Em 27 de Março, 250 anos da morte de Tiepolo, o pintor do Rococó
Foi o maior de todos os artistas plásticos do seu estilo cheio de cores e de ornamentos, um quase gênio que só deixou um único auto-retrato
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Numa época da História em que os meios de transporte mais seguros e confortáveis eram as carruagens puxadas pelos cavalos, Giovanni Battista Tiepolo pôde conhecer boa parte da sua Itália de origem e quase toda a Europa das imediações, desde a Espanha até a Alemanha. Não porque ele fosse o herdeiro caçula de um comerciante da então portentosa República de Veneza. Mas, porque era um artista, um pintor, o mais importante dos tempos do Rococó, o estilo ornamentalista que, do começo ao final do Século XVIII, tentou valorizar o Hedonismo, o prazer pelo prazer, como uma resposta ao esplendor religioso do Renascimento e da sua continuação natural, o Barroco.

Nascido em 5 de Março de 1696, na verdade ele sequer conheceu o pai, Domenico, falecido em 1697. A sua mãe, Orsetta, mesmo sozinha, graças às suas boas conexões na aristocracia, conseguiu prover a educação dos seis filhos do casal. Críticos mais eruditos, em geral, não apreciam a pirotecnia do Rococó. Admitem, todavia, que a soma dos esforços de Orsetta com o talento autóctone de Giovanni Battista o transformaram em um quase gênio.

O rigoroso Sir Michael Levey (1927-2008), historiador inglês, diretor da National Gallery de Londres entre 1973 e 1986, citou Tiepolo como “um artesão excepcional e, simplesmente, o maior dos artistas decorativos da Europa em seu Século”. Claro, uma obra que se eternizou na Cultura do planeta. E dizer que entre rascunhos, esboços, desenhos, gravuras, óleos, afrescos, Tiepolo deixou mais de três centenas de obras e que as suas duas últimas, “O Sepultamento de Cristo” e “Descanso na Fuga do Egito”, ele meramente completou alguns poucos dias antes de morrer aos 74 anos de idade, exatos 250 atrás, em 27 de Março de 1770.

O “Sepultamento” surge numa tela até pequenina, 57cm X 43cm, que ele começou a pintar em 1796, abandonou, e provavelmente resgatou ao perceber que se aproximava do final da vida. Também “A Fuga” se reveste de enorme simbolismo teológico. Igualmente numa tela compacta, 65cm X 48cm, que Tiepolo havia principiado antes, em 1795, ele registra o oposto do “Sepultamento”: Maria e José, ela com o Menino Jesus no colo, a tentarem algum repouso num casebre durante a perseguição pela tropa do Rei Herodes, enquanto um anjo alado, todo alvo, cuida da sua proteção.

Nos dois óleos Tiepolo valoriza as cores primárias, o vermelho, o azul e o amarelo, devidamente temperadas pela sua impressionante competência no trato do branco. Óleos diminutos mas comovedores, que pertenceram à família lusitana Ferreira Pinto-Basto, avaliados em cerca de R$ 20 milhões, e que acabaram doados, em 1946, ao Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa.

Óleos diminutos. Tiepolo, porém, não temia se entregar aos espaços grandes, às vezes gigantescos. Na Veneza da sua família, enriqueceu com seus afrescos o batistério da Igreja de Sant’Alvise e uma das alas da Santa Maria della Consolazione. Na vizinha Ùdine, o Palácio Episcopal. Na direção do sul, em Bèrgamo, a Cappella Colleoni. Ironia, um fanático por Cleópatra, a rainha do Egito, aquela que enfeitiçara Marco Antonio e Júlio César, contou parte da sua vida no Pallazo Labia de Veneza, e ainda perpetrou uma tela monumental de 2m50 X 3m57, hoje exposta na National Gallery of Victoria, em Melbourne, Austrália, com um suposto banquete por ela oferecido ao tribuno.

Curiosidade suprema, dele mesmo apenas se conhece um retrato. Aliás, um mero detalhe dos afrescos que realizou sob encomenda na Wuerzburger Residenz da Alemanha, uma construção colossal de quatro andares e uma área de 100m X 200m. Num detalhe do forro de uma escadaria, Tiepolo aparece de perfil, o aspecto exausto, enquanto o Príncipe-Bispo Friedrich-Karl von Schoenborn, atrás de seu ombro, o examina extasiado. Nada mais justo.
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