Maria Portela, um oceano de justas lágrimas
Sergio Perez/ReutersUma satisfação molhada. Nos quatro primeiros dias dos Jogos de Tóquio/2020, o Time Brasil conquistou cinco medalhas – uma de ouro, duas de prata e duas de bronze. Dessas, três provieram de esportes inéditos na História da Olimpíada, o ouro de Ítalo Ferreira no Surfe e as duas de prata, Rayssa Leal e Kelvin Hoefler no Skate/Street. Das cinco, duas surgiram das águas. O ouro de Ítalo na Praia de Tsurigasaki. Uma de bronze, de Fernando Scheffer, na piscina do Tokyo Acquatics Center. E mais: para este 28 de Julho, o Dia 5 da XXXII Olimpíada da Era Moderna, se havia a promessa de novos pódios, viriam da piscina. Que nada, foi uma jornada de secura. De zero medalhas. E um mar, mesmo, de lágrimas, derramadas pela judoca Maria Portela, prejudicadíssima na sua segunda luta.
Ítalo Ferreira, no alojamento dos turistas, com a prancha que se quebrou
Jonne Roriz/COBOs otimistas em excesso e os fanáticos de plantão talvez se incomodem com os números do País até aqui, números supostamente parcos. Exagerados, aqueles que fantasiam muito além do horizonte. Na verdade, porém, desde que iniciou a sua participação nos Jogos, em Antuérpia/1920, nas 23 edições anteriores da competição, o Brasil nunca teve um começo tão auspicioso. No Rio/2016, um evento em que utilizou uma delegação recorde de 465 atletas, ou 209 mulheres e 256 homens, até o Dia 4 só havia acumulado duas medalhas
Rafaela Silva, no seu triunfo no Rio/2016
COBNo Dia 1, uma prata de Felipe Wu, com a Pistola de Ar Comprimido. Desta vez, Felipe empacou numa triste 32ª colocação dentre 36 disputantes. No dia 3, Rafaela Silva, no Judô. Agora punida em um caso absurdo de dopagem, Rafaela não pôde defender o seu título: culpou um bebê de colo, que ingeria um remédio vedado, por contaminá-la ao confundir seu nariz com mamadeira. No passado, a melhor performance do Brasil havia acontecido em 2012, Londres, três medalhas. No Judô, um ouro e um bronze, de Sarah Menezes e de Felipe Kitadai, Na Natação, prata de Thiago Pereira. Nenhum deles está hoje em Tóquio.
Leo de Deus, infeluzmente apenas a sexta colocação
Sátiro Sodré/CBDADe volta à idéia da satisfação molhada, a Natação teve duas oportunidades de pódio neste Dia 5. Primeiro, na prova dos 200m Borboleta, pelo sul-mato-grossense Leonardo de Deus, 30 de idade, um veterano dos Jogos de Londres (21º lugar) e dos Jogos do Rio (13º). Com o tempo de 1’54”97, o segundo nas fases classificatórias, Leo desembarcou esperançoso na final. Piorou a marca, 1’55”19, sexto lugar. Mas, nem que a mantivesse ele arrebataria uma medalha. Ficaria no quarta colocação. Todos os oito contendores, aliás, pioraram os seus resultados. E, dos seus adversários de bateria nas eliminatórias, só um, o italiano Federico Burdisso, passou à sua frente e acabou por arrebatar o bronze. O campeão, Kristof Milak, da Hungria, 1’51”25, fôra o mesmo primeiro na prova de classificação do brasileiro.
Uma passagem do Revezamento 4 X 200 do Brasil, o mesmo oitavo lugar
Sátiro Sodré/CBDAUma segunda chance sucedeu na decisão do revezamento 4 X 200 Livre para os rapazes. Uma chance teoricamente menor, pois o elenco do Brasil, Luiz Altamir – Fernando Scheffer – Murilo Sartori – Breno Correia, apenas ficou na oitava colocação nas eliminatórias, tempo de 7’07”73, bem atrás dos 7’03”25 da Grã-Bretanha, dona da melhor marca. Uma missão impossível? Não, pois em Moscou/1980 o País já havia abiscoitado um surpreendente bronze nessa prova, 7’29”30 com Jorge Fernandes – Marcus Mattioli – Ciro Delgado – Djan Madruga, apenas atrás dos 7’28”60 da Grã-Bretanha e dos 7’23”50 da URSS, a ex-União Soviética. Fernando Scheffer, bronze individual na distância, abriu o revezamento e entregou a Sartori em segundo lugar. E daí o Brasil se reencontrou com a sua realidade. Sartori passou em sexto, assim como Breno. E Altamir não pôde mais reagir. O Brasil em oitavo, 7’08”22, um tempo bem pior. Reprisasse a marca da qualificatória, seria o sexto.
Portela, na sua primeira luta, uma vitória fulminante
@TimeBrasilEncerrados os esforços da Natação, ao invés de satisfação molhada os atletas do Brasil buscaram a alegria do pódio nos ásperos tatames do antológico Budokkan do Judô. As mulheres, com a experiente Maria de Lourdes Mazzoleni Portela, gaúcha, 33 de idade, categoria -70kg. Os homens com Rafael Godoy de Macedo, paulistano de 26 anos, na categoria -90kg. A estreia olímpica de Rafael não durou mais do que meros 31”. Dominante, Islam Bozbayev, do Cazaquistão, determinou a despedida do brasileiro com um golpe perfeito, um Ippon de almanaque. Então, Maria Portela, no seu duelo contra Nigara Shaeem, uma afgã do Comitê dos Refugiados, venceu mais depressa ainda, só 28”.
Um dos ângulos do não registrado Waza-Ari de Maria Portela
Jack Gueza/AFPA chave de Maria Portela, a décima do ranking mundial no seu peso, lhe propôs, como adversária seguinte, a 14ª, a russa Madina Tomaizova. Não ocorreu uma luta, mas, simultaneamente, homenagem e afronta à memória de Jigoro Kano, o idealizador do Judô. Encerrado o tempo normal de 4’, as duas garotas se compeliram ao Golden Score, o tempo extra que, hoje, não tem mais limitação. Portela chegou a derrubar Tomaizova num Waza-Ari que lhe daria a vitória. De ângulos diversos os replays atestaram a efetividade do golpe.
Outro dos ângulos do golpe que daria a vitória à judoca gaúcha
@Gaspar Nóbrega/COBO árbitro de vídeo, sabe-se-lá por quê, não confirmou. Pior, aos 10’58” da prorrogação, o mediador Everardo García, do México, também inexplicavelmente, advertiu Portela por falta de combatividade. García já se tornou conhecido no meio do Judô como “em caso de dúvida, contra o Brasil”. Ambas tinham duas punições. A terceira da gaúcha significou uma derrota injustíssima, afronta a Jigoro Kano, e produziu uma crise de choro mais longa do que a própria porfia. Maria, contudo, aprendeu que, no seu Esporte, não existe o patetismo das reclamações. Assim que se acalmou, realizou a sua homenagem ao Mestre com uma declaração emocionante: “No Judô é assim. Quando a gente não define, é árbitro que tem que decidir. Agora, eu quero ajudar no desafio por equipes. Eu ainda vou subir no pódio”.
Robert Scheidt, por enquanto o terceiro lugar na Vela
Júlio César Guimarães/COBSonho, igualmente, de treze outros brasileiros que, nas águas da Marina de Enoshima, batalham pelo pódio da Vela, ou Iatismo, que já propiciou 18 medalhas ao País, sete de ouro, três de prata e oito de bronze. Embora com quase todas as classes ainda no primeiro terço das suas disputas, já parece bem pouco confortável a situação das tripulações. Apenas a Laser, do campeoníssimo Robert Scheidt (dois ouros, duas pratas e um bronze em seis edições dos Jogos) se mantém na Zona de Premiação, o terceiro lugar. Completou seis de dez regatas e tem 33 pontos perdidos, a seis da prata e a 15 do ouro. A 49 de Martine Grahel e Kahena Kunze, ouro no Rio, ocupa a sétima posição, 16 pontos, a seis do bronze, cinco de doze regatas. A prática da Vela, no entanto, depende do mar e dos ventos. E até a chamada Medal Race, em que os pontos contam o dobro, tudo, claro, pode ocorrer.
Gostou? Clique num dos ícones do topo para “Compartilhar”, ou “Twittar”, ou deixe a sua opinião no meu “FaceBook”. Caso saia de casa, seja cauteloso e seja solidário, use máscara, por favor. E fique com o abraço virtual do Sílvio Lancellotti! Obrigadíssimo!
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.