Tristemente, e tolamente, um tiro direto no pé do Esporte do Brasil
Uma decisão da Corregedoria de Justiça impede que os magistrados Ney Bello e Caputo Bastos participem do essencial Conselho de Ética do COB
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Uma imprevidência da CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, somada à precipitação do ministro Humberto Martins, o Corregedor Nacional de Justiça, acaba de esfacelar com uma das ações mais dignas e mais notáveis da modernização do COB, o Comitê Olímpico do Brasil. Um mínimo folículo de pelo, em um ovo desimportante, se transformou numa explosão em cadeia de dimensões não percebidas mas, já não bastasse a extinção do Ministério respectivo, certamente também danosas para a administração conveniente de todo o Esporte do País. Lastimavelmente, bobamente, um tiro no pé.

A sequência se iniciou quando a CBF inadvertidamente indicou, para o novo Comitê de Ética da Conmebol, o seu sempiterno Diretor Jurídico, Carlos Eugênio Lopes, que não poderia acumular os dois encargos. Lopes desistiu da Conmebol e a CBF indicou, ao lugar, um desembargador, Marcelo Buhatem. A Conmebol imediatamente aceitou a substituição. No entanto, para Humberto Martins, haveria vedações, digamos, constitucionais, a tal nomeação.

Intempestivamente, o Corregedor reagiu: ''Trata-se de função potencialmente conflituosa, relacionada às paixões futebolísticas e que teriam o condão de interferir na imagem do Poder Judiciário e na independência e/ou imparcialidade dos julgamentos de questões submetidas ao julgamento (sic) do desembargador Marcelo Buhaten”. Depressa o desembargador se defendeu, com lógica além de razoável. Afirmou que não receberia qualquer tipo de pagamento na sua função na Conmebol. Observou que representar o Brasil no Comitê de Ética da Conmebol não equivale a de ser um membro da Justiça Desportiva, por exemplo. O Comitê de Ética não possui competência para qualquer espécie de julgamento disciplinar. Verdade verdadeira..

O Corregedor, porém, não perdoou. E, por escrito, emitiu um documento perigosamente generalizante. Um texto em que recomendou que juízes se abstenham de exercer funções, ainda que em caráter honorífico e sem remuneração, em qualquer órgão ligado a federações, confederações ou outras entidades desportivas. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Mirou em Butahem, na CBF, na Conmebol - e acertou no COB,

Acontece que, do Conselho de Ética do COB, livremente eleito em Março último, participam dois magistrados de prestígio no Esporte, Guilherme Augusto Caputo Bastos, um ministro do TST, e o desembargador Ney de Barros Bello Filho. Com o presidente do CdeE, Alberto Murray Neto, herdeiro direto da competência do saudoso Sylvio de Magalhães Padilha, mais Bernardino Santi, por anos um dos médicos de diversas delegações do País, e mais Sami Arap Sobrinho, ex-presidente da bem administrada entidade que comanda o Rúgbi no Brasil, Caputo Barros e Ney Bello compõem um dos melhores quintetos que a História Olímpica do País já conseguiu reunir.

Sou testemunha presencial da apaixonada eficiência com que esse quinteto já trabalha desde a sua criação, cerca de oito meses atrás, felizmente, enfim, no primeiro Conselho de Ética jamais instituído no Esporte por aqui. Sei de que forma limpíssima o CdeE já se incumbiu de descascar, discretamente, um abacaxi gigantesco, aquele caso tenebroso de assédio sexual na Ginástica. Sei de como cada qual se empenha no que faz no CdeE, pelo autêntico e puro amor ao Olimpismo. E sei, inclusive, que Bello e Caputo Bastos bem poderiam se defender, na Corregedoria, com argumentações irrefutáveis.

Porém, infensos aos duelos, ambos optaram pela tolerância e pela disciplina, e, nesta terça-feira, o triste dia 4 de Dezembro de 2018, encaminharam os seus pedidos de demissão a Paulo Wanderley, o Presidente do COB. Pena. Por causa de menos do que um pelo em ovo todo o Esporte do Brasil perde dois personagens que só poderiam engrandecê-lo. Menos mal que o COB, hoje, já dispõe de um Código de Ética, que Caputo Bastos e Bello ajudaram a redigir.
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