Lorena brilha nas Olimpíadas e coloca ponto-final na discussão sobre diminuição do gol no futebol feminino
Goleira da seleção tem chamado a atenção por atuação de gala; treinamentos da posição evoluíram desde o início da modalidade
O desempenho em alto nível de Lorena, goleira titular da seleção brasileira feminina de futebol nas Olimpíadas de Paris-2024, tem chamado a atenção e, nos últimos dias, virou assunto nas redes sociais e na mídia. A defesa segura da atleta debaixo das traves retomou a discussão recorrente e desnecessária sobre a diminuição do gol no futebol feminino, e Lorena pode acabar de vez com a polêmica.
Antes de qualquer coisa, é bom lembrar que os gols seguem um padrão universal de tamanho nas competições organizadas pela Fifa, e por federações associadas: são 2,44 metros de altura e 7,32 metros de largura. As regras são da Ifab (International Football Association Board), órgão independente que regulamenta o futebol mundial.
Muito se diz sobre a altura média das mulheres — 1,62 metros, segundo um levantamento de 2020 feito pela universidade britânica Imperial College London — e Lorena realmente foge a regra. Ela tem 1,84 m de altura e, inclusive, é a goleira mais alta a ser convocada pela seleção brasileira. A nível de comparação, a goleira inglesa Mary Earps, eleita melhor do mundo por duas vezes seguidas (2022 e 2023) é mais baixa, com 1,73 metros.
Fato é que os centímetros a mais de Lorena podem, sim, contar a favor e contribuir para a performance dela nas Olimpíadas — a goleira gremista defendeu 81% das finalizações em gol, além de dois pênaltis. Mas é injusto dizer que o bom momento se deve apenas ao fato da estatura dela acima da média.
O futebol feminino evoluiu muito nos últimos anos e os treinamentos das goleiras também progrediram desde o início da modalidade. Se antes a posição era a menos desenvolvida do futebol feminino, hoje a preparação começa nas categorias de base, da mesma forma que ocorre com o masculino. Reação, força e saída de bola com os pés fazem parte do treino profissional.
Na Copa do Mundo Feminina de Futebol do ano passado, as goleiras já tinham se tornado protagonistas, mostrando essa evolução da posição defensiva. A goleira da Suécia na época, Zećira Mušović, chegou a viralizar pelo desempenho contra os Estados Unidos, levando o prêmio de craque da partida.
Isso posto, insistir no discurso de que a redução das traves pode favorecer o futebol feminino — questão na qual nomes relevantes da modalidade já declararam não serem a favor —, usando como argumento a diferença técnica entre homens e mulheres, vai contra a realidade atual que é vista dentro das quatro linhas.
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