Uma jornada de ouro na Natação, no Atletismo e até no Taekwondo
Na piscina, com Tallisson Glock e o Manuelzinho. No campo, com Alessandro Rodrigo do Peso. E no esporte estreante nos Jogos, com Nathan Torquato. Um total, agora, de 54 medalhas (19-13-22).
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Já conquistadas 48 medalhas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio/2020, o Time Brasil desembarcou muito feliz na jornada desta quinta-feira, 2 de Setembro de 2021, meros quatro dias antes de o evento se encerrar. Ainda longe da quantidade do Rio/2016, as 72 arrebatadas dentro de casa e por isso, claro, mais numerosas, havia suplantado as 43 de Londres/2012 e, paralelamente, com 15 de ouro, havia suplantado a meta do almejada centésima desde a estreia oficial nos Jogos de 1984 que Nova York partilhou com Stoke Mandeville, na Inglaterra, a sua origem dos paralímpicos em 1948.

Sim, também houve muita tristeza pela aposentadoria de Daniel Dias, da Natação, simplesmente o maior atleta do País nos Paralímpicos de todos os tempos, o maior de sua modalidade no planeta, desde Pequim/2008 o formidável ganhador de 27 medalhas, 14 de ouro, 7 de prata e 6 de bronze. De todo modo, a piscina propiciou ao Brasil um punhado de outros ídolos, como a pernambucana Carol Santiago que ganhou três de ouro, abiscoitou um bronze, comandou um revezamento de prata e ainda estabeleceu um recorde nos 100m Peito na classe S12 dos deficientes visuais. Sem falar de uma saudável contenda simultânea, entre os rapazes e as garotas da delegação, pela primazia na tabela. Das 48 medalhas do País até então, descontadas as três de provas mistas, as apareciam um pouco atrás, 20 X 25. No entanto, quase emparelhavam no ouro, 7 X 8. E a quinta-feira talvez acirrasse ainda uma outra disputa, da Natação, 20 (6-5-9) contra o Atletismo, 16 (7-4-5).

Talisson Glock, um catarinense de Joinville, 26 anos, um bronze nos 100m Livre, havia obtido com a farta folga de 5” a primeira colocação nas eliminatórias dos 400 Livre, categoria S6, destinada a deficientes físicos. Atropelado aos nove de idade por um trem, como conseqüência teve de amputar todo o braço esquerdo e a perna canhota bem abaixo do joelho. Jocoso, costuma brincar: “Quando vi a minha mãe em lágrimas ao meu lado eu apenas respondi: ‘Tá bom, mas eu tou é com fome’.” Na decisão, cruzaria com o italiano Antonio Fantin, 20 de idade, nascido com uma má-formação na irrigação sanguinea da sua medula e, consequência, uma paralisia dos membros inferiores. O brasileiro saiu frente por causa da sua impulsão melhor e o rival pôde se recuperar no meio da piscina por causa da qualidade das suas braçadas duplas. Só que mas viradas a folga de Talisson gradualmente se ampliou até que, com 4’52”42, ele se apropriasse do ouro, 1,28 de vantagem.

Dentre as damas, Carol Santiago se consagrou a estrela da Natação do Brasil no evento de Tóquio. Dentre os rapazes, todavia, ninguém superou o brilho de Gabriel Geraldo dos Santos Araújo, o Gabrielzinho, um mineiro de Santa Luzia, 19 de idade, que nasceu com focomelia, uma anomalia congênita que redunda em membros bem mais curtos do que o normal. Nestes Jogos, foi ele quem ganhou a primeira das medalhas do País, no dia 25, uma prata nos 100m Costas da classe S2. Ainda levou o ouro nos 200m Livre e agora, nas eliminatórias dos 50 Costas, o seu tempo, de 58”62, foi 0,76 melhor que o do chileno Alberto Abarza, diagnosticado com uma degeneração do sistema nervoso que provoca a fraqueza muscular mas não evita que tenha membros longos. Gabrielzinho larga sempre com atraso em todas as provas que disputa. Nas de Costas, pela impossibilidade de se segurar às hastes de praxe, acopladas ao bloco de partida, apóia seus pés na parede da piscina mas usa a boca para se prender a uma fita elástica que um assistente segura na outra ponta. Foi de 0,63 a sua reação, contra apenas 0,24 de Abarza. Uma diferença que recuperou com sobras. Com 53”96, fechou 3”8 à frente do chileno, seu segundo ouro.

Das 16 medalhas que o Atletismo ostentava antes de se iniciarem as disputas da quinta-feira, seis provinham das provas de campo, o Arremesso de Peso, o Lançamento de Disco e o Lançamento de Dardo. E depressa esse número cresceu para oito. No Peso, classe F35 das mulheres, uma alagoana de Maceió, Marivana de Oliveira Nóbrega, 31 de idade, já bronze no Rio com 9m28, desta vez levou a prata com 9m15 logo na primeira tentativa. Acometida de uma paralisia cerebral por escassez de oxigenação no parto, nasceu basicamente sem o movimento das pernas. Na época, médicos informaram que, talvez, uma cirurgia servisse para lhe propiciar mais conforto. Faltava grana à família, porém. E só com sete anos ela aprendeu a andar. Hoje é a segunda melhor de todo planeta na sua especialidade, atrás apenas dos 12m54 da fortíssima ucraniana Mariia Pomazan.

Líder no Disco e décimo colocado no Peso do Rio/2016, agora em Tóquio o paulista Alessandro Rodrigo da Silva, nascido em Santo André, 37 de idade, se frustrou ao ficar somente como o segundo na prova do Lançamento. Mas, na disputa do Arremesso, desta vez, se apresentou de uma forma devastadora. Apelidado de Gigante, ele trabalhava como químico industrial quando, em 2009, foi acometido de toxoplasmose, uma infecção de origem parasitária que paulatinamente diminuiu a sua acuidade visual. Em 2019 assumiu o recorde mundial do Disco, com 46m10. Teria ocupado o pódio inteiro, sozinho, se fosse possível pelas regras. Queimou uma das suas seis tentativas mas todas as outras cinco foram suficientes para vencer. A melhor, 43m16, novo recorde dos Jogos, bastou para alça-lo ao topo do pódio e deixou muito longe a prata do iraniano Mahdi Olad, 40m60.

No Salto em Extensão da F37, Mateus Evangelista Cardoso, um rondoniano de Porto Velho, 27 de idade, nasceu com o lado direito do corpo afetado por uma paralisia cerebral de nascimento. Porém, consegue compensar a dificuldade de movimentação com muita fisioterapia e muito esforço nos treinamentos. Já havia participado dos 100m, 11”72, sem chegar à decisão. Tinha a melhor marca de inscrição, 6m53. Pena, choveu demais, inclusive de modo a deixar opaca a tintura verde-reluzente dos seus cabelos. Obteve 6m05 no segundo saldo. O argentino Brian Impellizzieri respondeu em seguida, 6m44. Vladyslav Zahrebelnyi, da Ucrânia, alcançou 6m59. Na pista molhada e pesada, no entanto, Mateus não teve como aprimorar o resultado, ficou onde estava e levou um bronze.

No encerramento da jornada, já no fim de noite no Japão, o Brasil capturou um galardão cujo percurso transcorreria despercebido não terminasse numa decisão de um esporte inédito até então numa Paralimpíada. Depois de derrotar o russo Parfait Hakizimanana e o japonês Mitsuya Tanaka o brasileiro Nathan Torquato garantiu vaga na porfia pelo ouro da categoria -61kg do Taekwondo. Paulista da Praia Grande, 20 de idade, nasceu com uma anomalia no braço esquerdo. Batalhou pelo ouro com Mohamed Elzayat, do Egito e venceu por decisão dos juízes. Uma façanha formidável para quem foi campeão no Parapan de Lima/2019 e logo depois foi só o nono no mundial de Antalya, Turquia. E o Brasil ainda tem mais duas atletas no Taekwondo. Silvana Mayara Cardoso Fernandes, da categoria -58, entrará em ação no dia 3. E Débora Bezerra de Menezes, da classe +58, lutará no dia 4.

PS: Nos certames por equipes, na quarta-feira, dia 1º, as garotas do Tênis de Mesa classes 9-10, deficientes físicos (Bruna Alexandre, Danielle Rauen e Jennyfer Parinos) perderam na semifinal, 0 X 2, mas adicionaram um novo bronze à coleção do Brasil em Tóquio. No seu esporte não acontece uma a disputa pelo terceiro lugar. E o Brasil adicionou mais um bronze à sua coleção. No Goalball, uma espécie de gol-a-gol no solo para deficientes visuais, melhor ainda, 9 X 5 sobre a Lituânia e a sua classificação à decisão contra os Estados Unidos na sexta-feira, dia 3. E também o Futebol de Cinco para deficientes visuais, no mais absoluto sufoco, passou à final depois de derrotar o Marrocos por um placar mirrado de 1 X 0, e com um gol contra. Brigará pelo ouro, no dia 4, contra quem? Pois é, a Argentina.
E o Brasil agora já dispõe de 54 medalhas (19-13-22).

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