Saiba como foi o melhor Santos e Palmeiras de todos os tempos
Aconteceu em 6 de Março de 1958, numa quinta-feira, resultado de 7 X 6 para o alvinegro de Pelé e do treinador Luís Alonso Peres, o Lula, contra o alviverde de Mazzolla/Altafini e de Oswaldo Brandão
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Uma quinta-feira, dia 6 de Março de 1958. Eu ainda não havia completado os meus 14 de idade. Meu mano Gigio estava longe dos 12 dele. Eu corintiano, e ele palmeirense como o nosso pai Edu, que apareceu em casa com uma novidade alvissareira. Um bom funcionário da Prefeitura de São Paulo, tinha ganho de prêmio de performance três permanentes para um semestre de partidas de Futebol no Municipal do Pacaembu. E poderíamos estreá-las naquela noite, Palmeiras X Santos pelo Torneio Rio-São Paulo. Não refuguei. E não me arrependi. Entre 43.068 espectadores, eu desfrutaria o privilégio de presenciar um dos melhores jogos de todos os tempos. Basta lembrar o resultado: deu Santos, 7 X 6.

Acho que já imaginava o meu futuro profissional, tanto que preservei “A Gazeta Esportiva” do dia seguinte. João Etzel Filho, um árbitro robusto que tinha a fama de forjar empates através de penais e de expulsões, apitou o prélio. O Santos atuou com: Manga, Hélvio e Dalmo; Fiotti, Zito e Ramiro (Urubatão); Dorval, Jair da Rosa Pinto, Pagão (Afonsinho), Pelé e Pepe. O Palmeiras atuou com: Edgar (Vítor), Édson e Dema; Waldemar Carabina, Waldemar Fiume e Formiga (Maurinho); Paulinho, Nardo Collela, (Caraballo), Mazzolla, Ivan e Urias. Lula, ou Luís Alonso Peres, dirigia o Santos. Oswaldo Brandão tocava o Palmeiras.

Até mais do que o resultado, impressiona o desenrolar do placar. O arisco ponteiro-canhoto Urias, ex-América de Rio Preto, aos 18’ fez Palmeiras 1 X 0. Pelé, meses antes de se consagrar “O Rei” na Copa da Suécia, igualou aos 21’. E o Santos virou aos 25’, graças a Pagão, um centro-avante de porte delgado porém uma habilidade magistral. Mal deu a saída, aos 26’, o “tanque” Nardo escapou na velocidade e re-empatou. Mas, com Dorval aos 32, Pepe aos 36 e ele, Pelé, aos 45, o Santos escancarou uma folga avassaladora de 5 X 2. No intervalo, no vestiário do seu alvinegro, Zito ironizou: “Será cinco vira e dez acaba”.

Do outro lado, no vestiário do alviverde, predominava a desolação. Aos prantos, por se sentir culpado, o arqueiro Edgar pediu que Brandão o substituísse. E o “Caçamba” realizou também duas outras alterações fundamentais e tornou mais incisivo o seu elenco. Colocou Caraballo, um uruguaio catimbeiro, no lugar de Nardo. Sacou Formiga, ex-Santos, um volante marcador, e mandou ao gramado o apoiador Maurinho. Mais. Nas escadarias que conduzem ao campo, com o seu tradicional linguajar bem simplório, bradou: “E p..., não se esqueçam da vergonha na cara!” E de fato, o Palmeiras, imponente, ressuscitou.

Primeiro, num pênalti bem típico das produções escalafobéticas de João Etzel Filho, Paulinho diminuiu aos 61’. E daí o valente piracicabano José João Altafini, o Mazzolla, que completaria os 20 anos em 24 de Julho e também fulguraria na Suécia e no "Calcio" da Velha Bota, inflamou a porfia com as suas arrancadas características e com gols aos 65 e aos 73’, além de um passe para a reviravolta, Urias, aos 79. O improvável acontecera. Com quatro tentos em apenas 18 minutos, o Palmeiras havia viajado dos 2 X 5 aos 6 X 5.

Cerca de 86’, meu pai e meu irmão já se arrumavam para a retirada, felizes, quando, inacreditavelmente de cabeça, Pepe, apelidado de o “Canhão da Vila”, fez 6 X 6. Tudo bem, ambos se conformaram. Valera a bela recuperação, valera testemunhar tantos tentos. O Palmeiras, no entanto, mal pôde se acostumar ao consolo. Logo aos 87, no lance imediatamente seguinte, depois de uma série de tabelas deliciosas, coisa comum naquele Santos, Pepe soltou um rojão cruzado e cristalizou o triunfo espetacular, 7 X 6.

Sim, sem dúvida, um dos melhores combates que eu pude ver. Mas, também, creio nisso, uma das melhores partidas da antologia do duelo entre Palmeiras X Santos. Não, eu não creio que neste sábado, o dia 30, num clássico inédito na sua história, pela finalíssima da Copa Libertadores de América de 2020, e no Maracanã do Rio, os velhos rivais consigam reprisar aquela cornucópia de gols. No entanto, estou seguro de que, apesar dos vazios de torcedores nos 78.838 lugares do estádio, honrarão o seu formidável retrospecto.

(*Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gylmar, Mauro, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe)
Desde que a Libertadores nasceu, em 1960, com um triunfo do Peñarol do Uruguai, os clubes do Brasil levantaram a taça em 19 ocasiões, atrás somente dos argentinos, 25. Obviamente os 19 se tornarão 20. No caso de vitória do alvinegro, que ganhou a Copa em 1962, 1963 e em 2011, a quarta vez. O alviverde, por enquanto, exclusivamente curte o sucesso de 1999. Só em duas ocasiões ocorreu de se oporem clubes do Brasil. Em 2005, o São Paulo suplantou o Athletico/PR. E daí, em 2006, sucumbiu diante do Internacional/RS. Como o “Tricolor” e o Grêmio/RS já têm três títulos, neste sábado os seus torcedores, para não entregarem a primazia, claro, fingirão ser palmeirenses desde criancinhas.

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