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Silvio Lancellotti - Blogs

O anjo-da-guarda de Trump na Covid é um ex-craque do Basquete

Anthony Fauci, o médico-infectologista que convenceu o presidente dos Estados Unidos a levar a sério a pandemia, quase foi um astro da NBA

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Fauci, na Casa Branca, com a sua foto no time da Regis
Fauci, na Casa Branca, com a sua foto no time da Regis

Na madrugada de 3 de Abril de 2020, quem procurou a página virtual da NBA, National Basketball Association, deparou com uma surpresa de fato inimaginável. Em um papo “online”, Steph Curry, um dos maiores jogadores do seu esporte em todos os tempos, trocava idéias com o Doutor Anthony Fauci, o formidável infectologista que conseguiu inverter a cabeça dura de Donald Trump e, em tempo, afortunadamente, o convenceu da inexorabilidade de aceitar e de oficializar o isolamento social em todos os Estados Unidos.

Curry e Fauci na TV NBA
Curry e Fauci na TV NBA

Até cerca de um mês atrás, aliás, o Dr. Fauci não passava de um quase anônimo, ao menos para as gerações mais jovens, ou aquelas desinteressadas das coisas da Ciência. Tanto que noutra ocasião, diante da TV, Donnie Walsh, o todo-poderoso recém-cartola dos Indiana Pacers, havia se impactado ao vê-lo ao lado de Trump, numa coletiva na Casa Branca, enquanto os caracteres debaixo da imagem o apresentavam como o mais importante especialista em moléstias contagiosas do planeta. Mais. Tímido, óculos de armadura de metal, atrás de um pódio adequado ao 1m90 de Trump, Fauci, apenas 1m70, exibia uma foto que amargava a memória de Walsh. Não, não, inacreditável!

Trump e Fauci, numa coletiva da Casa Branca
Trump e Fauci, numa coletiva da Casa Branca

Walsh não cruzava com Fauci desde determinada noite de Inverno de 1958, quando ambos se confrontaram em um ginásio estudantil do Bronx, num dos subúrbios de Nova York. Walsh era o astro da Fordham Preparatory School. E Fauci era o armador do time visitante da Regis High School. Favoritíssima a Fordham. Numa temporada de 18 partidas, a Regis ostentava a marca ridícula de 16 derrotas. Pois o atleta de número 4, o capitão da Regis, acabou com os rivais através dos seus passes, dos seus dribles, os seus rebotes e os seus arremessos, 12 pontos num resultado de 64 X 51. O Curry daquele cotejo.

Fauci, número 4, o capitão do time da Regis
Fauci, número 4, o capitão do time da Regis

Nascido no Brooklyn, 24 de Dezembro de 1940, um dia abençoado para a sua família de católicos originários da Sicília, embora componente de um elenco muito ruim, Fauci chegou a atrair as atenções dos “scouts” da NBA. A sua meta, porém, não estava numa tabela e num aro e sim no diploma de médico. Seu pai, Steph, como Curry, e a sua mãe, Eugenia, tocavam uma farmácia e, desde a sua meninice, Anthony trabalhou como um dos preparadores das fórmulas que lhes encomendavam. Acabaria por se diplomar em Cornell e, enfim, assumir o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas.


A farmácia da Família Fauci, no Brooklyn, Nova York
A farmácia da Família Fauci, no Brooklyn, Nova York

Em plena evolução da Covid-19, quando Fauci criticou a expectativa de Trump pelos supostos efeitos benéficos da cloroquinina e sugeriu que o governo adotasse medidas objetivas de profilaxia, como a quarentena, o presidente o desprezou como se fosse um mero palpiteiro. O tempo e a maneira avassaladora com que a pandemia se espalhou, no entanto, o compeliram a engolir a sua inculta teimosia. E Fauci se tornou personagem obrigatório em todas as aparições de Trump nos finais de tarde da Casa Branca.

Walsh, nos Pacers, com o super-astro Larry Bird
Walsh, nos Pacers, com o super-astro Larry Bird

Foi numa dessas sessões que Donnie Walsh se espantou: “Esse cara, 62 anos anos atrás, liderou uma das exibições mais impressionantes que eu pude testemunhar”. E Walsh conhece muitíssimo bem o Basquete. Um ano mais novo, construiu uma carreira repleta de primores em clubes do prestígio de Denver Nuggets, Indiana Pacers, New York Knicks, até retornar aos Pacers. Mais. Descobriu, então, que Fauci já havia fulgurado, em 1984, quando o mundo todo se apavorou com a eclosão da AIDS, e que já havia assessorado cinco outros ocupantes da Casa Branca, de Ronald Reagan a Barack Obama.


Fauci, em 1985, numa aula sobre AIDS-HIV
Fauci, em 1985, numa aula sobre AIDS-HIV

Numa das exposições sobre o andamento do combate à Covid-19, o presidente, que em seus idos de empresário eventualmente aparecia em cotejos de Basquete, tentou uma piada, sem graça, sobre a subitamente famosa pugna de Fauci contra Walsh. Não citou o nome de Walsh, mas o perdedor ainda assim não gostou muito: “Detesto que alguém me lembre daquela noite”, ele ironizou. Quanto a Curry, falou: “Eu me orgulho por compararem o Doutor comigo. Pena, em isolamento, não pude abraçá-lo.”

Fauci e Christine, num evento na Casa Branca
Fauci e Christine, num evento na Casa Branca

Fauci, de seu lado, dispensou os elogios do presidente e, com a sua emblemática discrição, meramente tangenciou uma pergunta sobre as ameaças de que a extrema-direita dos EUA, uma habitual aliada de Trump, lhe fazia através das tais “Redes Sociais”. Depressa, contudo, o presidente determinou que se reforçasse a proteção pessoal de Fauci, de Christine Grady, sua esposa, e das três filhas do casal, unido desde 1985. Então uma bióloga que se encarregou de co-elaborar os primórdios do tratamento da AIDS nos EUA, Christine hoje funciona como o anjo-da-guarda do marido. E afetuosamente ela brinca: “Ele trabalha 20 horas por dia. Mas, ainda faço com que coma bem, beba muita água, e durma ao menos as outras quatro...”

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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