Traído, despachado do Corinthians, Luxemburgo acreditou na promessa de ficar até dezembro. Mas vira sombra real no Santos
O treinador de 71 anos acreditou na promessa do presidente Duilio Monteiro Alves de que o manteria até dezembro. Duilio não suportou a pressão pela demissão. Mesmo assim, Luxa volta ao mercado. O Santos já o cobiça
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
Vanderlei Luxemburgo foi traído.
Essa foi a sensação com que o treinador ficou ao ser mandado embora ontem.
Ele tinha a promessa do presidente Duilio Monteiro Alves de que ficaria até o final de seu contrato, em dezembro.
Terminaria o ano. Luxa apostava que, mesmo com seus métodos antiquados, como dar coletivos improdutivos, não levando em conta os detalhes dos adversários; não se submeter às análises de desempenho; lançar e depois tirar jovens atletas, sem critérios; não compreender a fundo os problemas físicos dos veteranos fundamentais ao time, como Renato Augusto, Gil, Fagner, Fábio Santos.
O mais velho treinador da história a comandar o Corinthians, com 71 anos, apostou no seu passado brilhante, e distante, quando deu o Brasileiro de 1998 ao clube e saiu para assumir a seleção brasileira. E mesmo em 2001, quando venceu o Paulista.
Decidiu fazer um acordo. Ficaria calado diante da venda de jogadores importantes, como Róger Guedes, Murillo e Adson. Acelerou, como a diretoria queria, a saída de Du Queiroz, Balbuena, Barletta e Junior Moraes. Não implorou por reforços.
Ele lançou jogadores como Murillo, Gabriel Moscardo, Ruan Oliveira, Matheus Araújo, Guilherme Biro, Wesley e Felipe Augusto, entre outros.
Ou seja, fez o jogo da diretoria.

Luxemburgo conversou várias vezes com Duilio Monteiro Alves e com o gerente, o ex-lateral Alessandro Nunes. Foi bem claro ao dizer que não via outra saída para o Corinthians sobreviver em 2023 a não ser montar esquemas defensivos.
Ou seja, nada do que aconteceu em campo, com o time mostrando esquemas acovardados, mesmo em Itaquera, foi por acaso.
Só que Luxemburgo mesmo começou a minar seu trabalho.
Suas coletivas patéticas, tentando negar o óbvio. Fazendo afirmações chulas. Piadas sexistas, que faziam sucesso nos anos 1990, foram vistas com desprezo pelos jornalistas.
Um exemplo lamentável para um técnico do Corinthians.
"A motivação é que eu tô com ela apontada para o céu. Você não quer ver ela, né?", disse, comparando a motivação com excitação sexual.

E outras frases sem sentido, que acabavam sendo ridicularizadas pela mídia.
"Eu consegui fazer um trabalho que não é tático, que é um pouco tático, que não é técnico, mas é um pouco técnico, não é físico, mas o mais importante é que consegui trazer o time de uma derrota por 3 a 0 para ter condições para jogar um clássico com condições de poder ganhar, empatar ou até perder."
"Atitude é fundamental na vida. Se tiver dois banheiros na sua casa e tiver dúvida, vai fazer na calça. Tem que tomar atitude de ir ao banheiro, se fizer nas calças nunca mais vai errar."
O que era piada para ele, na verdade, foi puro constrangimento para Duilio. Os líderes das organizadas deixaram de apoiá-lo, diante do futebol covarde do Corinthians.
Há uma eleição em novembro. O candidato da situação, André Oliveira, que gosta de ser chamado de André Negão, avisou Duilio e Andrés Sanchez, o mentor do grupo, que não queria Luxemburgo em 2024. De "jeito nenhum". O candidato da oposição, Augusto Mello, também já havia fechado as portas para o septuagenário.
A torcida corintiana passou a xingar Luxemburgo no final das partidas.
Conselheiros pediam, ameaçavam retirar o apoio, desabafavam com Duilio e queriam a saída imediata de Luxa.
Os jogadores perceberam que eram comandados por um técnico sem apoio da diretoria, do departamento fisiológico, detestado pela torcida, ironizado pela mídia e que seria despachado assim que terminasse a temporada.

Mesmo assim, Luxemburgo acreditava na palavra de Duilio.
Até que foi mandado embora ontem.
Para nunca mais voltar ao Corinthians.
Apesar disso, o clube foi importante para o técnico, que ficou desempregado de dezembro de 2021 até maio de 2023.
Luxa acreditava que não teria mais espaço no futebol. Tanto que tentou ser candidato a senador por Tocantis. Mas não teve legenda para concorrer.
Vanderlei é um dos donos da cachaçaria Brejo dos Bois e de um condomínio em Arapiraca, com o singelo nome de Residencial Luxemburgo. Possui também uma retransmissora de tevê, em Tocantins.
Só que a passagem pelo Corinthians deverá mantê-lo no futebol.
Ele se tornou, a partir de ontem, uma sombra real no Santos Futebol Clube.
O presidente Andrés Rueda e o coordenador Alexandre Gallo enxergam no técnico um motivador, alguém capaz de "incendiar" o Santos para tentar fazer o clube escapar do rebaixamento no Brasileiro.
O Comitê Gestor, que dá a palavra final em relação aos treinadores, barrou Vanderlei em setembro de 2022. Mas há consenso sobre ele, um ano depois: fez um trabalho aceitável no Corinthians, para as pretensões do Santos.

Classificou o rival a duas semifinais: Copa do Brasil e Sul-Americana. E ainda deixou o clube na metade da tabela no Brasileiro, em 11º, o que seria fantástico para o atual momento santista.
Dependendo do que acontecer no domingo, na partida importantíssima entre Santos e Vasco, na Vila Belmiro, o interino Marcelo Fernandes pode perder o cargo.
E Luxa ter direito a uma quarta passagem pelo Santos.
Seria uma compensação pela traição no Corinthians...
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