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Silvio Lancellotti - Blogs
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Memórias da Copa 17: a história da nova Taça Fifa, desde 1974 até 1998

Depois de o Brasil conseguir a posse definitiva da deusa alada, no México/70, a FIFA criou outro troféu, com o seu nome, O percurso, ainda no Século XX, do triunfo da Alemanha ao sucesso da França.

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti


Beckenbauer, na estreia da Taça FIFA, em 1974
Beckenbauer, na estreia da Taça FIFA, em 1974

Definitivamente no Brasil a deusa alada, a Jules Rimet, já para a Copa de 1974 a FIFA precisou bem depressa criar um novo troféu. E um concurso compacto definiu um artista italiano, de nome Silvio Gazzaniga, como o seu idealizador. Do talento de Gazzaniga brotou uma peça completamente diferente da Jules Rimet. Ao invés de se inspirar no padrões clássicos da Grécia o italiano investiu na modernidade, uma taça quase rústica, uma figura abstrata a carregar o globo terrestre. Apenas batizada de Coupe FIFA, uma taça para sempre transitória, ôca e com uma casca de 6,1kg de ouro, altura de 36,5cm e a base de malaquita verde e um anel de ouro, então avaliada em R$ 800 mil. Claro, cada ganhador da competição, desde então, teve direito a uma réplica. E a primeira, de 1974, ficou com a seleção hospedeira. Eis, final por final, pela nova Taça FIFA, ainda durante o Século XX.

Detalhe do gol da vitória de Gerd Mueller, na Copa de 74
Detalhe do gol da vitória de Gerd Mueller, na Copa de 74

ALEMANHA OCIDENTAL/74 (16 Nações)

Dia 7 de Julho

Alemanha Ocidental 2 X 1 Holanda

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Munique, Olympiastadion, 79.000 espectadores

Árbitro: John Keith Taylor (Inglaterra)

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Gols: Breitner/pen, Mueller X Neeskens/pen

Numa decisão estranha, ainda que equilibrada e cheia de emoções, a “Laranja Mecânica”, baseada no grande Ajax de Amsterdam, saiu à frente antes mesmo de se completar o minuto inaugural da pugna. Ainda na sua intermediária o insolente Johan Cruijff desandou a galopar e só cessou a investida porque sofreu um trançapé de Uli Hoeness, já dentro da área maior. Penal, que o gélido Jack Taylor não hesitou em apontar, e que Johannes Neeskens converteu. Também num penal a dona da casa igualaria, aos 26’, na descida fogosa do lateral-apoiador Paul Breitner, falta de Wim Jansen. O mesmo Breitner, que não escondia a sua admiração pela China Comunista de Mao Tsé-Tung, fez 1 X 1. Gerd Mueller, que fôra o artilheiro da Copa de 70 com 10 tentos, aos 44’ ampliaria o seu tesouro histórico a 14 graças a um dos gols mais esquisitos de uma final, de virada e praticamente deitado no gramado. Azar da Holanda, que apenas seria a Neerlândia em 2021, na etapa derradeira se lesionaram seriamente o becão Wim Rijsbergen e o atacante Robbie Rensenbrink.

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Mario Kempes, o astro do triunfo da Argentina na Copa de 78
Mario Kempes, o astro do triunfo da Argentina na Copa de 78

ARGENTINA/78 (16 Nações)

Dia 25 de Junho

Argentina 3 X 1 Holanda (prorrogação)

Tempo normal: 1 X 1

Prorrogação: 2 X 0

Buenos Aires, Monumental de Nuñez, 77.300 espectadores

Árbitro: Sergio Gonella (Itália)

Gols: Kempes/2, Bertoni X Nanninga

A amoralidade da Ditadura Militar perpetrou o que pôde, nos bastidores, para melhor pavimentar o triunfo da seleção platina. Por exemplo, vetou Abraham Klein, o árbitro de Israel, como o apitador da decisão. E a FIFA, acovardada, depositou o gorila no colo do peninsular Sergio Gonella, que impediu os astros da “Laranja” de atuarem com a fluidez de praxe. Nos 90’ regulamentares, o mediador apontaria o absurdo de 50 infrações em favor da Argentina. Que inaugurou o placar aos 38’, numa arrancada típica do rompedor Mario Kempes. A Holanda, porém, não sucumbiu e procurou a reação. Até que, aos 81’, René Van DeKherkof cruzou, o lateral Tarantini e o central Galván se atrapalharam, e Nanninga, um ala espigado e tosco, empatou, 1 X 1. Inacreditável, a “Laranja” desperdiçaria a chance dos 2 X 1 já quase nos acréscimos, quando Rensenbrink, cara a cara com Fillol, o arqueiro da “Albiceleste”, bateu no poste. A anfitriã se transformaria em campeã, na prorrogação, aos 104 e aos 114’, em lances de muita raça e de muita vibração de Kempes e de Bertoni. 

Marco Tardelli, com Claudio Gentile, na celebração da Copa de 82
Marco Tardelli, com Claudio Gentile, na celebração da Copa de 82

ESPANHA/82 (24 Nações)

Dia 8 de Julho

Itália 3 X 1 Alemanha Ocidental

Madrid, Estádio Santiago Bernabéu, 90.000 espectadores

Árbitro: Arnaldo César Coelho (Brasil)

Gols: Rossi, Tardelli, Altobelli X Breitner

Exibições patéticas na primeira das fases de grupos, crise com a mídia, que levou os atletas ao “silenzio stampa”, o repúdio aos jornalistas. E de repente, com o despertar do atacante Pablito Rossi, o alívio na segunda das fases, 2 X 1 na Argentina, 3 X 2 no Brasil. Daí a “Squadra Azzurra” explodiu rumo a uma conquista espetacular. E foi de fato deliciosa sua exibição diante da “Mannschaft” na final do Bernabéu. Antonio Cabrini desperdiçou um penal. Mas, o Pablito compensaria o infortúnio ao registrar de testa, aos 57’, depois de um cruzamento de Gentile. Aos 68’, fecho de uma troca de passes belíssima no flanco direito do seu ataque, a Itália duplicou, um arremate precioso de Marco Tardelli, de canhota, da meia-lua. Aos 81’, Bruno Conti dominou a pelota pouco adiante da sua área e atravessou o campo inteiro antes de tocar até Altobelli, que se livrou do arqueiro Schumacher e fuzilou, 3 X 0. Serviu de mero consolo o tento de honra, solitário de Paul Breitner, aos 83.

Maradona e a taça, na "Mano de Diós", na Copa de 86
Maradona e a taça, na "Mano de Diós", na Copa de 86

MÉXICO/86 (24 Nações)

Dia 29 de Junho

Argentina 3 X 2 Alemanha Ocidental

Cidade do México, Estádio Azteca, 115.500 espectadores

Árbitro: Romualdo Arppi Flho (Brasil)

Gols: Brown, Valdano, Burruchaga X Rummenigge, Voeller

Ocorreram nas quartas de final, pelo mal e pelo bem, os mo momentos mais marcantes da Copa de 86, pela segunda vez no altiplano do México. Ambos protagonizados por Diego Maradona. E ambos em menos de cinco minutos do jogo com a atônita Inglaterra. Aos 51, a sua esfuziante arrancada desde a sua intermediária, uma linda sucessão de dribles e o gol na entrada da pequena área. E aos 55, o famigerado tento da “Mano de Diós”, em que Maradona iludiu o apitador Ben Naceur, da Tunísia. Mas, nada que ofuscasse o seu fulgor na decisão. Aos 22’, ele sofreu a falta que Burruchaga cobrou na testa de Brown. Aos 55, originou a tabela que acabou no passe de Héctor Enrique para o gol de Valdano. Estóica, em total desvantagem no preparo físico, a “Mannschaft” reagiu e empatou, aos 73 com o sacrificado Kalle Rummenigge e, aos 81, graças ao oportunista Rudi Voeller. Então, logo aos 83, Maradona se desvencilhou da marcação opressiva e implacável de Lothar Matthaeus e colocou Burruchaga na cara de Schumacher. Enfim, o "Pibe de Oro" levantaria a taça.

O árbitro Edgardo Codesal, astro involuntário, e negativo, da decisão da Copa de 90
O árbitro Edgardo Codesal, astro involuntário, e negativo, da decisão da Copa de 90

ITÁLIA/90 (24 Nações)

Dia 8 e Julho

Alemanha Ocidental 1 X 0 Argentina

Roma, Stadio Olìmpico, 73.603 espectadores

Árbitro: Edgardo Codesal Méndez (México)

Gol: Brehme/pen

Antes que acontecesse a decisão de 1994, tecnicamente a pior final de toda a História da Copa da FIFA. A começar pela escolha do mediador, o mexicano Codesal, genro do cartola Guillermo Cañedo, um amigo velho do presidente da entidade, João Havelange. Fraquinho, obviamente Codesal foi o protagonista central da ruindade do combate. Infernizou os nervos dos rapazes da “Albiceleste”, já devastada por suspensões e por contusões. Na realidade, a Argentina se apresentou, em Roma, com um time misto. E o mexicano, ainda, a prejudicou ao não apontar um pênalti claríssimo de Klaus Augenthaler em Gustavo Dezotti, e ao expulsar o atacante platino, além do zagueiro Monzón. Bem pior, aos 84’, definiu o resultado ao considerar que houve um penal numa entrada arriscada mas legítima de Sensini em Rudi Voeller. Das 11 jardas, Andreas Brehme converteu. Daí entraram para as antologias as cenas do encerramento, com Maradona a distribuir berros de “Hijos de puta”.

Taffarel, o herói dos penais, na decisão da Copa de 94
Taffarel, o herói dos penais, na decisão da Copa de 94

ESTADOS UNIDOS/94 (24 Nações)

Dia 17 de Julho

Brasil 3 X 2 Itália (prorrogação e penais)

Tempo normal: 0 X 0

Prorrogação: 0 X 0

Penais: 3 X 2

Pasadena, Los Angeles, Rose Bowl, 94.194 espectadores

Árbitro: Sandor Puhl (Hungria)

Penais: Romário, Branco, Dunga X Albertini, Evani

Até então, a primeira decisão nos penais desde a Copa do Uruguai, em 1930. E aconteceu, apenas, na 15ª edição da competição, debaixo de uma calorama deprimente, 35º, a “Azzurra” com quatro reservas em relação ao seu elenco da estreia e mais dois titulares em pleno sacrifício: Franco Baresi, o convalescente de uma artroscopia de joelho, três semanas antes; Roberto Baggio, o sobrevivente de crises e mais crises de cãibras e de contraturas musculares. Caso estivesse em forma o Roby não teria perdido a chance do 1 X 0 numa contra-ofensiva em que se deparou sozinho à frente de Cláudio Taffarel. Na prorrogação, o corinthiano Viola, um reserva, que ainda não tinha atuado, arrematou num poste. Vencido e agradecido, o arqueiro Pagliuca fez questão de beijar a trave. Nos penais, triste ironia, precisamente Baresi e Baggio, os dois heróis da Itália, erraram as suas cobranças.

Zidane, capitão e craque da França, na Copa de 98
Zidane, capitão e craque da França, na Copa de 98

FRANÇA/98 (32 Nações)

Dia 12 de Julho

França 3 X 0 Brasil

St.-Denis, Paris, Stade de France, 80.000 espectadores

Árbitro: Said Belqola (Marrocos)

Gols: Zidane/2, Petit

Uma porfia unilateral, pré-definida antes de principiar, na crise de pânico que acometeu Ronaldo Fenômeno, afetou a moral e a psicologia de toda a delegação – e simplificou o trabalho da hospedeira. Zizou Zidane abriu o placar aos 27’, num desvio de testa entre quatro adversários, depois de um escanteio batido por Emmanuel Petit. Aos 45’, de novo Zidane e de novo de cabeça e de novo num corner, desta vez levantado por Youri Djorkaeff. O Brasil sequer soube aproveitar a expulsão de Marcel Desailly, aos 68’, por dois cartões amarelos, e se confinou na inutilidade da troca de passes laterais. Então, nos acréscimos, quando o árbitro Belqola, o primeiro africano a apitar uma decisão, já se aprestava a encerrar a pugna, Patrick Vieira enfiou a Petit, pelo flanco esquerdo, e o loiro e cabeludo faz-tudo da França assinou o atestado formal de despedida do Brasil naquela Copa.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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