Uma análise comportamental da atuação do Brasil contra o Equador
Placar de 2 X 0, três pontos, 15 em 15 disponíveis, e agora quatro sobre a Argentina na classificação das Eliminatórias da Copa do Qatar. Um triunfo que não abafa a chamada crise "Copa América".
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Não bastasse o seu autoritarismo sem limites e, pior, sem educação, Rogério Langanke Caboclo, presidente da CBF desde 2019, acaba de sofrer uma denúncia abominável de assédio moral e até mesmo sexual sobre uma funcionária com dez anos de casa. A mesma grosseria ele manifestou com os jogadores da seleção brasileira que o procuraram, na quarta-feira, dia 2 de Junho, para reclamar do anúncio da realização da Copa América no País a partir do dia 13, isso depois de Argentina e Colômbia desistirem de sediá-la.

Na quinta-feira, véspera da partida da seleção, em Porto Alegre, contra o Equador, pelas eliminatórias da Copa do Qatar/2022, já na capital gaúcha, os líderes dos atletas se reuniram com o treinador Adenor Tite Bachi e com o seu coordenador técnico Oswaldo Giroldo Júnior, o ex-astro Juninho Paulista, campeão do mundo no Japão/Coréia do Sul em 2002, para a costura de uma posição comum. Dos bastidores pululavam as reclamações isoladas e também em grupinhos variados contra as “pressões absurdas” da CBF.

Na entrevista coletiva protocolar de pré-cotejo, em que o capitão Casemiro também precisaria aparecer, só Tite se abalou a enfrentar a Mídia e a exibir um constrangimento ostensivo quando lhe perguntaram sobre a crise evidente que fermentava. Com sua linguagem característica, disse que pediu toda a concentração do time na peleja contra o Equador e que só na terça, dia 8, depois do prélio diante do Paraguai, todos emitirão livremente as suas opiniões. Metaforicamente, colocou seu corpo à frente do elenco.

Sabia-se que os jogadores, quase em bloco, sumariamente se recusam a participar de tal Copa América. Não apenas por causa da Covid-19 mas, também, por não considerarem o momento, de cerca de 500.000 mortos, digno de qualquer celebração. E consta que Tite & Juninho já entregaram os seus cargos à CBF. Pois nesse cenário foi um exercício de atenção redobrada analisar o comportamento coletivo da seleção diante do Equador. Assim como as performances individuais, num prélio que, nem no papel, na teoria, parecia fácil.

Embora líder das eliminatórias da Comnebol, 12 pontos em 12 possíveis, o Brasil pegaria no Beira-Rio o terceiro na tabela, com 9 também em quatro porfias. Tradução: a vitória levaria o Equador ao mesmo patamar do Brasil – e com a vantagem, no desempate, pelo confronto direto. O retrospecto, porém, não propunha chance aos visitantes da “Tricolor”, que atuou em dois tons de azul. Desde 31 de Janeiro de 1942, quando superou o Equador por 5 X 1 na Copa América de Montevidéu, em 32 pugnas o Brasil havia somado 26 triunfos contra duas derrotas, a última, 0 X 1, em Quito, pelas eliminatórias da Alemanha/2006.

De fato, não sofreu percalços, no Beira-Rio. Mas não se exibiu de modo a merecer um mínimo de elogios. Culpa da falta de platéia a estimular com seus gritos? Não, porque não teve público nos seus quatro sucessos anteriores até aqui: 5 X 0 Bolívia na Neoquímica Arena do Coringão, 4 X 2 Peru em Lima, 1 X 0 Venezuela do Morumbi, 2 X 0 Uruguai na capital do vizinho cisplatino. Responsabilidade, seguramente, de uma conjunção de fatores: escassos treinamentos em uma semana de tensões mais a irritação crescente com a CBF. Na etapa inicial, Neymar apenas produziu alguma atenção, aos 40’, numa situação bem recorrente na sua carreira na seleção: as contorções, no chão, depois de uma infração.

O ânimo dos jogadores da “Canarinho” foi tão depressivo que, paralelamente à sua dificuldade de arrematar à meta do estouvado arqueiro Alexander Domínguez, pareciam à espera de um pênalti que aliviasse a sua incompetência. Em três vezes protestaram, e tolamente, contra marcações do apitador Alexis Herrera da Venezuela, discretíssimo, conforme convém ao bom árbitro. Pobre Tite, tentou de tudo, inclusive ressuscitar o velho 4-2-4 aos 62’, quando tirou Fred, um meio-campista, e colocou em campo Gabriel Jesus, um avante. E aos 65, desafogo, saiu o tento do 1 X 0, numa enfiada de Neymar a Richarlison.

Foi emblemática a resposta do elenco ao gol: todos os jogadores rumaram à lateral e se amontoaram sobre Tite, um súbito líder capaz de protegê-los contra o mandonismo de Caboclo. Aos 89’, depois de Herrera gastar quase três minutos de consulta ao VAR, ocorreu um penal de fato, Preciado em Gabriel Jesus. O clima na seleção deve estar muito mais pesado do que pressupõe a nossa vã imaginação. Neymar cobrou horrorosamente, nas mãos de Domìnguez. Pena, para o arqueiro, que ele tenha se adiantado e o mediador determinou nova cobrança. Neymar acertou, 2 X 0. Três pontos para o Brasil e, agora, três dias dramáticos, antes da sua sexta peleja em Assunção, contra o complicado Paraguai.
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