Trauma de Renato Gaúcho faz o Fluminense pagar caro. Em vez do Monterrey, pegará a Inter de Milão no Mundial. Castigo mais que merecido
Treinador jamais esqueceu a final da Libertadores que perdeu para a LDU, em 2008. Ele atacou no Equador e sofreu a goleada por 4 a 2. Depois, no Rio, seu time venceu. Mas deixou escapar o título nos pênaltis. Ontem se recusou a atacar o Mamelodi

Palmeiras e Botafogo.
Flamengo e Bayern de Munique.
O caminho dos três brasileiros no Mundial foi inevitável nas oitavas de final.
Eles lutaram para ganhar seus jogos.
Não o do Fluminense.
O time de Renato Gaúcho foi montado para se defender, segurar o 0 a 0 contra o fraco Mamelodi Sundowns, da África do Sul.
E, abrindo mão de buscar o gol, sua equipe conseguiu a vaga.
Foi feio, beirou o constrangimento.
Mas veio o castigo.
Se Renato permitisse que seu time fizesse o óbvio, diante de um adversário mais fraco, teria enormes chances de vencer.
E ficar com o primeiro lugar do grupo F, com direito a enfrentar o Monterrey, clube mexicano, com potencial muito menor do que a Inter de Milão, que terá pela frente, por ter sido o segundo colocado. Escolhido não buscar o gol, com medo de sofrer o gol e ser eliminado.
“Eles queriam garantir o empate em 0 a 0, e conseguiram. O Fluminense ficará em segundo porque também não se preocupou muito em terminar em primeiro.
“Alguns queriam e não podiam, outros podiam e não queriam.”
Foi dessa maneira que o jornal espanhol As resumiu a partida do Fluminense.
“Às vezes é melhor você sofrer e conseguir a classificação do que jogar bonito e perder a classificação.
A gente alcançou o que a gente veio buscar: a classificação para a próxima fase."
As frases são de Renato Gaúcho.
Foi ele quem escolheu o plano tático.
Diante dos sul-africanos, duas linhas baixas, no seu campo.
Nada de propor o jogo, se abrir.
4-5-1.

Canobbio e Arias, sem a bola, atuavam recuados, como volantes.
Só Cano isolado na frente.
A postura foi constrangedora.
O time só queria que o tempo passasse.
Marcando muito forte.
Como o Fluminense não marcou, em 2008, na primeira partida da final da Libertadores, contra os equatorianos da LDU.
Daquela partida, só um personagem era o mesmo que estava nos Estados Unidos: Renato Gaúcho.
Foi ele quem colocou o time carioca para atacar e foi goleado por 4 a 2. A revanche no Maracanã valeu a vitória por 3 a 1. Mas veio a eliminação nos pênaltis.
O time despencou no Brasileiro e, por um triz, não foi rebaixado.
Renato Gaúcho se assume traumatizado até hoje, 17 anos depois.
Por isso, jogos que valem classificação, ele não tem o menor pudor para colocar sua equipe para defender.
Aprendeu a ser pragmático.
Mas exagerou diante dos sul-africanos.
Permitiu que o Borussia chegasse em primeiro, depois da previsível vitória diante do Ulsan, da Coreia do Sul.
Enquanto isso, a Inter de Milão não quis saber de combinação de resultados, um hipotético empate em 2 a 2 contra o River Plate, classificaria os dois clubes.
O time italiano venceu por 2 a 0 e despachou o último argentino no Mundial. O Boca Juniors já havia sido eliminado.
A Inter se classificou em primeiro no grupo F.
E vai encarar o Fluminense.
O segundo, Monterrey, será o adversário do Borussia.
Renato Gaúcho mereceu este castigo.
Não adiantou sua postura de repassar aos jogadores a decisão por só se defender.
“A nossa concentração, o foco, o nosso trabalho, atingiu o máximo contra o Borussia. E deu no que deu. Fizemos uma grande partida, não demos muita chance ao nosso adversário, merecíamos inclusive ter ganho.
“E aí, de repente, na cabeça de alguns jogadores, num instante do grupo todo, achar que conseguimos uma bela atuação contra o time mais forte, teoricamente, da chave e agora aquele relaxamento é normal. E aí é que mora o perigo.”
Renato sabe que tem um grupo competitivo.
Sem estrelas midiáticas, de nível mundial.
Mas quis passar confiança para as oitavas.
“Não adianta você ter um time de R$ 400 milhões, R$ 500 milhões. O futebol é decidido dentro do campo e esse Mundial, volto a repetir, tem mostrado isso.”
O técnico insistiu que seus jogadores relaxaram.

Por isso o 0 a 0.
“Sabíamos que nós iríamos ter bastante dificuldade, uma equipe rápida, uma equipe que está acostumada a jogar com calor também. Demos um pouquinho de espaço no início do jogo, depois acertamos a marcação. E é lógico que, para você jogar contra uma equipe dessa, você precisa ter os cuidados defensivos também. E tivemos.
“No futebol, às vezes, se você jogar bonito e vencer, é ótimo, mas às vezes você precisa saber sofrer também um pouquinho. Então hoje a gente soube sofrer. Eles tiveram as duas oportunidades logo no início do jogo, depois a gente se comportou bem.”
Renato Gaúcho escolheu não admitir o que fez.
Defender para classificar.
Mas já está feito.
O Fluminense terá a Inter, de Milão.
Adversário muito mais forte que o Monterrey.
Mas, ao menos, ele escapou de outro trauma.
Ser eliminado na fase de grupos.
De um jeito pragmático, Renato estava certo.
Mas foi embaraçoso para a fiel torcida do Fluminense.
O clube com tanta tradição, um gigante defendendo como se fosse um pequeno.
Que Renato reverta essa imagem.
E surpreenda a todos contra os italianos.
Aqueles, vices da Champions...