Vitória não só do PSG e do Basaksehir. Do futebol contra os racistas
Pela primeira vez na Champions, uma partida é suspenso por racismo. Quarto árbitro romeno chama de 'esse preto' auxiliar do Basaksehir. Jogo voltará amanhã, com outros juízes
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Histórico, exemplar.
Emocionante.
Uma lição para o mundo do Paris Saint-Germain e Istanbul Basaksehir.
Pela primeira vez nas 66 edições da Champions League, os jogadores de dois times se revoltaram contra um ato racista e abandonaram o campo.
Forçaram a poderosa UEFA a suspender a partida.
Os atletas se cansaram da tolerância das entidades em relação ao racismo.
Nada de multa ou advertência.
Já que as autoridades não têm coragem, competência para agir, eles tomaram a atitude.
Mostraram que futebol não é lugar para racistas.
A postura que começou com Demba Ba se alastrou, contagiou a todos.
A situação foi cristalina.
PSG e Istanbul jogavam pelo grupo H, a partida estava 0 a 0, quando o lateral brasileiro do time turco, Rafael, fez falta dura em Bakker.
Eram 13 minutos.
Quando Rafael recebeu o cartão amarelo, houve revolta no banco do Basaksehir.
O técnico Okan Buruk recebeu também o amarelo do juiz romeno Ovidiu Haţegan.
Foi quando o quarto árbitro, o também romeno Sebastian Colţescu se voltou para o auxiliar técnico da equipe turca, o camaronês Pierre Webo.
E disse que "esse cara preto" tem de sair do banco.
Ao ouvir a expressão racista, o senegalês Demba Ba, que estava no banco de reservas do Basaksehir encarou Coltescu.
E perguntou, revoltado.
"Você nunca diz 'esse cara branco', você diz 'esse cara'. Então por que, quando você cita um homem preto, você diz 'esse cara preto'?"
O juiz Buruk decidiu expulsar Demba Ba.
Mas só que, sem torcida em Paris, os jogadores do PSG também ouviram Coltescu dizer 'blackman" a Pierre Webo.
Situação que o próprio quarto árbitro confirmou.
Os atletas das duas equipes, que contam com jogadores brancos e negros, decidiram.
Só recomeçariam a partida se Coltescu não fosse mais o quarto árbitro.
Neymar e Mbappé apoiaram desde o início o time turco.
Como Coltescu seguiria no jogo, decidiram simplesmente abandonar a partida.
As diretorias dos dois clubes apoiaram a decisão.
A Uefa foi encurralada.
A situação salomônica foi suspender o jogo.
E remarcá-lo para amanhã.
Com uma grande vitória dos atletas contra o racismo.
Outro quarteto de juízes estará em Paris.
Coltescu deverá ser julgado pela atitude racista.
A revolta foi exemplar.
Marcou a história da Champions League.
O mundo não tolera mais o racismo.
Nem o futebol...
PSG e Instanbul deixam campo após acusação de racismo do 4º árbitro
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