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Árbitro releva 'crime' de Fagner e pune festa de gol. Há algum sentido?

Paradoxo criado por esses dois episódios, num mesmo jogo, escancara um fato lamentável: tem banana comendo macaco na condução do futebol

Futebol|Eduardo Marini, do R7

Janderson festeja com torcida gol que custou segundo amarelo e vermelho
Janderson festeja com torcida gol que custou segundo amarelo e vermelho Janderson festeja com torcida gol que custou segundo amarelo e vermelho

Dois episódios, ocorridos na vitória do Corinthians por 2 a 0 sobre o Santos, pelo Paulistão, no domingo (2), na Arena Corinthians, mostram como a combinação de regulamentos encharcados de contradições, conservadorismo cego, falta de mínimo bom senso gera situações absurdas e inaceitáveis no futebol brasileiro.

Cena um: no primeiro tempo, Fagner atinge o lateral-esquerdo Felipe Jonatan, do Santos, com mais uma entrada estúpida digna de figurar na coleção de grosserias cometidas por ele na carreira.

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Com o corpo de lado e esticado, as travas da chuteira direita ao alto, na ‘ponta da lança’, em exibição ostensiva, Fagner projetou-se num carrinho criminoso rumo à perna esquerda de Felipe. Só não partiu algum ponto entre a canela e o tornozelo de Felipe Jonatan porque o santista, certamente ‘vacinado’ pelo que ouviu da fama do rival, tirou o pé do chão e saltou no instante certo, antes do atropelo.

A exemplo de outra colisão grave promovida pelo lateral corintiano - uma tesoura insana no meia Ederson, do Flamengo, em 2016, que abreviou a carreira do jogador, ignorada na ocasião pelo árbitro Heber Roberto Lopes -, o comandante do apito desta vez, Luiz Flávio de Oliveira, sequer deu falta no lance de domingo (2).

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Cena dois: Após receber um belo lançamento de Boselli no primeiro minuto da etapa final, Janderson, 20 anos, cria da base corintiana, invade a área, bate cruzado e faz seu terceiro gol como profissional do Timão, o segundo da equipe na partida.

Na comemoração, Janderson sobe uma pequena escada e abraça torcedores da Gaviões da Fiel. Como o regulamento proíbe a atitude e o jogador havia tomado um cartão por uma falta aos 15 minutos do primeiro tempo, leva o segundo amarelo e, ato contínuo, é expulso com o vermelho.

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O paradoxo criado pelas duas passagens, separadas no mesmo por minutos no mesmo jogo, escancara que tem banana comendo macaco no futebol, em particular no brasileiro. Não se pode culpar Oliveira no caso da expulsão. Ele fez seu dever ao cumprir uma determinação imposta pelos cartolas da arbitragem.

O que se pode – e se deve – fazer é condenar uma regra tão non sense e bobinha que impede um dos momentos mais bonitos surgidos em um jogo: a festa promovida pelo autor do gol nos braços de torcedores apaixonados no caldeirão fervente de um estádio de futebol.

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O caso do bote grotesco de Fagner contra Felipe Jonatan é, no entanto, outra conversa. Começa no erro igualmente grotesco de Oliveira, que nada marcou. Continua na falta de um aviso, que poderia ter sido dado por um auxiliar. Embala na inexistência de VAR nesta fase inicial do Paulistão, que poderia ajudar alguém na cabine a alertar o árbitro sobre o absurdo de deixar passar um lance daquele sem punição.

E termina no buraco exposto pela seguinte questão: até quando os naftalinados ranzinzas da Fifa, que resistem em segurar o estilingue da modernidade, irão ignorar que passou da hora de o futebol ter regra para determinar quando um atleta entra na maldade, para quebrar o companheiro de profissão, e suspender o impulsivo pelo tempo em que o rival ficar fora dos gramados?

Ou mesmo retirá-lo do futebol, caso seja esse o destino imposto ao agredido pela abordagem desleal? É razoável continuar a ver carniceiros em campo às risadas, encaixando salários gordos, enquanto suas vítimas sofrem distantes da profissão por meses, anos ou até o resto da vida?

Quem conhece e convive com Fagner dá sobre ele as melhores referências. Calmo, educado, inteligente ao se expressar, correto na profissão e no trato, e por aí vai. Não há motivo para duvidar disso. Mas em campo, esse rapaz, a exemplo de Felipe Melo, do Palmeiras, parece conviver com alguns vácuos de consciência e brancos de equilíbrio. Lapsos que parecem durar porquíssimos segundos. Mas quando ambos se livram deles e acordam... tarde demais. Deus meu, olhe o que eu fiz, agora foi...

Felipe Melo não deixa barato. É até mais teatral. Mas, pelo rastro de estrago deixado, a maldade parece se incorporar mais rotineiramente aos impulsos de Fagner. Se os dois, atletas com currículos elogiáveis, admirados pelos que os cercam, necessitam de análise e conselho profissional para civilizar esses impulsos, é coisa que devem tentar descobrir.

Mas há um fato indiscutível: ninguém tem direito de impedir um colega de profissão de trabalhar por longo tempo, levar uma puniçãozinha desproporcional ao estrago promovido e ficar tudo por isso mesmo. Chega. Deu.

Enquanto isso, os donos da arbitragem mandam encaminhar para o chuveiro jovens que explodem de emoção ao fazerem um gol em um clássico e derramam sua alegria nos braços de torcedores abrigados em pontos onde eles, jogadores, estiveram até bem pouco tempo exatamente como mais um daqueles apaixonados.

Tudo para moralizar o futebol.

Essa cartolada é demais, fogo, meu chapa.

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