Quem precisa das torcidas organizadas?
Banidas há muito tempo, duas das principais torcidas do Flamengo tentam aproveitar o bom momento do clube para voltar
Lucas Pereira|Do R7 e Lucas Pereira
Eles querem voltar.
Representantes das duas maiores torcidas organizadas do Flamengo, Raça Rubro-Negra e Torcida Jovem, se reuniram com o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, para buscar um acordo.
Vale lembrar, que pelo estatuto do torcedor, as duas associações estão banidas dos estádios pela justiça.
O encontro foi muito proveitoso. Witzel se mostrou a favor dessa volta.
Ele inclusive posou para foto, junto com integrantes das organizadas, vestindo a camisa da Torcida Jovem e estendendo a camisa da Raça.
A expectativa é de que essa liberação aconteça até o dia 23 de outubro, data do jogo da volta da semifinal da Libertadores contra o Grêmio, no Maracanã.
Liberação que não é tão simples assim.
Acredito que outras pessoas tem que ser ouvidas sobre o assunto, como o Batalhão especializado em policiamento nos estádios (Bepe) e o Ministério Público.
A punição das duas torcidas é antiga.
O da Raça Rubro-Negra é de dezembro de 2018, por causa de brigas ocorridas nos jogos Palmeiras x Flamengo, em outubro do ano passado, e São Paulo x Flamengo, em novembro, no Morumbi.
A suspenção da Torcida Jovem é mais antiga, cerca de um ano antes.
Foi motivada pela briga generalizada e envolvimento na morte de um torcedor do Botafogo, nos arredores do Estádio Nilton Santos, em 2017.
Mas aí vem a pergunta: por que foi iniciada uma campanha forte pedindo para acabar com a punição, logo agora?
Bom, penso que os membros das organizadas do Flamengo querem surfar a boa onda rubro-negra, com uma grande campanha tanto no brasileirão como na Libertadores.
Eles não querem ficar de fora de um momento histórico para o clube, que está voltando a uma semfinal de Libertadores e embalado no campeonato brasileiro, com grandes chances de disparar na ponta.
Para isso, vale até apelar para o coração assumidamente rubro-negro do Governador, para que a situação seja solucionada.
O argumento das organizadas, é que apenas cinco por cento dos seus integrantes se envolvem em brigas e violência.
Só que, não dá pra deixar de mencionar, que praticamente cem por cento dos brigões, são membros dessas mesmas organizadas que querem voltar.
Daí podemos fazer algumas reflexões.
Será que se o momento do Flamengo não fosse tão bom, eles tentariam forçar a barra pra voltar?
Será que o futebol carioca, ou ampliando a discussão para o Brasil inteiro, precisa desse tipo de torcida?
Muitos vão defender esses torcedores, por fazerem uma festa bonita nos estádios, com bandeiras, faixas, shows pirotécnicos e coreografias.
Mas acho que a maioria deseja que a situação permaneça desse jeito.
É bom destacar que o público (digo torcedor comum) está comparecendo em grande número nos estádios, principalmente no Maracanã.
Os ingressos já estão esgotados para o compromisso contra o Santos neste sábado. Serão 61.120 rubro-negros empurrando o time.
Além disso, o clube tem a melhor média de pagantes do brasileirão (49.216) e a maior taxa de ocupação do estádio (77%).
Mesmo com o gigantismo do Maracanã.
Claro que esse grande apoio se deve ao timaço que o Flamengo tem, e das grandes campanhas que ele vem fazendo.
Mas aí vem a questão: pra que, nesse momento, é necessária a volta das organizadas?
A festa já não está bonita o bastante sem eles?
Tenho certeza que sim. A festa mais legal é desse torcedor "desorganizado".
Podemos argumentar inclusive que a volta das crianças e das famílias aos estádios, se deve à diminuição das cenas de violência.
Sem falar, que geralmente os protestos na porta da casa de dirigentes e jogadores, com lamentáveis cenas de violência e intimidação, tem o comando dessas organizadas, que combinam tudo pelas redes sociais.
Na contramão dessa anistia, veio a condenação da torcida organizada Young Flu, do Fluminense, que aconteceu essa semana.
Ela está banida dos estádios pelo período de um ano, por violência registrada em jogo contra o Vasco, em 2015.
A decisão foi do Juizado especial do torcedor e dos grandes eventos.
A pergunta que fica é a seguinte: vale correr o risco da volta das organizadas?
Até a próxima.
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