Tite jura que vai embora depois da Copa do Catar. CBF analisará estrangeiros a partir de 2023
Tite confirmou que não seguirá 'de jeito algum' na seleção brasileira depois da Copa. Ele não tem apoio para prosseguir. Caboclo foi afastado por assédio sexual. Estrangeiros serão estudados para o cargo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Por décadas de parceria, e de monopólio no futebol, a TV Globo costuma ser a "casa da CBF" para as grandes revelações.
Convocações, furos que envolvem a seleção sempre foram costumeiros.
Por política de boa vizinhança dos diversos presidentes que passaram pela entidade. Inclusive alguns banidos. E até o presidiário José Maria Marin.
Sempre foi cena comum, nas Copas do Mundo, treinadores, depois de coletivas, conversarem apenas com representantes da emissora carioca.
Com alguns técnicos era escancarado, como os cafés de Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari nas concentrações. Com Tite, menos. Ele espera os programas da emissora.
E, hoje, o treinador acaba de jurar o que ele deixava no ar desde o fracasso na Copa do Mundo da Rússia, em 2020. Após o Mundial do Catar, ele não treinará mais a seleção brasileira, vencendo ou perdendo.
"Vou até o fim do Mundial. Não tenho por que mentir aqui", acaba de confirmar no canal fechado da emissora carioca.
"Venci tudo na minha carreira, só me falta o Mundial", destacou o treinador, buscando valorizar-se.
Na verdade, Tite sabe que é enorme a pressão na cúpula da CBF para que a seleção brasileira masculina siga o exemplo da seleção brasileira feminina, que tem como técnica a sueca Pia Sundhage.
Ela foi contratada para modernizar taticamente o time de Marta.
A CBF, ontem, confirmou os 41 meses de afastamento do presidente Rogério Caboclo por causa da acusação de assédio sexual e moral. Caboclo era o último defensor ferrenho de Tite na direção da entidade.
A pressão para que um técnico estrangeiro de ponta assuma o Brasil, após o Mundial deste ano, nunca foi tão grande. O presidente Ednaldo Rodrigues Gomes só não troca Tite agora porque todo o trabalho já está traçado para a Copa do Mundo.
O treinador gaúcho sabe que não há o menor clima para que continue no comando do Brasil.
Vários fatores abalaram o apoio que ele tinha para exercer o cargo.
A proteção absurda a Neymar.
A insistência com jogadores que são seus "protegidos", como Gabriel Jesus, Philippe Coutinho, Daniel Alves, Thiago Silva, Fred, Firmino.
Os fracassos na Copa do Mundo da Rússia, na Copa América de 2021, em pleno Maracanã.
Colocar seu filho, sem experiência alguma, como auxiliar técnico da seleção.
Proteger-se com o outro auxiliar, Cleber Xavier, nas entrevistas, situação absurda, com o auxiliar muitas vezes respondendo aos questionamentos mais duros, mais profundos da seleção.
O deprezo de Tite a jogadores importantes do futebol brasileiro, como Dudu, Raphael Veiga, mesmo Gabigol, sem sequência verdadeira na seleção, também pesa, e muito, contra sua permanência.
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O lado favorável do treinador foi sua obediência à hierarquia. Como não criticar os amistosos mais sem sentido que eram impostos por Pitch e ISL, donos dos jogos entre 2012 e 2022. Tite aceitava.
Como a CBF permitir que a única família hospedada no hotel da seleção que disputava a Copa de 2018 fosse a de Neymar. Lá estava o técnico buscando justificativas.
E também aceitar, passivo, a falta de intercâmbio, de amistosos contra as seleções europeias, mais desenvolvidas na distribuição de jogadores no campo que o Brasil.
Taticamente, Tite segue perdido.
Mesmo tendo quatro anos para seguir na seleção, desde o fracasso diante da Bélgica, em 2018, ele ainda não definiu o Brasil do meio para a frente. Se ataca com três, com dois jogadores. Se coloca um meio-campista marcador ou dois. As laterais também são um mistério. Situações bizarras para o país pentacampeão do mundo, que está há 20 anos sem título.
Além de garantir que não ficará mais na seleção brasileira, depois da Copa do Catar, ele deixou antever que o amistoso contra a Inglaterra, no meio do campo, pode não acontecer. E que não está satisfeito por ter de jogar outra vez com a Argentina pelas Eliminatórias, depois da escandalosa partida interrompida em setembro de 2021 com a invasão do gramado do estádio do Corinthians por técnicos da Anvisa.
Aliás, o clube do Parque São Jorge pode ser seu destino após a seleção.
O contrato do português Vitor Pereira só vai até dezembro, mês em que Tite deixará o comando do Brasil. O presidente Duilio Monteiro Alves é fã do técnico. E Roberto de Andrade, o diretor de futebol, tem uma relação muito próxima, são grandes amigos.
Grande parte da direção do Palmeiras tem admiração por Tite. Se Abel Ferreira não quiser seguir no clube, o técnico será uma das opções para 2023.
Ou seja, Tite não ficará desempregado ao sair da seleção após a Copa do Catar.
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