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Silvio Lancellotti - Blogs

Com 110 anos de distância, duas grandes conquistas da História

Em 1910, partia a expedição do britânico Robert Scott em busca do Pólo Sul. Agora, em 2020, uma nave quase particular se acopla à Estação Espacial. 

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Robert Scott com a bandeira da Grã-Bretanha
Robert Scott com a bandeira da Grã-Bretanha

Formidável coincidência. Basicamente na mesma data, com uma diferença de 110 anos, dois eventos cruciais na grande aventura científica da História da Humanidade. Na manhã européia de 1º de Junho de 1910, a bordo do rústico “Terra Nova”, o explorador Robert Falcon Scott (1868-1912) partiu de Cardiff, no País de Gales, no rumo da gélida Antártida, com o sonho ambicioso de descobrir a localização exata do Pólo Sul. Não se sabe em que hora universal, mas em 1º de Junho de 2020, a bordo de uma cápsula incrível, a “Crew Dragon”, já acoplada à Estação Espacial Internacional, os astronautas Doug Hurley e Bob Behnken principiaram a sua audaciosa ambientação no que serão sua morada e seu confinamento, no mínimo, até o mês de Agosto.

Benkhen e Hurley na "Crew Dragon"
Benkhen e Hurley na "Crew Dragon"

Impressionante como, nesse período de tempo, evoluiu a tecnologia. Scott pelejou até 17 de Janeiro de 1912 para, num sacrifício absurdo, cumprir a sua missão, quase 86 semanas de dramas sucessivos, quase 16.000 km. Em 92 minutos a Estação Espacial realiza uma órbita ao redor da circunferência da Terra, 40.075 km. Experiência, lógico, bilionária, a “Crew Dragon” resultou de uma associação inusitada, inédita, entre a antológica NASA, do governo dos Estados Unidos, e a SpaceX, empresa do visionário sul-africano-canadense-norte-americano Elon Musk, de apenas 48 de idade, também dono da Tesla, a fabricante de automóveis elétricos com sede na Califórnia. O Elon Musk cuja fantasia é se tornar o colonizador do planeta Marte. Detalhe: Scott, de orçamento insignificante, viajou ao Pólo com a cara e a coragem.

O "Terra Nova", ancorado na Antártida
O "Terra Nova", ancorado na Antártida

Na verdade, a expedição do britânico lhe custou cerca de uma década. Oficial da Marinha Real, num brigue vetusto de nome “Discovery”, ele já havia tentado a conquista do Pólo Sul, sem sucesso, entre 1901 e 1904, quando atingiu um platô distante 1.400 km do grau zero. Numa segunda investida, depois de montar o seu acampamento de apoio, com tendas, víveres e os cruciais cães puxadores de trenó a só 260 km do ponto em que fica o Pólo, efetivamente lá fincou a sua bandeira, em meio a uma tempestade brutal, em 17 de Janeiro de 1912. Azar monumental: acalmada a tormenta, ele descobriria que um rival norueguês, Roald Amundsen (1872-1928), por ali deixara seu registro numa barraca montada em 19 de Dezembro de 1911.

Roald Amundsen (à direita) e a bandeira da Noruega
Roald Amundsen (à direita) e a bandeira da Noruega

Chocante. Amundsen havia saído de Oslo em 3 de Junho de 1910, precisos dois dias depois do embarque de Scott. Em seu diário, atarantado, o britânico escreveu: “O pior aconteceu... E todo o meu sonho se destruiu... Meu Deus! Mas que lugar horroroso é este aqui…” Bem pior, então, desanimado, o britânico se atrapalhou na volta à sua base e morreu na neve, provavelmente em 27 de Fevereiro. Ao menos, foi em tal data que completou o diário: “A última anotação. Por Deus, e que alguém olhe pelo que restou da minha equipe.” Desapareceria soterrado até o pescoço por uma avalancha de neve, numa espécie de maloca toscamente improvisada e apenas identificada, à maneira de um símbolo, por uma cruz feita com um par de esquis.


Robert Scott e seu diário, na base de Cape Evans
Robert Scott e seu diário, na base de Cape Evans

Scott não imaginava o legado fenomenal que sobraria do seu infortúnio. Oito meses após, quando se encontraram os despojos dele e de dois de seus companheiros, num saco havia cerca de 1,5kg de fósseis com folhagens de Glossopteris, uma planta extinta, a prova de que, antes da Era do Gelo, a Antártida fora cálida, geograficamente conectada aos outros continentes da Terra. Também se acharam mapas, roteiros dos diversos trajetos percorridos desde Cardiff e alguns instrumentos de medida de localização, distância e posicionamento, além de múltiplas chapas fotográficas que, depois de reveladas, exibiriam detalhes curiosos da expedição. Aliás, evidentemente, também desde a “Crew Dragon” os astronautas Hurley e Behnken capturaram as cenas de praxe: sim, sim, as provas de que a Terra é uma bola.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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