Luxa nega ser Santos Dumont. Quer celebrar a volta à semi da Copa do Brasil, depois de nove anos. E a certeza: não será demitido
Aos 71 anos, Vanderlei Luxemburgo comemorou com a direção a classificação para a semifinal da Copa do Brasil. Foi seu 20º jogo pelo Corinthians. Conseguiu três vitórias seguidas. Ganhou força para ficar até dezembro
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Aos 71 anos, Vanderlei Luxemburgo mostrou dificuldade para conter a emoção, depois da difícil classificação do Corinthians para a semifinal da Copa do Brasil.
Depois de comemorar com os jogadores, ele fez questão de cumprimentar o árbitro Ramon Abatti Abel.
Depois de dar a mão ao juiz, Luxemburgo se empolgou. E tentou abraçá-lo. Ramon jogou o corpo para trás.
Ficaria ridículo, no mínimo, Ramon abraçado ao treinador comemorando a classificação do Corinthians e a eliminação do América Mineiro.
Após a partida, nos vestiários, ele matou sua vontade de abraçar.
Com os jogadores, com a direção.
Ele tem uma certeza, voltando a classificar um time para a semifinal da Copa do Brasil, depois de nove anos: não será demitido.
Cumprirá ao menos seu contrato até dezembro.
Chegou ao que muitos duvidavam: 20 jogos à frente do Corinthians.
Conseguiu a terceira vitória seguida, derrotando o América por 3 a 2, chegando à classificação nos pênaltis, por 3 a 1. Com Cássio defendendo duas cobranças.
Luxemburgo, que havia pedido dez jogos de apoio aos torcedores organizados, chegou a 20.
Com sete vitórias, quatro empates e nove derrotas.
Encaminhou a classificação para as oitavas da Copa Sul-Americana, mesmo com os reservas.
E começou a se afastar da zona do rebaixamento do Brasileiro, o principal objetivo.
Conselheiros, que imploravam ao presidente Duilio Monteiro Alves para demitir Luxemburgo, se acalmaram.
Vanderlei estava eufórico nos vestiários do Neo Química Arena.
A última vez que chegou à semifinal da Copa do Brasil foi com o Flamengo, em 2014. Não chegou à final, porque depois de o time carioca vencer por 2 a 0, no Maracanã, foi goleado por 4 a 1 pelo Atlético, no Mineirão.
Mas Luxa foi vice com o Corinthians em 2001 e venceu a competição com o Cruzeiro, em 2003. Há exatos 20 anos.
Depois de saborear a vitória e ter certeza de que ficará até dezembro, chegou a hora de tirar a forra com a imprensa.
Fez questão de destacar que foi a primeira vez que teve o melhor do Corinthians para escalar. Inclusive com Matías Rojas, que fez ótima estreia. E atuando pelo meio. No Racing, canhoto, jogava muito mais pelos lados do campo. Pela esquerda e pela direita. Não centralizado.
"É a primeira vez que jogo com esse time junto, muitas coisas faltaram. Os meias passarem mais pelo lado. O Renato também precisa se aproximar mais do ataque. Estamos no caminho certo, mas está muito distante. Temos que colocar os pés no chão. Saborear a vitória. Conquistamos esse direito de estar na semifinal.
"Trabalhamos para isso e precisamos nos deliciar disso pois foi muito bom."
Não tocou nos seus erros primários, o de fazer o time recuar quando teve a vantagem por duas vezes, que classificaria o Corinthians sem pênaltis: quando estava 2 a 0 e 3 a 1 a partida, encorajando o América a descontar o placar. O que fez as duas vezes e levou a decisão aos pênaltis.
Luxemburgo fez questão de lapidar mais uma frase inesquecível.
Jurou não ser Santos Dumont, o "pai da aviação", ao explicar que não inventou ao colocar o meia paraguaio centralizado, o que facilitou a participação de Renato Augusto. E inclusive que não foi ele quem tirou Rojas, que estava muito bem no jogo.
"O cara pediu para sair, não fui eu que tirei, ele pediu para sair. Mostrou que é um grande jogador. ‘Luxemburgo inventou dele jogar por dentro.'
"Não, não sou Santos Dumont. Joguei onde ele joga. Ele joga pelo lado esquerdo por dentro. Ele é versátil e posso usar da melhor maneira possível. Achei que Roger ficando do lado, o gol fica muito distante para ele”, disse.
Sorrindo, Vanderlei sabia que havia ganhado um jogador fundamental no meio-campo. Capaz de pensar o jogo, acelerar, diminuir o ritmo. O paraguaio Rojas demonstrou ter grande potencial.
Luxemburgo teve de reconhecer, no entanto, o mérito indiscutível de Cássio.
Ele é o maior goleiro da história do Corinthians. O que acumula mais títulos.
E o maior defensor de pênaltis, chegou ontem ao 31º, abrindo distância de Ronaldo, com 27.
"O Cássio é um ídolo do Corinthians. É um pegador de pênaltis. Ele, Dida, quando abrem os braços, o gol fica pequeno.
"Passa na cabeça do jogador (adversário) que ele (Cássio) é pegador. Eu falei para a gente ter calma e fazer o gol, que a gente tem um pegador de pênaltis. É muito importante você ter um pegador de pênaltis no gol. Eu pedi calma."
A classificação do Corinthians valeu muito dinheiro. O clube alcançou R$ 9 milhões de premiação pela semifinal da Copa do Brasil. E mais a certeza de, pelo menos, R$ 3 milhões em arrecadação, no jogo em Itaquera, contra o rival São Paulo.
Tudo isso conta a favor de Vanderlei.
Bastaram três vitórias seguidas, o vigésimo jogo.
O sofrimento sumiu e há sinais de confiança.
O treinador de 71 anos ganhou fôlego.
Na terça-feira já há a partida, com os reservas, contra o Universitario, no Peru.
O clima é pesado em Lima, pela detenção do preparador físico Sebastian Avellino, que fez gestos racistas contra torcedores corintianos que o xingavam, imitando macacos, na semana passada.
O jogo vale a classificação para as oitavas da Sul-Americana.
No sábado, em Salvador, o Bahia, pelo Brasileiro.
Mas os sorrisos de Luxa na coletiva deixavam claro.
Ele acredita que "o pior" já passou.
E depois de 15 demissões seguidas, ele terminará seu contrato até dezembro no Corinthians.
Mesmo não sendo Santos Dumont...
Não se surpreenda com quem é o 4º maior artilheiro do mundo, que está atrás de Messi e CR7
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