Com este título, o Flamengo faz a melhor defesa dos pontos corridos
Houvesse os mata-matas, o campeão de 2019 poderia, num acidente, ou por causa do VAR, perder a taça para um time com duas dúzias menos pontos
Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Defendo fervorosamente que um campeonato nacional, seja cá no Brasil, ou na Itália, ou no Turcomenistão, se desenrole pelo clássico sistema de turno e returno e em pontos corridos. Claro, aprecio a emoção e o espírito de caça-grana dos mata-matas. Reservo tal formato, todavia, aos certames paralelos, como as copas que incluem, além dos clubes das divisões de cima, também aqueles menos privilegiados que só em circunstâncias suplementares têm a possibilidade de se exibir diante dos chamados grandes. Funciona assim, na Europa, por mais de um século de disputas. E ninguém reclama por lá.

Imagine, você que me lê, e que ainda não formou posição na controvérsia, a hipótese que passo a desenhar. Quando ainda faltavam quatro jornadas neste Brasileiro de 2019, o qual terminará a sua história no próximo domingo, dia 8 de Dezembro, o Flamengo já havia se entronizado com a melhor campanha desde 2006, data de inauguração do torneio com 20 equipes. Imagine, porém, a existência de regras que determinassem os mata-matas, digamos, entre os quatro melhores na tabela de classificação. O “Urubu”, por exemplo, pegaria o Athletico Paranaense, menos duas dúzias de pontos. Cotejo decisivo, 0 X 0, último segundo, lance polêmico, duvidosíssimo. Depois de consultar o VAR por arrastados minutos, o árbitro determina um penal contra o Flamengo. Gol do “Furacão”, que detona o “Urubu”. Sim, uma deslavada injustiça.

É óbvio e é ululante que um campeonato nacional tem que premiar a regularidade, a constância, jamais um acidente de percurso. E você que me lê, por favor, aproveite o embalo e, sem a velocidade às vezes incongruente da paixão, analise mais estes dados. Curiosamente, não houve nenhum empate na rodada inicial do Brasileiro e, por isso, claro, lógico, dez clubes assumiram a liderança. Na segunda rodada, só três, dentre os dez, repetiram os seus triunfos: Atlético/MG, Santos e São Paulo. Na terceira, apenas o “Galo” de BH manteve os seus 100% de performance. Da quarta em diante, então, foram três os únicos times que ocuparam o topo da tabela: o Palmeiras da 4ª à 11ª, o Santos da 12ª à 15ª, e daí o Flamengo, sem parar, até arrebatar o título, por antecipação, na 34ª. Ironicamente, não pelo seu desempenho específico – empatou com o Vasco, 4 X 4. Mas, pelo fracasso patético do Palmeiras diante do Grêmio de Porto Alegre, 1 X 2, dentro do seu sagrado Allianz Parque.

Uma outra questão, no lado oposto da tabela: quem prega o retorno dos mata-matas também utilizaria tal sistema na determinação do rebaixamento à Série B? Convenhamos, seria um absurdo dos absurdos se implantarem “playoffs” de queda à divisão de baixo. Nada menos do que dez das 20 equipes deste Brasileiro de 2019 já freqüentaram, em idas e em vindas, a chamada Z4. Sempre por exemplo, pense no caso de o Avaí de Florianópolis bater, graças ao VAR etcetera e tal, o Ceará de Fortaleza, nesta data a um passo da salvação, e fugir da humilhação. De novo, injustiça terrível.

O “Leão da Ilha” se caracterizou, nesta temporada, por visitar a região do tombo desde a rodada inicial. É muita pena que também a Chapecoense, mana “Barriga Verde” do Avaí, abandone a Série A e puna Santa Catarina em 2020. Mas, em contrapartida, subirão quatro agremiações que, graças aos pontos corridos, sim, aos pontos corridos, souberam como batalhar e obtiveram as suas promoções à divisão de cima: o Bragantino/SP, o Sport Recife/PE, o Coritiba/PR e o Atlético Goianiense/GO. Que os quatro rebaixados se inspirem no exemplo daqueles que sobem. Além da Chape e do Avaí, não têm mais chance alguma o CSA de Maceío/AL. Até domingo e os seus últimos jogos neste certame, contudo, ainda estarão vivos o Cruzeiro e o Ceará.
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