De como Roberto Mancini produziu a ressurreição da "Squadra Azzurra"
Numa entrevista que o R7 publicou em 18 de Maio de 2018, o treinador da seleção da Itália já anunciava a sua intenção de rejuvenescer a seleção da Itália. Conseguiu. Com total sucesso.
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Em 2017, nas eliminatórias para a Copa da Rússia/2018, a Itália amargou uma humilhação que não sofria desde o evento da Suécia, em 1958. Vice-campeã do planeta no México/70, campeã na Espanha/82 e na Alemanha/2006, não disputou a competição pela primeira vez em 60 anos. Em crise, sem presidente, comandada por um interventor, Roberto Fabriccioni, designado pelo Comitê Olímpico da Bota, a FederCalcio empacou por meses até escolher um substituto para o frustrado treinador Gianpiero Ventura. Ex-velocista, sem biografia no Futebol, Fabriccioni, porém, ousou. E em 14 de Maio de 2018 apresentou, como novo líder da “Squadra Azzurra”, um antigo craque de reputação irrepreensível, Roberto Mancini.

Conheci o “Mancio”, um apelido que brinca com o seu sobrenome e com o fato de ser canhoto, nos tempos em que era um colega de Toninho Cerezo na Sampdoria do “scudetto” inédito de 1990/1991, e ele e Gianluca Vialli, chamados de “Os Gêmeos do Gol”, criaram em Gênova, a cidade do clube, uma importadora dos brasileiríssimos refrigerantes de guaraná. Oficializada a sua contratação, mobilizei alguns contatos e, afortunadamente, consegui uma entrevista um pouco por telefone, outro pouco por WhatsApp, publicada no R7 já no dia 16.

Das muitas frases que escutei do “Mancio” eu recordo uma, que pareceu enigmática: “ Meu estilo será 11. Um grande 'portiere' e mais 10.” E a tradução: “Antes de tudo eu vou montar o meu elenco com aqueles jovens que não vêem a “Nazionale” só como um objetivo porém como o meio de valorizarem a sua história.” Pois o tempo lhe deu razão. Neste recente domingo, o dia 11 de Julho de 2021, ao levantar um título de EuroCopa que a “Azzurra” não vencia desde 1968, Mancini enriqueceu o seu próprio currículo de maneira espetacular. Na sua 39ª porfia como o “mister”, ele completou, maravilhosamente, uma invencibilidade, um recorde de 34 pelejas, 27 triunfos e sete empates. No total, 28 sucessos, nove igualdades e duas quedas. A sua Itália não perde desde o 18 de Setembro de 2019, Portugal 1 X 0.

E o segredo do “Mancio” reside exatamente no conceito que ele instalou na “Azzurra”: o rejuvenescimento. No time que arrebatou o troféu da Euro2020, claro, existiram os “senatori”, os experientes, em posições cruciais como o miolo de zaga, formado por Leo Bonucci, 34, e Giorgio Chiellini, o capitão, 36. Arrebatou o prêmio de melhor da competição, porém, o arqueiro Gigi Donnarumma, 22. E Mancini ainda não hesitou em convocar, e em utilizar na equipe titular, atletas de clubes que raramente fornecem jogadores à seleção. Proveio da Atalanta o meia Matteo Pessina, 24, com nove presenças e quatro tentos. Do pequenino Sassuolo advieram Manuel Locatelli (23, 15/3) e Domenico Berardi (26, 17/5).

Mesmo nos supostos grandes clubes o “Mancio” buscou mais as promessas do que os consagrados. Afora os seus dois xerifes Bonucci e Chiellini, por exemplo, a Juventus cedeu o excelente ala Federico Chiesa (23, 32/3). A dona do “scudetto”, a Internazionale, cedeu o seu ótimo meio-campista Nicolò Barella (24, 29/6). Com Donnarumma, do MIlan, seria titular o volante Nicolò Zaniolo (22, 7/2), não estivesse lesionado. E é crucial lembrar que Mancini, um atento observador, escancarou espaço no elenco a três italianos nascidos no Brasil. O catarinense Jorginho Frello (29, 35/5), fundamental na armação. Ainda o paulista Emerson Palmieri (26, 19/1), lateral-apoiador. O matogrossense Rafael Toloi (30, 7/0), um coringa.

Surpreende, de todo modo, um fato, digamos, estranho: a “Azzurra” arrebatar um título numa fase em que os seus times decepcionam na Champions, a principal interclubes do Continente. Em 1968, quando abiscoitou sua primeira Euro, a Inter fôra vice em 1967, o Milan ganharia a taça de 1969 e a seleção ainda seria vice do Brasil no México, em 1970. Quando ganhou a Copa da Espanha, em 1982, dispunha da Juventus vice em 83, campeã em 85, além da Roma, uma vice em 84. Quando ganhou a Copa da Alemanha, em 2006, dispunha do Milan vice em 2005 e campeão em 2007. Desta vez, data do remoto 2017 a última decisão de Champions em que um peninsular apareceu, a esquecível final de Real Madrid 4 X 1 Juve. Por quê a defasagem, uma seleção preciosa e os times claudicantes?

Sobrevêm duas explicações plausíveis. De um lado, uma lastimável despreocupação com as categorias menores e com a revelação de talentos. Tri-vencedora da Sub-21 da Europa em 92/94/96, campeã em 2000 e 2004, depois a Itália foi vice da Espanha em 2013 e finito. Na U-16/17, desde a cassação do título de 1987, punida pela inscrição irregular de um jogador, perdeu todas as decisões de que participou: em 93, 98, 2013, 2018 e 2019. De outro lado, tão recheado de estrangeiros e de não nativos, o certame “Nazionale” da Bota não permite o amadurecimento dos garotos que começam a brilhar. Dos Subs de 2018/2019 nenhum atleta chegou à “Azzurra” da Euro2020. E paralelamente, dos atuais “oriundi” de Mancini, garimpeiro formidável, só Toloi, ironia, joga na Itália, e pela Atalanta. Jorginho e Emerson sobressaíram pelo Chelsea de Londres. Os três bem poderiam integrar o elenco do Brasil.
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