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Silvio Lancellotti - Blogs

A vida segue e o Futebol pensa em mudar algumas das suas regras

Na sua reunião de número 134 o International Football Association Board sugere cinco alterações. Mas, o que é, e como funciona, esse tal de IFAB?

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Um cartazete do International Board
Um cartazete do International Board

Uma aberração! Já escrevi, e disse, e até mesmo bradei, mal-educadamente, perdão, perdão, convidado que era, cerca de três décadas atrás, num evento organizado pela FIFA. E asseguro que não reformulei a minha opinião. Pois não passa de um contra-senso gigantesco, um disparate abominável, o fato de não ser a entidade, nem as confederações a ela afiliadas, quem determina as regras do Futebol. Fundada em 21 de Maio de 1904, a FIFA admite que crie as tais normas um organismo ainda mais antigo, batizado de International Football Association Board, o IFAB, datado formalmente e oficialmente de 8 de Dezembro de 1883. O encarquilhado mas sempre poderosíssimo IFAB.

A Freemason´s Tavern, onde nasceu o Futebol
A Freemason´s Tavern, onde nasceu o Futebol

Já existiam normas variegadas, e bastante confusas, de orientação básica do Ludopédio, desde a antológica noite de 26 de Outubro de 1863 na vetusta Freemason’s Tavern de Blackheath, Londres, quando 13 rapazes comandados por Ebenezer Morley esboçaram o seu conceito. Naquela oportunidade se definiu que o Futebol, então coisa de ruas e de terrenos baldios, se praticaria num campo com postes. Depois, em 1866, a abundância irritante de tentos anotados em lances vadios levou à definição da posição de impedimento: não valeria o gol marcado sem que, entre o autor e os postes, não houvesse ao menos três adversários. Em 1871, numa tentativa lógica de estabelecer alguma ordem na bagunça, surgiu a figura de um árbitro neutro. Até então, cabia aos capitães das equipes opinarem nas situações duvidosas.

Ebenezer Morley, o líder da reunião dos pioneiros
Ebenezer Morley, o líder da reunião dos pioneiros

Naqueles seus começos, o IFAB exclusivamente comportava oito membros, representantes da Inglaterra, da Escócia, da Irlanda e do País de Gales. Sob a sua jurisdição, em 1872, ao invés de um tiro de meta a cada pelota que saia através da linha de fundo, nasceram os escanteios, como punição às defesas que meramente se livravam da bola. Em 1875 se instalaram traves horizontais nos topos dos postes. Em 1878 o árbitro, que normalmente se esganiçava em uivos a cada marcação, mereceu o direito de usar um apito. Em 1902, com a definição da grande área, o IFAB inventou o pênalti, um tiro direto de onze jardas, também conhecido como “chute da morte”, um apelido imbecil, afortunadamente de pouca duração. Detalhe: qualquer dos atletas do time que perpetrasse a infração podia tentar a acrobacia de salvar a sua meta. A figura do arqueiro fixo, acredite, é um fato, apenas se registraria em 1909.

Final do Século XIX, idos do Futebol sem travessão e sem arqueiro fixo
Final do Século XIX, idos do Futebol sem travessão e sem arqueiro fixo

Ironicamente, a Grã-Bretanha, a pedante e auto-declarada mãe do Futebol, não integrou o time das sete nações que se juntaram para constituir a FIFA: a Bélgica, a Dinamarca, a Espanha, a França, a então Holanda (hoje Países Baixos ou Nederlândia), a Suécia e a Suíça. Embora aquele 21 de Maio tenha caído num sábado, por telegrama a Alemanha conseguiu se conectar em tempo de aparecer na ata como agregada. Nenhum poder, entretanto, a FIFA ostentaria se a Grã-Bretanha não se aliasse. Demorou um ano até que o Barão Edouard de Laveleye, um bilionário belga, através de negociações ingentes, confirmasse a aliança. Com uma cláusula radical: a Grã-Bretanha preservaria sete vagas no IFAB e deixaria a restante, miseravelmente, para a FIFA.


Reunião da FIFA em 1929, inclusive com senhoras
Reunião da FIFA em 1929, inclusive com senhoras

Um domínio ditatorial, que o resto do mundo admitiu, de maneira tola e complacente, e que, por diversas décadas, tornou o Futebol o esporte menos flexível do planeta. Em 1920, por exemplo, se aboliu o impedimento nos lances de arremesso lateral. Em 1925 se decidiu que só ocorreria o impedimento nos casos em que, entre o avante e a linha de meta, apenas houvesse dois atletas rivais, inclusive o goleiro. Em 1939 se introduziu a numeração obrigatória nas costas. Quase nada. Nem o fato de, em 1958, a FIFA ampliar, para quatro, a sua presença no IFAB, melhorou o cenário. Alterações, exclusivamente com seis votos a seu favor. No máximo o IFAB autorizou a substituição de um arqueiro lesionado. Depois, em 1965, aceitou que fossem duas as trocas, mas a partir da Copa de 70, no México.

Copa de 70, Brasil 1 X 0 Inglaterra, o cartão amarelo, por Abraham Klein
Copa de 70, Brasil 1 X 0 Inglaterra, o cartão amarelo, por Abraham Klein

De efetivamente positivo, modernizador, desde então, foi a introdução do cartão amarelo de advertência e do cartão vermelho de exclusão também na Copa do altiplano. E o acréscimo obrigatório do tempo consumido nas trocas ou nas contusões. O cartão vermelho compulsório nos casos da chamada “falta do último homem”. E do arqueiro que comete uma infração fora da sua grande área. O aumento do número de trocas para três. A implantação de câmeras nas metas para se dirimirem dúvidas que o olhar humano é incapaz de julgar. E enfim, mais recentemente, o VAR, o árbitro de vídeo localizado numa cabine com inúmeros monitores e com vários examinadores.


Foto oficial do IFAB 134, realizado agora, em Belfast, Irlanda do Norte
Foto oficial do IFAB 134, realizado agora, em Belfast, Irlanda do Norte

Agora em 2020, entre 29 de Fevereiro e 1º de Março, sob a liderança de David Martin, o presidente da federação da Irlanda do Norte, os membros do IFAB, Gianni Infantino, o presidente da FIFA, e mais um elenco providencial de cartolas e assessores se encontraram, em Belfast, na 134ª reunião da sua história. No evento se analisaram algumas das mudanças determinadas na reunião anterior. Como a não obrigatoriedade da exposição de um cartão amarelo em todas as situações de pênalti. E como a orientação aos mediadores nos casos de toque de mão no interior da área maior: evitar a punição nos casos de a pelota resvalar nas partes de cada braço mais próximas à região dos ombros. Ainda se autorizaram testes que, até a reunião de Março de 2021, se desenrolarão em certames de base dos Países Baixos, ou Nederlândia. Eis os itens da experiência que usará garotos como cobaias:

Nas saídas pela lateral, reposição da bola com os pés.


Nas cobranças das infrações, não mais se penalizar um atleta que, mesmo involuntariamente, tocar duas vezes na bola.

Autorização de trocas ilimitadas, como no Basquete.

Com a bola parada, cronômetro sempre desligado.

Eventual exclusão de campo por tempo determinado.

Olheiros da FIFA e do IFAB testemunharão os testes e produzirão um relatório para a análise da 135ª reunião. No meu próximo texto, aqui mesmo no R7, emitirei a minha opinião a respeito de cada tópico. Prometo rigor total.

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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