seu currículo impecável, mesmo com Copa do Mundo de Clubes no currículo.
Kanté venceu a Premier League com o Leicester (2016) e com o Chelsea (2017). Com os Blues soma ainda uma Copa da Inglaterra (2018), uma Liga Europa (2019) e a Liga dos Campeões conquistada a 29 de maio no Porto.
Ao nível da selecção nacional, Kanté soma o Mundial da Rússia (2018) e o vice-campeão do Euro 2016, título que tem a oportunidade de conquistar na próxima competição de seleções europeias, que se inicia em 11 de junho.

A grande temporada de Kanté, um meio-campista de força, posicionamento, julgamento e precisão, abriu um debate sobre se o francês é digno da Bola de Ouro.
Junto com o francês, o brasileiro Jorguinho e, em menor medida, o croata Kovacic, brilharam no meio do campo da equipe londrina - este perdeu boa parte da temporada por conta de lesões.

E no ataque, a força do Chelsea tem sido comandada pelo jovem Mason Mount, uma das grandes revelações do futebol inglês nas últimas temporadas e um jogador-chave na seleção da Inglaterra que disputará a Eurocopa.
Mount, 22 anos, é habilidoso, criativo, ágil, rápido e um jogador de futebol que quebrou o protótipo inglês das últimas décadas, quase sempre muito forte e estático. Ao seu lado, a dupla alemã Werner e Havertz passou por momentos de dúvida, mas, na final, consolidaram-se no ataque do Chelsea, do qual também participam o marroquino Ziyech, o francês Giroud e Pulisic, o primeiro americano a vencer o Liga dos Campeões.
O Chelsea é o atual rei da Europa mostrando como o futebol é dinâmico: era um time sem rumo há cinco meses, tempo suficiente para dar uma guinada e se tornar campeão. A metamorfose “azul” é um exemplo para guardar na história do futebol.