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Memórias da Copa 16: de 2002 a 2018, imbatíveis os 7 X 1 de 2014

Em cada edição do Mundial, no Século XXI, um episódio marcante. Para mim, todavia, nenhum superou o desastre do Mineirão. Nem mesmo o ridículo show de tombos, na Rússia, do cai-cai Neymar.

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti


Ironia terrível na Web, depois dos 7 X 1 do MIneirão, em 2014
Ironia terrível na Web, depois dos 7 X 1 do MIneirão, em 2014

Não existe sentido e não há cabimento em imaginar uma autobiografia precoce. As Memórias de verdade, aquelas dignas desse nome, só refervilham a uma distância longa dos fatos que recontam, e a sua graça está exatamente nos resgates que exigem das enervações cerebrais. E por isso, ao recuperar o que ainda recordo da minha convivência, a pessoal e a profissional, com a Copa do Mundo, resolvi interromper o meu passeio na edição de 1998, na França. Afinal, me mobilizam pouco, por permanecerem frescos, os fatos que ocorreram depois. E por isso, neste desfecho da coleção que inaugurei com o "Maracanazo" de 1950, ao invés de reconstruir o que pude ver, no Século XXI, eu me limitei a capturar, de cada evento, um único episódio, essencial, na emoção ou no raciocínio.

O momento em que Ronaldinho bate a falta contra a Inglaterra, em 2002
O momento em que Ronaldinho bate a falta contra a Inglaterra, em 2002

COPA DE 2002 (Coréia do Norte e Japão)

Dia 21 de Junho, madrugada por aqui. Quartas de final. Nas oitavas, dia 17, a seleção do Brasil, liderada por Luiz Felipe Scolari, havia ultrapassado os “Diabos Rubros” da Bélgica, placar ilusório de 2 X 0, com tentos de Rivaldo e do Ronaldo Fenômeno. O mediador Peter Prendergast, da Jamaica, tinha auxiliado o time “Canarinho” ao invalidar um gol de Wilmots com o prélio em 0 X 0. E o prélio das quartas com a Inglaterra seguia dramaticamente. Aos 23’, gol de Michael Owen, os “Três Leões” na frente, 1 X 0. Fermentaram os temores.

E o momento em que a bola trai o arqueiro Seaman
E o momento em que a bola trai o arqueiro Seaman

Então, perdão, e eu detesto essa expressão, sucedeu um “divisor de águas”. Nos acréscimos do primeiro tempo, o empate com Rivaldo. E aos 57’, falta na intermediária da Inglaterra. Ronaldinho, o Gaúcho, admitiria que errou o chute da cobrança. De todo modo, a pelota desferiu uma curva insidiosa e traiu o arqueiro Seaman, 2 X 1. Na semi a equipe do Felipão suplantaria a Turquia, 1 X 0. Daí, na decisão, na sua melhor apresentação, bateria a Alemanha por 2 X 0. Na 17ª edição da Copa, foi a quinta conquista do Brasil, ainda hoje o maior dos campeões do mundo. Só em 2006 e 2014 Itália e Almanha chegariam à quarta.

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O momento em que Roberto Carlos ajusta o meião e deixa Henry livre para fazer 1 X 0 em 2006
O momento em que Roberto Carlos ajusta o meião e deixa Henry livre para fazer 1 X 0 em 2006

COPA DE 2006 (Alemanha)

Ressalvadas as proporções, os bastidores da “Canarinho” de 2006 quase evocaram a bagunça da patética seleção da Copa da Inglaterra/66. Na concentração do Brasil, mais se discutiam vinhos e outros temas absolutamente alheios à eficiência indispensável a um Mundial. Dirigida, outra vez, por Carlos Alberto Parreira, a seleção capengou até se qualificar às quartas de final, onde empacou na França, 0 X 1, Henry, num lance que se eternizaria não por sua beleza ofensiva mas porque Roberto Carlos abandonou a marcação para ajustar um meião. Valeu somente, como o consolo de plantão, a brava performance da “Azzurra” de Marcello Lippi, que chegou invicta à decisão, com cinco triunfos e uma igualdade, 11 tentos a favor e um contra, e daí sobrepujou a França na segunda final por penais de toda a história da Copa, 1 X 1 no cotejo e 4 X 3 no bingo das 11 jardas.

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O momento em que Felipe Melo dá o pisão em Robben na África do Sul
O momento em que Felipe Melo dá o pisão em Robben na África do Sul

COPA DE 2010 (África do Sul)

No seu comando Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, capitão nos EUA/94 e na França/98, o time do Brasil não encantou e nem sequer iludiu. Com um elenco que logo o torcedor esqueceu (de Michel Bastos a Gilberto Melo e a Josué, o garoto Neymar na lista suplementar), chegou à etapa das quartas diante de uma Neerlândia (que deixaria de ser Holanda, em 2001, por opção parlamentar) apenas razoável na sua arrumação. Robinho fez 1 X 0. Caberia a um super-nervoso Felipe Melo, porém, estragar a peleja. Desviou contra a meta de Júlio César um tiro de Snejder e deu um pisão em Robben, na cara de Yuichi Nishimura, o árbitro do Japão – cartão vermelho. Grande ironia: em sua terceira disputa de título, a Holanda repetiria 1974 e 1978 e amargaria a desdita. Desta vez, sucesso inédito da Espanha na sua décima aparição, gol de Iniesta somente aos 116', já na prorrogação.

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A inolvidável evolução do placar em favor da Alemanha na Copa de 2014
A inolvidável evolução do placar em favor da Alemanha na Copa de 2014

COPA DE 2014 (Brasil)

Quando a Alemanha pespegou aqueles inolvidáveis 7 X 1 no Brasil do Felipão, dia 8 de Junho, houve na mídia do País quem se apressasse a procurar pelos resultados mais clamorosos da História do Mundial. Falou-se dos 10 X 1 da Hungria sobre El Salvador na Espanha/82. Dos 9 X 0 da Iugoslávia sobre o Zaire na Alemanha/74. Mais os 9 X 0 da Hungria sobre a Coréia do Sul na Suíça/54, os 8 X 0 da Alemanha sobre a Arábia Saudita na Ásia de /2002, os 8 X 0 da Suécia sobre Cuba na França/38, ou os 7 X 0 de Portugal sobre a Coréia do Norte na África do Sul/2010, os 7 X 0 da Polônia sobre o Haiti na Alemanha/74 e os 7 X 0 da Turquia sobre a Coréia do Sul na Suíça/54. Abordagem desproporcionada.

Uma cena trivial no dia 8 de Junho de 2014
Uma cena trivial no dia 8 de Junho de 2014

Em todas essas porfias, era abissal a disparidade entre as seleções vencedoras e as derrotadas. Natural que cada resultado, nas acima citadas, refletisse a descomunal diferença de qualidade. E as derrotadas, meras figurantes. Não dispunham da menor chance, sequer, vá lá, de coçar as solas dos pés das vencedoras. Todavia, no caso de 8 de Junho de 2014, o universo testemunhou que caiu o Brasil dono da casa, com cinco títulos no seu currículo. Eu já acumulava 46 anos de profissão, cerca de quatro de R7. E precisei escrever que, sim, meninas e meninos, eu vi. E que nunca, nunca mais me esquecerei.

Putin, Macron e Karlinka, na decisão da Copa da Rússia
Putin, Macron e Karlinka, na decisão da Copa da Rússia

COPA DE 2018 (Rússia)

Formalmente, o conflito bélico se iniciou no recente dia 24 de Fevereiro, quando a Rússia invadiu militarmente a Ucrânia. Na época da Copa de 18, porém, já aconteciam escaramuças na diplomacia e na política, e a cartolagem da FIFA se aliviou quando a representação azul-amarela não obteve a vaga. Mas, dois integrantes da delegação da Croácia, o becão Domagoj Vida e Ognjen Vukojevic, da Comissão Técnica da sua seleção, se incumbiriam de uma provocação dura, ostensiva, audaciosa e, claro, perigosíssima.

Karlinka, a então presidente da Croácia
Karlinka, a então presidente da Croácia

Quando a Croácia bateu a Rússia nas quartas de final, 4 X 3 nos penais, e desclassificou a hospedeira da competição que organizava, os dois dedicaram o resultado ao seu ex-time, o Dinamo de Kiev, da capital da Ucrânia. Presidia a Croácia a cativante Kolinda Grabar-Kitarovic, que fôra a Moscou com a seleção e que já provocava a sisudez dos donos da casa ao envergar biquínis nos seus banhos de mar e de piscina. Na decisão contra a França, que venceu por 4 X 2, na tribuna, perto de Vladimir Putin, o próprio, e de Emmanuel Macron, o presidente gaulês, vestida com a camisa xadrez afagou o colega da França e escanteou o potentado da Rússia. Hoje, Krolinda representa a Croácia no Comitê Olímpico Internacional.

Paródia do show de tombos de Neymar na Copa da Rússia
Paródia do show de tombos de Neymar na Copa da Rússia

PS: o show de tombos de Neymar é “hors concours”.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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