Vexame. Depois do WO, Figueirense pede para abandonar o Brasileiro
A empresa que deveria administra o futebol por 20 anos pede à CBF o desligamento do clube. Figueirense alega que pedido não tem validade
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Um exemplo de tudo o que não deve ser feito, quando uma empresa administra o futebol de um clube.
Em 2017, o Figueirense estava afundado em dívidas.
Desde o início dos anos 2000, dirigentes do tradicional clube catarinense insistiam que o futebol deveria ser gerido por uma empresa.
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Com atrasos de salários de jogadores, funcionários, débitos com fornecedores, a dívida do clube batia nos R$ 78 milhões.
O desespero era tanto que quando surgiu uma empresa se oferecendo para pagar as dívidas, desde que gerisse o futebol por 20 anos, o acordo foi selado, após apenas duas reuniões do Conselho Deliberativo.
Não houve a preocupação com uma investigação profunda sobre o real potencial financeiro da empresa Elephant. Foi criado o Figueirense S/A, que repassou 95% do controle do futebol para a nova parceira.
O acordo foi firmado em agosto de 2017.
A princípio, as dívidas mais prementes foram pagas.
Milton Cruz assumiu o time.
Alexandre Bourgeouis, que havia trabalhado no São Paulo, seria o CEO/presidente da parceria.
A missão era evitar o rebaixamento para a Terceira Divisão do Brasileiro, a Série C.
Mas em dois meses, os problemas vieram à tona.
Os investimentos não chegaram.
Bourgeouis foi demitido. Cláudio Vernalha ficou até o final de 2018.
Desde então, Cláudio Honigman era o dirigente responsável.
O time se salvou, seguiu na Série B, terminou em 12°, mas no final de 2017 começaram as queixas sobre pequenos atrasos de pagamentos.
Mesmo assim, chegou a ser campeão de Santa Catarina, em 2018.
Só que os investimentos não chegaram.
Em setembro, o time que estava muito bem no Brasileiro começou a decair. Os jogadores, revoltados com atrasos nos salários e pela falta de depósito de fundo de garantia.
Os resultados começaram a piorar e Milton Cruz acabou demitido, mesmo com o time em oitavo.
Foi trocado por Rogério Micale.
Foi aí que o clube caiu de vez.
Ficou a duas posições do rebaixamento.
A esta altura, os atrasos já eram constantes.
E o clima pesado, tenso.
O Figueirense caiu na semifinal do Catarinense.
A esta altura, jogadores faziam fila para entrar na justiça por falta de pagamentos e de depósitos no Fundo de Garantia.
Vários dirigentes que serviriam de elo entre o time e a empresa acabaram demitidos.
Os processos se acumulavam na justiça.
O Conselho Deliberativo acionava a Elephant por falta de pagamento.
Até que tudo explodiu de vez com o WO do clube diante do Cuiabá. Derrota por 3 a 0 e forte risco de punição exemplar no STJD. Fora o julgamento pelo Fair Play financeiro, deixar de pagar seus atletas por mais de três meses.
Houve denúncias de falta de alimentação e de transporte para os garotos da base.
O clube afundou de vez na Série B.
É o vice lanterna.
Tem tudo para ser rebaixado.
Seu presidente é interino.
Haverá eleições em dois meses.
Há cinco dias foi assinado o acordo para o fim da parceria.
Mas o presidente da Elephant, Claudio Honigman, exige R$ 3 milhões de ressarcimento e o perdão das dívidas da empresa com o futebol.
O Figueirense deve mais de R$ 120 milhões.
O Conselho Deliberativo decidiu não pagar nada para a Elephant.
A Federação Catarinense tentou aproximar as duas partes.
Não houve acordo.
Daí, a bomba.
Honigman procurou a CBF no final de semana e alegou que o Figueirense iria abandonar a Série B.
A notícia foi dada pelo globoesporte.com e confirmada pelo blog.
O que seria um caos.
E com séria retaliação ao clube.
Suspensão automática dos profissionais e de todas as categorias de base.
Por dois anos.
O clube, se quisesse voltar a disputar futebol profissionalmente, seria na Série D. Na Quarta Divisão.
O pedido já foi passado para o STJD.
Mas a diretoria do Figueirense quer anular o pedido.
Garante ser um 'ato de vingança'.
A alegação é que a Elephant não comanda mais o futebol do clube desde a quinta-feira, dia 19. E, portanto, não poderia pedir o afastamento do Brasileiro.
Caso for efetivado o desligamento do Figueirense, seria um caos. Para o torneio e para a Globo, dona dos direitos de transmissão da Série B. Os assinantes do canal Sportv e Premiere poderiam procurar o Procon para buscar ressarcimento do que pagaram.
A pressão é enorme para que o Figueirense siga no torneio.
Até por conta do comando da CBF.
Mas fica a lição.
É preciso um estudo muito profundo para que um clube aceite qualquer empresa administrando seu futebol.
A união entre Figueirense e Elephant serve de alerta.
Um vexame desnecessário, amador.
E que espanta investidores sérios no país.
Que a CBF aja com rigor.
Com responsabilidade.
O futebol brasileiro tem de ser gerido profissionalmente.
Não pode cair nas mãos de aventureiros...
(Diante da repercussão da notícia, da pressão da CBF e da Globo, o Figueirense se apressou em divulgar uma nota oficial.
"Em virtude da divulgação de notícias de que o Sr. Cláudio Honigman teria comunicado à CBF que o Figueirense abandonaria a Série B do Campeonato Brasileiro, comunicamos a todos, desde já, que na data de ontem (23/09/2019) foi proferida decisão judicial decretando-se a ineficácia de todos os atos por ele praticados na gestão do clube a partir das 18h30 do dia 20/09/2019, incluindo-se aí referida comunicação de abandono.
"Além disso, restou determinado ao Sr. Cláudio Honigman que entregue à Associação Figueirense, imediatamente, todos os documentos e senhas que tenha relacionadas ao clube, sob pena de multa diária. Os ofícios de comunicação da decisão à Federação Catarinense de Futebol e à Confederação Brasileira de Futebol já foram expedidos e estão pendentes de cumprimento por Oficial de Justiça.
"Reafirmamos o nosso compromisso com a torcida alvinegra de que o clube seguirá sua retomada, a iniciar pelo jogo de hoje, às 21h30, contra o Bragantino", disse o presidente interino Chiquinho de Assis..."
Mas o vexame está feito.
O pedido de abandono do Brasileiro protocolado na CBF.
Tudo é amador demais...)
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