Vlahovic não pega na bola mas a Juve bate a Fiorentina por 1 X 0
Na semifinal da Copa Italia, a "Senhora" arranca um tento contra, nos acréscimos, para encaminhar a sua passagem à decisão. Vaiado, xingado, e bem marcado, o DV7 desapareceu no combate.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

São obviamente terríveis, no grande circo do Futebol do Mundo, as rivalidades que antepõem os clubes de mesma metrópole. Na Bota, por exemplo, Genoa X Sampdoria, Juventus X Torino, Lazio X Roma ou Milan X Inter. Dia 1º de Março, terça-feira, pela primeira peleja de ida, fase de ida da Copa Itália (ou Coppa Italia, com dois pp e sem o acento no á, assim exige sua grafia original), as equipes do Milan e da Inter garbosamente ministraram uma lição de civilidade e de solidariedade ao posarem, juntas, para uma foto de apelo à paz imediata na Ucrânia. No entanto, nada sugeria que uma manifestação assemelhada pudesse acontecer nesta quarta, dia 2, na contenda de Florença.

Ocorre que se digladiariam a Fiorentina X Juve, e desde o dia 7 de Outubro de 1928 um peculiaríssimo cenário de guerra domina os duelos entre a “Viola” e a “Senhora”, de sedes separadas por 420 quilômetros de auto-estrada, cinco horas de viagem dentre aprazíveis paisagens. Em tal data, pela primeira vez, a Juve, nascida em 1897, e a Fiorentina, de 1926, se enfrentaram em Turim, capital do Piemonte, na qual já fervia a popularidade de uma certa FIAT, mãe da indústria automobilística da Bota. A Juve devastou a Fiorentina por 11 X 0. Humilhou a esquadra “Viola”, que se enraizava na Toscana e numa plaga que considerava as maravilhas artísticas do Renascimento como o seu maior trunfo em qualquer espécie de debate. Deu raiva, Michelângelo e Da Vinci sobrepujados por um prosaico motor.

A mídia de Turim, obviamente, se locupletou nas ironias que o pessoal de Florença considerou imperdoáveis. Pior, para a “Viola”, no evoluir do tempo mais as diferenças se exageraram. E, desde aquele resultado fatídico, inúmeros fatos serviriam como os catalisadores de fogosas reações. Na temporada de 1981/1982, por exemplo, a Juventus e a Fiorentina desembarcaram na jornada derradeira com os mesmos pontos. Mas, equívocos de arbitragem ajudariam a “Senhora” e então coube à mídia da Toscana provocar: “Melhor sermos os segundos do que sermos os ladrões”. Posteriormente, aliás, haveria diatribes parecidas. Logo após a Copa de 1990 a “Viola” cedeu Roby Baggio à Juve, contra a vontade pública do “Codino”, e os seus “tifosi” se enfureceram contra o roubo do ídolo. Agora, em Janeiro, se revoltaram contra a venda do contrato do astro sérvio Dusan Vlahovic, o DV7.
Como receberiam Vlahovic na pugna desta quarta?

FIORENTINA 0 X 1 JUVENTUS
Florença, Stadio Artemio Franchi
Árbitro: Marco Guida
Gol: Venuti/con
Os radicais da hospedeira distribuíram 10.000 apitos aos seus torcedores, quase 1/4 dos 40.000 e tantos presentes ao Franchi. Um alvo exclusivo, claro, Vlahovic, também acolhido com faixas mal-educadas, um dístico com a sua condenação ao Inferno do poeta Dante Alighieri, e mais os berros de “Cigano!” a cada vez em que se aproximava da pelota. Pior, amplificava o incômodo da visitante uma circunstância além do desagradável. Para desafiar o time de Vincenzo Italiano, o rival Max Allegri precisou armar o seu quadro a partir de um elenco desfalcadíssimo, doze atletas, apenas, dentre os profissionais, e um batalhão de garotos fisgados nas categorias de baixo. Por exemplo, o ala francês Marley Aké, 21 de idade, um súbito titular. A conseqüência: por 45’, o domínio integral da Fiorentina.

Infortúnio da “Viola”, mesmo com 60% de posse de bola, se frustrou nos seus seis arremates à meta de Mattia Perin. E a Juve não levou uma só pelota à grande área de Pietro Terracciano. Com certeza, no intervalo, Allegri examinou o seu banco de reservas à procura de uma solução. Como, no entanto, com meros seis homens de linha, e dentre eles três juvenis? Recorreu, digamos, a um dos seus adultos, o colombiano Cuadrado. E para quê? Quase nada. Coube à Fiorentina melhorar ainda mais. E logo aos 48’ o francês Jonathan Ikone conseguiu a magia de atirar num poste, e cara-a-cara com Perin, a oportunidade do 1 X 0. Apenas aos 59’ a “Senhora” se acendeu quando Morata substituiu o imóvel Moise Kean.

Inexorável, a marcha do cronômetro se transformou na inimiga principal da Fiorentina. Mais do que as poucas tentativas de tabela entre Morata e Vlahovic, com o apoio de Cuadrado. Curiosamente, na Juve, se destacavam dois brasileiros, o zagueiro Danilo, improvisado de líbero, um baluarte, e o volante Arhur, que assumiu todo o controle dos espaços entre as intermediárias. Até que um castigaço de fato descomunal punisse a “Viola” nos acréscimos. A descida de Cuadrado pelo flanco destro, o cruzamento, a bola que resvalou num pé de Milinkovic, subiu até o peito de Venuti e rolou às redes. Literalmente, a vitória caiu no colo da “Senhora”. Como, na Coppa Italia, ainda vale o antigo critério da “rete in trasferta”, a Juve poderá até perder de 1 X 2 o duelo de 21 de Abril que irá à final.

A outra porfia das semis:
MILAN 0 X 0 INTER
Milão, Stadio di San Siro
Árbitro: Maurizio Mariani
Retorno, com mando invertido, em 20 de Abril
Em seu Jubileu de Diamante, a edição 75 da Copa Itália apresenta uma singularidade. Na verdade, nasceu faz um século, em 1922, com o triunfo do Vado, clube que, hoje amador, se esconde na Série D, quarta divisão, e ostentou apenas 38 clubes das sete regiões ao norte da nação. Com o tempo, passou a abrigar times das repartições inferiores e de todas as vinte regiões. Em cem anos, porém, diversas vezes se interrompeu até se firmar, de fato constante, em 1957/58, então com 32 equipes e a com a conquista pioneira da Lazio.

Em 2019/2020, vencida pela Juve, acomodou 78. Daí, no entanto, a Covid-19 provocou um enxugamento radical e o Calcio ainda precisou de espaço para a Euro/2020, que a “Azzurra” levou, e para as eliminatórias do Mundial do Catar/2022. E a “Azzurra" ainda lutará por uma vaga, 24 de Março, no Stadio Renzo Barbera de Palermo, contra a Macedônia do Norte, e então dia 29, possivelmente no Dragão do Porto, contra o Portugal de Cristiano Ronaldo.

Raras vezes antes desta, digamos, era moderna, a Copa da Bota ostentou tão poucas equipes inscritas, 44: as vinte da Série A, as 20 da B e as quatro primeiras da C. Hoje sob o patrocínio da Frecciarossa, a linha de trens aerodinâmicos e de alta velocidade que atravessa a Itália, esta edição da Copa principiou em 7 de Agosto de 2021, teve apenas 42 pelejas até esta data, com 143 tentos registrados e a média excelente de 3,40.

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