Xenofobia e Alemanha. Razões para Tite poder perder a Copa América
Caboclo não vê um sucessor ideal no Brasil. E não quer treinador estrangeiro, assim como segue sendo o desejo do banido Marco Polo. Tite está tranquilo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Quem é próximo de Rogério Caboclo já percebeu.
Desde 15 de dezembro de 2017, com o afastamento de Marco Polo del Nero, ele é de fato quem manda na CBF.
O coronel Antônio Carlos Nunes de Lima tinha o cargo, por ser o vice mais velho, mas não o poder.
Rogério se tornou o homem de confiança de Del Nero. Todas as decisões que ainda toma têm a bênção do ex-presidente, mesmo com ele banido do futebol.
É uma questão de confiança, amizade, reconhecimento, comprometimento.
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Seja a palavra que for, mas não é segredo no Rio que reuniões da cúpúla da CBF acontecem na luxuosa residência de Marco Polo.
Só que o desgaste tem atingido diretamente Rogério.
Ao contrário do pai, Carlos Caboclo, que foi dirigente do São Paulo, e era explosivo, adorava embates com a imprensa, o atual dirigente da CBF é arredio.
Calado, mas tenso.
Ele está visivelmente mais envelhecido desde que assumiu o cargo. Os cabelos embranqueceram, os vincos no rosto são evidentes.
Em vez de polêmicas espalhafatosas, ele prefere levar o cargo com poder, discrição e planejamento a longo prazo.
Essa distância da imprensa faz com que tome as decisões sem questionamento.
Foi assim que ele decidiu, aconselhado ou não por Del Nero, que Tite tem permissão para perder a Copa América.
Ao lado do secretário-geral da CBF e homem de total confiança de Del Nero, Walter Feldman, os dois garantiram a Tite que ele seguirá no comando da Seleção até 2022.
Independente do Sul-Americano de Seleções.
"Tite tem contrato até a Copa do Catar e até lá contamos com ele. Não há treinador algum com mais experiência e melhor qualificado depois de tudo o que ele já trouxe até hoje", diz Caboclo.
Na verdade, desde a queda na Copa da Rússia foi feita uma avaliação no cenário nacional. E não há alguém que conte com o apoio de Caboclo, Feldmann e até de Del Nero.
A começar pela xenofobia explícita.
Seguindo a linha de pensamento de Del Nero, a Seleção será sempre comandada por um brasileiro.
O argentino Jorge Sampaoli pode seguir fazendo excelente trabalho no Santos, que está descartado. Mesmo se aplica ao português Jorge Jesus no Flamengo. Ou Pep Guardiola no Manchester City ou Jurgen Klopp, campeão da Champions League, com o Liverpool.
Entre os brasileiros, Renato Gaúcho, Fábio Carille, os dois mais recentes vencedores, têm resistência. Renato pela personalidade e Carille pela inexperiência.
Luiz Felipe Scolari tem o estigma dos 7 a 1 para a Alemanha, da péssima Copa do Mundo de 2014. E do rancor que permanece do técnico em relação a Del Nero, que não honrou a promessa de mantê-lo no cargo, independente do vexame no Mineirão.
O caminho que Feldman defendia era apostar em Sylvinho, que ganharia experiência com uma segunda Copa do Mundo como auxiliar. Mas ele não resistiu ao convite milionário para treinar o Lyon.
O exemplo que a CBF quer imitar é o da Alemanha, que fez uma transição tranquila de Jürgen Klinsmann para seu auxiliar Joachim Löw.
Aliás, enquanto o Brasil já teve 58 técnicos na sua história, os germânicos só tiveram até hoje dez comandantes.
Aliás, a tranquilidade que a Alemanha assimilou as quedas na Eurocopa e na Copa da Rússia, mantendo Löw, só serviram de exemplo para a decisão de Caboclo.
Não é balela.
Tite tem licença para perder a Copa América.
Ainda mais sem o principal jogador, Neymar, cortado por contusão.
A permissão para não ter o título ficou completa.
Evidente, desde que não aconteçam derrotas catastróficas.
Caboclo não quer uma reviravolta até 2022.
Só vai buscar proteger melhor o treinador.
Confirmada a saída do coordenador Edu Gaspar, que deve ser diretor no Arsenal, depois do Sul-Americano de Seleções, ele buscará um ex-jogador com mais prestígio que o ex-atleta do Arsenal.
Kaká e Cafu são os que têm mais chances.
Quanto ao técnico, se Caboclo mantiver sua palavra, Tite seguirá trabalhando.
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